Como já foi explicado no artigo sobre Imortalidade, o processo de evolução espiritual é exercitado seguindo diversos ciclos de àtúnwá.
A cada novo ciclo o indivíduo experimenta novas vivências com o intuito de trilhar a construção do “bom caráter”, que é o tema principal da filosofia de Ifá.
E é através desse processo que temos a oportunidade e o dever de melhorar nosso interior e isso ocorre mediante a interação com as forças espirituais que mantêm a vida na Terra e também com o convívio com outros indivíduos.
Ifá ensina que antes do inicio de um ciclo de àtúnwá o Individuo, com a assistência do plano espiritual, escolhe um conjunto de eventos que deverão ocorrer no plano físico com o propósito de balizar a nova jornada e propiciar a Evolução.
Alguns sistemas religiosos ensinam que o Indivíduo reencarna com seu destino totalmente traçado.
Outros, no entanto, dizem que o destino é regido unicamente por leis de “causa e efeito”, ou seja, que nossas atitudes regem o nosso futuro.
Segundo Ifá, o nosso caminhar é regido por um conceito que une as duas teorias.
Antes do reencarne cada Indivíduo se apresenta ao Criador e realiza um acordo.
Este acordo consiste em escolher um Destino balizador, para isso, temos que ir à casa de Àjàlá-Mòpí (Divindade responsável por construir o Orí-Odù ou seja o Destino abstrato.).
A palavra Orí significa cabeça.
Porém, temos que ponderar que no idioma Yorùbá uma palavra possui diversos significados e seu sentido muda de acordo com o contexto.
O conceito de Orí reuni os elementos que formam uma pessoa e é no Orí que está a sede da consciência.
O conceito de Orí é muito amplo, ele possui diversas partes ou elementos que iremos analisar no decorrer das postagens.
Por esta razão algumas pessoas acreditam que Àjàlá-Mòpí é responsável por modelar a cabeça física e não é bem isso: Ele molda os elementos do destino em um objeto que pode ser descrito como uma esfera (em alusão ao símbolo religioso da Cabaça) que simboliza um campo de proteção para os elementos que estão contidos nela.
De acordo com os ensinamentos de Ifá, na casa de Àjàlá-Mòpí estão disponíveis muitos Destinos, mais especificamente Orí-Odù.
O Individuo, para ter sucesso na sua nova jornada, precisa escolher um Destino que lhe permita exercer sua capacidade ao máximo.
Segundo alguns relatos esta escolha seria feita de forma aleatória e deixando ao acaso uma decisão tão importante.
No meu entender, isto não é verdade. Porque contraria o conceito básico da crença em Ifá referente à Evolução: tudo precisa evoluir e se a pessoa executar uma má escolha irá atrapalhar o seu desenvolvimento.
Além disso, contraria também a crença da construção do bom caráter, ou seja, uma pessoa que já formou uma bagagem espiritual boa não pode ser sentenciada a uma vida de sofrimentos pela escolha de um Destino ruim.
Outro ponto muito importante a ser ressaltado é que Ifá ensina que apesar de possuirmos individualidade, todos os seres vivos estão inter-relacionados, ou em outras palavras, nós fazemos parte do Todo.
Sendo assim, o destino de uma pessoa influencia o destino de outras.
Este é um fato concreto. Por isso uma escolha ruim irá atrapalhar o destino coletivo.
No meu entender e seguindo os ensinamentos de Ifá, a escolha do Destino é feita com o objetivo de dar ao individuo plenas condições de estimular a sua Evolução. Para isso o plano espiritual irá orientar essa escolha.
Além da escolha existe também o acordo feito com Olódùmarè com a finalidade de potencializar o novo ciclo de àtúnwá.
Isso não quer dizer que todas as pessoas vêm ao plano físico destinadas a serem felizes; muitas vezes é exatamente o contrário que ocorre.
As dificuldades vivenciadas atualmente são resultados das ações pretéritas certamente, mas também podem ser escolhas feitas para impulsionar a Evolução no ciclo de àtúnwá.
A partir do momento que esse ponto está resolvido, o Indivíduo vai para sua jornada de volta à vida física.
Durante todo o processo da gestação e do nascimento, a lembrança do acordo é esquecida, visto que, a cada novo ciclo de àtúnwá o Individuo recebe uma nova memória.
Conseguir estar em harmonia com o destino individual é chave para o sucesso e para receber as benções de vida longa, paz, prosperidade, saúde e descendência.
Essa não é uma tarefa fácil, já que há todo momento estamos enfrentando a difícil decisão de fazer as escolhas certas.
De nada adianta a pessoa escolher ser escultor nesta vida e durante o processo ela acaba estudando medicina, com certeza, ela será um médico limitado ou frustrado, pois o seu Orí não veio dotado das capacidades necessárias para tanto.
Isso parece contrário ao conceito de escolha do destino, mas não é.
A lei máxima do Universo é a liberdade de ação e escolha.
Sendo assim, nós podemos mudar o destino escolhido para melhor ou para pior.
Aqui entram em ação as leis que controlam as ações de todos os seres vivos.
De todo modo o potencial intelectual humano permite que ultrapassemos nossos limites.
É claro que algumas situações são extremamente limitantes, mas nunca são impeditivas ao um ponto definitivo.
Neste aspecto, a orientação da Divindade é fundamental para encontrar caminhos alternativos ou ainda para ajudar a alinhar nossas ações ao caminho previamente escolhido.
Ifá ensina que o destino é composto de três partes: a primeira é o que não pode ser mudado (um bom exemplo é o dia marcado para o desencarne, ele pode ser antecipado, mas dificilmente adiado senão por força da própria Divindade).
A segunda parte é aquilo que deverá acontecer (o destino escolhido), mas que ainda poderá ser modificado parcialmente de acordo com as escolhas.
A última parte é o que estamos realizando (com as nossas ações e escolhas atuais).
O compromisso sincero de moderar as ações direcionando nossa vida como um todo para o crescimento moral e espiritual é a chave para encontrarmos a felicidade interior e com isso refazermos a nossa ligação com a Essência Primordial que nos criou. Assim ensina Ifá.
Àse. Bàbáláwo Ifádámiláre Agbole Obemo.
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