Atualmente observamos um aumento desenfreado do número de casas de Candomblé.
Segundo relatos de antigos, não era comum que todos os iniciados de um barco ou de uma casa ao completarem sua iniciação, após a obrigação de sete anos (Odun Ejé), abrissem outro barracão.
A maioria não possuía o cargo de Iyálorisá/Babalorisá e permanecia em sua roça, ocupando postos como egbomi, Iyá kekere, Iyá Efun, entre outros.
Às vezes, era comum que no caso de iniciarem alguém o fizessem na própria casa em que foram iniciados.
Nas casas de Jeje, de Tradição Mahi era comum se dizer: Casa de Jeje têm várias mães. Isso porque poderiam existir diversos barcos de vodunsis diferentes no mesmo espaço religioso.
Podemos concluir que essa prática era de extrema importância para a manutenção da Tradição e dos costumes compartilhados pelos membros dessas comunidades (egbé), pois permitia a constante troca de costumes e saberes nesses grupos.
Pode-se afirmar que isso tornava a religião do Candomblé extremamente sustentável, sob o ponto de vista de utilização dos espaços e recursos naturais, como cachoeiras e matas, fundamentais para o culto das divindades africanas.
Como existiam poucas casas, a produção de resíduos dispensados no meio ambiente pelas mesmas era bem menor.
Com o processo da urbanização e afastamento das casas matriz o Candomblé vai perdendo bastante de sua identidade.
Os espaços naturais (Ilé Igbó) nos terreiros vão ficando cada vez menores, muitas vezes até inexistentes.
As grandes árvores, que antes eram objeto de culto, deixam de estarem presentes e seus fundamentos vão sendo esquecidos.
Podemos citar o exemplo de inúmeras casas Jeje Mahi do Rio de Janeiro, que ainda apresentam alguns voduns como Legba, Gun, Ague e Bessen em espaços externos do terreiro, segundo a linguagem do povo de santo, “no tempo”.
Esses voduns apresentam seus assentamentos aparentes, em áreas em que o solo foi impermeabilizado (cimentado), podendo ser facilmente identificados.
Eles ainda são chamados de atin, o que na verdade é uma lembrança das grandes árvores que serviriam de morada para os mesmos, onde frequentemente eram enterrados sob suas raízes.
Até que ponto o processo de modernização do Candomblé permitirá que essa religião mantenha suas raízes e continue sendo uma forma sustentável de manutenção do legado deixado por nossos ancestrais negros, que tanto lutaram e sofreram para preservar essa antiga Tradição?
TEXTO ESCRITO POR JONATAS GUNFAREMIM
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