CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Eleni e Ajogun



Os Iorubás denominam Elénìnìí como a Divindade do Infortúnio, que tem como principal função neste mundo, colocar obstáculos às oportunidades de sucesso dos seres humanos.

Embora considerada a mais velha divindade do òrún, Elénìnìí decodificou os segredos do Obí, noz-de-kola, fazendo com que aqueles que desrespeitarem ou desconsiderarem as mensagens do jogo-de-kola, estejam sob suas sanções.

O seres malévolos são conhecidos coletivamente como Ajogun, Guerreiros contra os Homens, que segundo a tradição, abrange os:

 Òfò ( Prejuízos), 

Ègbà( Paralisia), 

Èjò (Problemas), 

Èpè (Maldição), 

Èwòn (Prisão), 

Èse , qualquer outro malefício que possa afetar os seres humanos, entre outras energias maléficas. 

Entre os Inimigos dos Homens estão também as Àjé (Feiticeiras) e os Osó (feiticeiros), que utilizam seus poderes para fins maléficos.

Dentro da Cultura Iorubá, acrescenta-se ainda a esse hall, Àrùn (a doença) eÌkú (a Morte), mas a morte pré-matura e não a morte natural.

Alguns mitos relatam Àrùn como a esposa de Ìkú, e que através deles nasceram todas as enfermidades existentes no mundo, que conseguiram escapar do mundo sobrenatural.

Muitos de seus filhos ainda se mantém enclausurados no òrún, esperando umaoportunidade para se estabelecer no àiyé.

A fim de mantê-los afastados de nossas vidas, se faz necessário combiná-los harmonicamente com os poderes sobrenaturais bons, que são obtidos e fortalecidos através das oferendas e dos sacrifícios às divindades que prestamos culto, sobre tudo, os Ritos de Orí.

Kó má Ìkú

Kó má Àrùn

Kó má s'ejo

Kó má s'òfò

Kó má s'egba

Kó má s'èpè

Kó má s'èwon

Kó má ibi gbogbo Àarin dede wa wúre

Kóribe Kose Àse 

Nada de Morte 

Nada de Doenças 

Nada de problemas 

Nada de perdas 

Nada de paralisias 

Nada de maldições 

Nada de aprisionamento 

Nenhum tipo de maldade

Entre todos nós



Ajogun – Aqueles Que Lutam Contra A Humanidade



À primeira vista, muitos se apavoram em saber da existência de espíritos malignos que podem nos prejudicar. É fato que eles atrapalham a vida das pessoas, mas na concepção Yorùbá, esses espíritos fazem com que exista o equilíbrio natural, a simetria entre mundos e poderes. 

Isso é evidenciado, por exemplo, no jogo do Obì, no qual existe uma caída que reflete a harmonia perfeita, na qual duas faces internas do Obì caem voltadas para baixo e duas para cima, sendo que os sexos dos gomos do Obì caem divididos para baixo e para cima harmoniosamente. Na cultura dos Òrìsàs essa caída representa a simetria perfeita, pois o negativo e positivo estão em consonância, bem como o feminino e masculino.

Dessa forma, embora malignos e terríveis, a existência dos Ajogun motiva as energias positivas a circularem no mundo. Essas energias positivas são estimuladas por meio dos sacrifícios (Ebó) que são prescritos por Sacerdotes, que o revelam por meio do oráculo.

Os Ajogun são forças muito negativas, que tem como objetivo causar doenças, acidentes, brigas, discórdias. Por isso, quando há sacrifícios, é comum cantarmos pedindo para que a água (elemento mais puro e imagebenéfico que existe) cubra e mate as discórdias (bomi pa ejo), cubra e mate as doenças (bomi pa arun), cubra e mate as maldições (bomi pa epe), etc. Em verdade, estamos pedindo para que a água cubra e mate os poderes malignos do mundo, os Ajogun.

Diferente das Divindades que moram nos espaços do Orùn, regressando ao aye por meio da manifestação, os Ajogun moram no Aye e não no orùn. Isso acontece, pois os Ajogun não conseguiram causar males no mundo dos Deuses. Ou seja, os Ajogun moram no aye, pois aqui, diferente do orùn, eles conseguem espalhar os males de forma indiscriminada.

