Foi durante uma conversa com um Yaô.
Se tem coisa que gosto de fazer é conversar com Yaô e Abiã, desvirtuo todos, sou meio subversivo para essas questões de educação, gosto de questionamentos.
Durante essa conversa com um Yaô eu fiz várias perguntas, coisas do tipo: Como está sua casa? Os móveis te agradam, as cores estão de acordo com seu gosto? E sua vida pessoal, você é feliz com seu parceiro? Com sua profissão? Está estudando no momento? O Yaô me olhou como se estivesse diante de um louco, e me perguntou, por que eu estava lhe perguntando aquelas coisas se isso não faz parte da educação religiosa? Minha resposta foi.
Se você não está completa em algum destes itens, por favor, levante-se e vá resolver, não fique aqui pensando que religião vai resolver para você o que de fato é problema seu. A religião pode te ajudar indicando o caminho, e até uma boa limpeza e equilíbrio espiritual podem te fazer um grande bem, mas da sua vida quem cuida é você.
Vejo que muitas pessoas procuram uma tecla em sua vida chamada “control facilidade” ou “shifit tudo pronto” isso não existe, não há passes de mágica na vida, a vida é real, dura e difícil para quem não deseja lutar por seus objectivos.
Muitas pessoas procuram o Candomblé com a sensação de que dentro de uma Casa de Orixá ela vai encontrar solução para o problema que ela própria criou em sua vida, que a solução é simplesmente fazer um ebó ou uma oferenda.
Esses ainda não entenderam que precisam de esforço e de trabalho para conseguir o que desejam.
Os Orixás ajudam, isto é certo, mas sem sua própria colaboração sua vida pára, tudo acaba, fica sem cor.
E em inúmeras vezes acabam vítimas de pessoas menos habilitadas que se aproveitam de sua fraqueza. Neste ponto começa meu questionamento e sempre pergunto ao Yaô. Devemos viver “Para o Candomblé”, “De Candomblé” ou “O Candomblé”?. Cada uma destas perguntas leva a pensamentos diferentes e visões de mundo diferentes.
Minhas visões de mundo. Não sou nem quero ser ditador de normas, apenas exponho minhas ideias, meu modo de pensar a religião.
Viver Para O Candomblé – A pessoa tem a vida resumida a religião, pensa e vive a religião, se dedica ao culto como se isso fosse sua tábua de salvação. Geralmente acabam cobrando dos outros a mesma dedicação ou submissão que eles tem com a religião, se tornam na maioria das vezes pequenos tiranos, impondo suas normas e desejos. O fazem não por consciência, mas por acharem que essa é a única forma de viver na religião, dedicação exclusiva e integral. Geralmente tem problemas com os membros da comunidade que tem uma vida fora da religião com filhos, companheiros, trabalho, estudos, enfim, vida social.
Viver De Candomblé – Qualquer mercador seja ele comerciante ou “Zelador mercantilista” pode viver de Candomblé desde que tenham como finalidade única o ganho financeiro nesta relação. (A diferença é que mercador/lojista tem uma finalidade clara e necessária, vender mercadorias, já o “Zelador mercantilista” nem sempre). Nestes casos os desavisados que procuram a tal tecla “control facilidade” devem ter muito cuidado, pois são alvos fáceis para o mercador de ilusões. E são banhos, Boris e oferendas de todo tipo – quase sempre dispendiosas e desnecessárias. O “Zelador mercantilista” é um tipo que tem se proliferado e causado danos a religião, que na sua maioria é formada por pessoas honradas e de bom coração. Viver De Candomblé, é possível e muitas vezes necessário ao desempenho de tantas funções que demandam a presença constante do Zelador na Casa de Orixá, porém com respeito a religião e as pessoas.
Viver O Candomblé – Viver O Candomblé se diferencia de viver DE Candomblé quando as pessoas têm a consciência do seu papel social e sacerdotal dentro da comunidade. Nesta lista estão as pessoas que conseguem diferenciar o Candomblé das suas obrigações diárias, das suas necessidades financeiras e de tudo mais que faz parte das necessidades da pessoa. Não utilizam a religião para ganhos pessoais e não fazem ebós e oferendas desnecessárias. Estes encontraram o caminho do equilíbrio e vivem de acordo com os preceitos básicos da religião. O Candomblé assim como toda religião tem necessidade de dinheiro para se manter, mas ele não é a mola propulsora desta relação. Viver assim não é fácil, o aprendizado é longo e diário e é um grande compromisso na vida religiosa.
Aos Yaôs com os quais tive a honra de conversar eu fiz meu alerta e cabe a eles encontrarem seus caminhos, que podem não ser nenhum dos que citei, afinal são minhas ideias e minhas visões de mundo, que são diferentes das suas que está me lendo, avaliando minhas visões de mundo e criticando bem ou mau, concordando ou não.
Mas o que peço aos mais velhos de nossa religião é que mostrem aos mais novos de suas Casas as suas visões de mundo e suas ideias, os valores do Candomblé e a hierarquia, as regras e principalmente os orientem, conversem com seus irmãos, os protejam. Façam sua parte de mais velho.
Tomeje do Ogum
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