Destinados a todos com uma proposta antropológica em manter em sua essência pura o culto aos Orixás...
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Culto aos eguns
Os textos litúrgicos aqui apresentados fazem parte do jogo de Ifá, no qual. seu senhor e oráculo, a divindade Orunmilá, nos ensina mitos e tradições que foram mantidos através do próprio jogo.
Esses conhecimentos, transmitidos a todos oralmente, hoje se tornaram verdadeiras escrituras sagradas .
Através deles entendemos o porquê de certos ritos e preceitos usados e conservados no dia-a-dia dos cultos.
Vários textos explicam o mesmo fato ou se complementam, e às vezes de forma diferente e aparentemente contraditória; mas isto é reflexo de se terem originado em diferentes regiões.
De uma forma ou de outra, porém, chegam aos mesmos fundamentais conceitos religiosos.
Atualmente, vários pesquisadores já registraram em livros as lendas colhidas oralmente entre os iniciados.
- Os mortos do sexo feminino são chamados de Ìyámi Agba (minha mãe anciã) e cultuado como uma energia ancestral coletiva, representada por Ìyámi Oxorongá. -
ORIGENS
"De quatro em quatro dias (uma semana iorubana), Iku (a Morte) vinha à cidade de Ilê-Ifé munida de um cajado (opá iku) e matava indiscriminadamente as pessoas. Nem mesmo os Orixás podiam com Iku.
"Um cidadão chamado Ameiyegun prometeu salvar as pessoas. Para tal, confeccionou uma roupa feita com várias tiras de pano, em diversas cores, que escondia todas as partes do seu corpo, inclusive a própria cabeça, e fez sacrifícios apropriados. No dia em que a Morte apareceu, ele e seus familiares vestiram as tais roupas e se esconderam no mercado.
"Quando a Morte chegou, eles apareceram pulando, correndo e gritando com vozes inumanas, e ela, apavorada, fugiu deixando cair seu cajado. Desde então a Morte deixou de atacar os habitantes de Ifé.
"Os babalawos (adivinhos e sacerdotes de Orunmilá) disseram a Ameiyegun que ele e seus familiares deveriam adorar e cultuar os mortos por todas as suas gerações, lembrando como eles venceram a Morte."
Egun é a terminação do nome de Ameiyegun, e é como hoje são conhecidos os ancestrais do seu clã (Egun ou Egungun). É a vitória da vida pós-morte: como no mito em que a vida venceu a morte, da mesma forma os Eguns se apresentam, hoje, cobertos de panos e portando um cajado.
ORIGEM DOS OIÊ MASCULINOS
"Havia na cidade do Oyó um fazendeiro chamado Alapini, que tinha três filhos chamados Ojéwuni, Ojésamni e Ojérinlo. Um dia Alapini foi viajar e deixou recomendações aos filhos para que colhessem os inhames e os armazenassem, mas que não comessem um tipo especial de inhame chamado ‘ihobia’, pois ele deixava as pessoas com uma terrível sede. Seus filhos ignoraram o aviso e o comeram em demasia. Depois, beberam muita água e, um a um, acabaram todos morrendo.
"Quando Alapini retornou, encontrou a desgraça em sua casa. Desesperado, correu ao babalawô, que jogou Ifá para ele. O sacerdote disse que ele se acalmasse, e que após o l7º dia fosse ao ribeirão do bosque e executasse o ritual que foi prescrito no jogo. Ele deveria escolher um galho da árvore sagrada atori e fazer um bastão (assim é feito o ixan). Na margem do ribeirão, deveria bater com o bastão na terra e chamar pelos nomes dos seus filhos, que na terceira vez eles apareceriam. Mas ele também não poderia esquecer de antes fazer certos sacrifícios e oferendas.
"Assim ele o fez; seus filhos apareceram. Mas eles tinham rostos e corpos estranhos; era então preciso cobri-los para que as pessoas pudessem vê-los sem se assustarem. Pediu que seus filhos ficassem na floresta e voltou à cidade. Contou o fato ao povo, e as pessoas fizeram roupas para ele vestir seus filhos.
"Deste dia em diante ele poderia ver e mostrar seus filhos a outras pessoas; as belas roupas que eles ganharam escondiam perfeitamente sua condição de mortos. Alapini e seus filhos fizeram um pacto: em um buraco feito na terra pelo seu pai (ojubô), no mesmo local do primeiro encontro (igbo igbalé), ali seriam feitas as oferendas e os sacrifícios e guardadas as roupas, para que eles as vestissem quando o pai os chamasse através do ritual do bastão.
"Seguindo o pacto e as instruções do babalawo, de que sempre que os filhos morressem fosse realizado o ritual após o l7º dia, pais e filhos para sempre se encontraram. E, para os filhos que ainda não tiverem roupas, é só pedir às pessoas que elas as farão com imenso prazer.
Esta lenda, rica em detalhes, nos explica vários ritos e títulos utilizados no culto.
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