Os Ajogun estão sempre à espreita, esperando um momento adequado para atuar. Por isso, é muito importante que as pessoas sempre se cuidem, por meio de oferendas, banhos e o que mais for necessário, conforme prescrição do Sacerdote.

Quando algo de ruim surge no mundo, por exemplo, uma nova doença, isso certamente foi motivado por Ajogun, entretanto, quando uma grande descoberta em benefício à sociedade surge, foi motivada pelas forças positivas que sempre prevaleceram, como os Òrìsàs.

Por diversas vezes, já discorremos sobre a importância da realização dos sacríficios prescritos, sobre a importância de não quebrar tabus (Ewó), uma das razões para termos falado bastante sobre esses temas, foi justamente para se entender que essas ações atacam os poderes dos Ajogun.

Quando, por exemplo, uma pessoa quebra um Ewó, ela está ajudando e dando forças ao Ajogun. O mesmo ocorre quando o sacerdote prescreve um sacrifício que é negligenciado, a pessoa está dando forças ao Ajogun.

Nós do Terreiro de Òsùmàrè, esperamos uma vez mais, ter contribuído para o esclarecimento dos temas relacionados a nossa crença.


ELENINI - O NOSSO GRANDE INIMIGO



OS CUIDADOS COM ESSA ENERGIA


Elenini (Ido-Boo) é o guardião da Câmara interna do Palácio divino de Eledumarè, aonde todos vamos nos ajoelhar para fazer os pedidos e juramentos para a nossa permanência no mundo. 

A grosso modo é o NEGATIVO de nosso ORI. 

Somente cultuando e propiciando ORI, poderemos combater ao ELENINI. 

Ele age nos motivando a fazer coisas erradas, para mostrar a Eledumare que não somos dignos de entrar no Palácio Sagrado. 

Esta é e função fundamental de Elenini. 

Espero os outros comentários. 

Ire o


FALAR DE ELENINI É FALAR DE UMA FORÇA QUE É TÃO ESPECIAL, MAS RARAMENTE É MENCIONADO, MAIS POR MEDO DO QUE RESPEITO...

Enfim, existem vários níveis de poder. 

E aqui está uma participação muito especial.

São "AJOGUN", incluindo a perda, morte, doença, etc.

Então encontramos outro conceito que chamamos "ELININI" e que em parte esta no nível dos "AJOGUN”.

Os Ajogun são as forças malignas e muitas vezes é simplesmente traduzido e citado como "inimigos da humanidade".

Mas como você pode expressá-las?

De muitas maneiras, mas vamos falar claramente de "ELININI”.

ELININI é uma força gerada e perpetuada pela natureza finita dos seres humanos.

Agora vislumbramos nestes conceitos um pouco diferente, porque é basicamente a idéia da nossa cultura tradicional.

Se olharmos para a perda, doença ou qualquer manifestação negativa, dependendo do que Ifá nos diz, então, podemos estar a olhar para as coisas feitas pelo homem, e podemos corrigi-los, se a pessoa o quer.

ELININI é um acúmulo de forças negativas, o que poderia ser definido como os budistas fazem quando se referem a "karma".

ELININI tem um impacto negativo severo que é gerado pelo pensamento negativo, nas pessoas negativas que estão incentivando esse estado, é gerado na mesma pessoa.

O sagrado ODU IFA-OBARA ÒKÀNRÀN declara nos seus ensinamentos que "as cinzas no rosto dos desafortunados."

ELININI e AJOGUN são as cinzas.

ELENINI é o inimigo, o falso testemunho e o adversário que está ao redor de uma pessoa. E Deus nos lembra, do incômodo, a desunião, a discordância, em suma, tudo negativo.

ELININI existe no físico e metafísico.

Mas é como o ar, sentir isso, está lá, mas não vêem, e quando ele chega, ou quando ele está deixando o caos, prejudicando a mente, desengonçada.

É ELENINI a divindade mitológica da desgraça e do obstáculo que foi enviado por Eledumare para aniquilar as divindades que manteve um Aye com mau comportamento Em parte, outros aspectos do ser interior da pessoa como depósito.

ELENINI, ocupando o cerebelo, a partir do qual executa ações contrárias à verdadeira vontade do homem. ELENINI faz agir erradamente, com ações malignas atribuídas a ele ou com associações do mal.

Mas não é nenhum Orisa que você adora, porque é baseado no desconhecimento.

Em outros testes, juntamente ELENINI representa a totalidade ou Ayew Ibis, ou seja, todas as forças negativas ou mal.

ELENINI não é Seu.

ELE É O GUARDIÃO DO SALÃO PRINCIPAL DE ELEDUMARE.

Seria, a grosso modo, como um “leão de chácara”, que existe para mostrar que você não pode entrar nesse salão da DIVINDADE maior, por ser impuro, desregrado, promiscuo, sem ética e sem moral.

Ele atrai você para armadilhas, para realizar atos maldosos, perder totalmente a sua noção de dignidade, e assim mostrar que nós não podemos partilhar do sagrado.

E assim, retornar a reencarnar tantas vezes quanto necessárias para cumprir nossos objetivos de CARÁTER.

Por isso que IWÁ é uma das coisas mais sagradas para o Yorubá.

ORI E ELININI residem no cérebro e outro no cerebelo, respectivamente.
TAMBÉM SUGERE QUE APENAS ORI TEM A FORÇA PARA SUPERAR OU CONTROLAR ELININI E IMPEDIR A SUA INFLUÊNCIA E TOMAR A PESSOA POR UMA ROTA DIFERENTE ESCOLHIDO ANTES DO NASCIMENTO.

ELENINI não recebem culto na Nigéria ou em qualquer outro lugar.

Porque sós e combate a ELENINI cultuando ORI, e “praticando” o bom caráter.
Portanto, não são as OFERENDAS de qualquer tipo que anula a ação de ELENINI.

UMA DAS SOLUÇÕES É EVITAR INDIVÍDUOS QUE TENHAM OU SOFRAM DESTE ATAQUE PARA NÃO ASSUMIR SUAS POSIÇÕES.

ELININI pode ser detectado precocemente, pode ser tratado, mas não curado.

SE O ELININI ENTRA NA FASE FINAL, OU SEJA, NO SOBRENATURAL, ENTÃO A PESSOA ESTÁ EM APUROS.

ELININI é muito democrático, por não discriminar nenhuma pessoa ou posição. O sinal de sua presença é invisível, especialmente para os não iniciados, torna-se um estigma.

Os membros da família, especialmente os amigos mais próximos podemos ser os portadores do mal, sem estar consciente disso.
ELININI falseia os fatos, e quando a pessoa percebe é tarde demais. 

A pessoa começa a perceber o que está acontecendo, mas é impotente.

Não haverá intercessão mística, e a qualquer momento a pessoa pode estar morto, no pior caso, porque caso contrário, será condenado a um inferno pessoal marcado pela derrota, fracasso e ostracismo.

NA MAIORIA DAS VEZES SÃO QUESTÕES DE SEGUNDOS QUE NOS FAZEM SER MAUS.

VIDE OS CASOS RECENTES DOS “NARDONE”, OU O MAIS RECENTE, O RAPAZ “LINDEMBERG”.

E TODOS OS DIAS TEMOS ACESSO A CASOS DOS MAIS ESTAPAFÚRDIOS E HORRENDOS QUE OCORREM:

FILHOS MATANDO PAIS, AVÓS, ESTUPROS DE CRIANÇAS, E EM SUA GRANDE PARTE, POR PESSOAS SEM NENHUM ANTECEDENTE CRIMINAL.

Mas agora com os avanços da ciência ELININI está centrada em certos tipos de transtorno mental, doenças ou síndromes mentais e comportamentais, ao contrário de pessoas que gozam de uma boa saúde mental.

Em geral, causam sofrimento e prejuízo em importantes áreas do funcionamento mental, afetando o equilíbrio emocional, o desempenho intelectual e ajustamento social.

Através da história e das culturas têm descrito diferentes tipos de transtornos, apesar da imprecisão e as dificuldades de definição.
Ao longo da história, e até tempos relativamente recentes, a loucura não era considerada uma doença, mas uma questão moral, o fim da depravação humana, ou maldição e casos espirituais ou possessão demoníaca.

Após um início tímido, no século XVI e XVII, a psiquiatria passou a ser uma ciência respeitável em 1790, quando Philippe Pinel médico parisiense decidiu retirar as cordas para o doente mental, introduziu uma perspectiva psicológica e começou a fazer objetivos estudos clínicos.

A partir de então, e desde que se iniciou o trabalho nos centros especializados, se definiriam os principais tipos de enfermidades mentais e suas formas de tratamento.

Em todo ELININI, chega a este tipo de situação.
Porém se a pessoa não deseja educar sua situação, então estará seriamente afetado, a um grau clínico real, e para todas essas situações, Ifa nos dá as soluções.

ELENINI tem um único e exclusivo objetivo que é de frustrar as intenções de nosso Ori. ELENINI é interpretado e chamado como “O SENHOR DOS OBSTÁCULOS".

O Senhor dos obstáculos foi criado em harmonia com nós mesmos. Enquanto Ori reside no nosso cérebro, o senhor dos obstáculos encontra-se no cerebelo.
Esta força seria para nós a significar as provas do julgamento a utilizar em nossas vidas, evitando os diversos e variados obstáculos colocados antes de nós.

Por isso nos obrigaria a média das provas de bom senso para usar em nossas vidas, evitando os muitos e variados obstáculos colocados diante de nós.
Para vencer e derrotar ELENINI, nós devemos reforçar o caráter e viver na realidade constante, apegados a nosso Ori, única Divindade que realmente nos ajudará a realizar nosso destino.

Se decidirmos constituir um bom caráter, sem ego, sem malicia, com a verdade, sem viver e evitando os IBI (negativo – como excessos de bebidas, drogas, relacionamentos promíscuos, lugares onde essas ações imperam, e amizades nocivas), como já citei, sempre ao lado de nosso ORI, no sentido comum, obedecendo seus mandatos, cumprindo e aceitando o que IFA nos aconselha, estaremos vencendo as barreiras impostas por esta entidade em nossas vidas, e este vencimento de barreiras fará com que nós possamos construir um melhor e bom caráter.

Esta construção do caráter acarretará um crescimento forte que nos fará cultivar o bem, não só para vencer as provações e tribulações, mas para ajudar outras pessoas a fazerem o mesmo.

Na verdade, Ifa frequentemente nos ensina que para alcançar nossos objetivos teremos que vencer ELENINI.

ENTÃO, CULTUE SEU ORI, FORTALEÇA SEU ORI, ACATE AS RECOMENDAÇÕES DE IFÁ E SE AFASTE DE PERIGOS EM AGLOMERAÇÕES, BEBIDAS, DROGAS, PARA NÃO SER ATACADO E PERMITIR A AÇÃO DE ELENINI.

ISSO NÃO QUER DIZER QUE VC DEVA FICAR TRANCADO EM CASA E NÃO CURTIR SEU CARNAVAL.

MAS ANTES DE IR PARA SUA FESTA, JOGUE COM IFÁ, PERGUNTE A ESU O QUE VC DEVE FAZER PARA SE PROTEGER DE ENERGIAS NEGATIVAS.

CONECTAR-SE AO SEU ESU BARA PARA QUE NOS ALERTE DE POSSÍVEIS PERIGOS À NOSSA VOLTA, COMO BRIGAS, TIROS, AGRESSÕES E DROGAS.
E QUE VCS TENHAM UM ÓTIMO FERIADO, E QUE PASSEM A CULTUAR ORI COM MAIS FREQUENCIA E CARINHO.

IRE O !!!



Entendendo o sentido das forças negativas conhecidas como AJOGUN



Dentro do sistema iorubá tradicional indígena, espíritos negativos são conhecidos como ajogun. O seu objetivo principal é provocar o sofrimento humano.

O principal ajogun é Iku (morte), responsável pela redução da vida da existência humana. 

O segundo é conhecido como Aarun (doença), que tem a função de destruir o homem através de várias doenças.


O terceiro é EGBA (invalidez), tem a função de causar paralisia ao ser humano . 

O quarto é Ofo (perda), que tem a função de destruir a prosperidade alcançada pelos seres humanos.

Existem vários tipos de ajogun, mas apontamos apenas os principais.

O odu Irete Ogbe (ireteegbe) confirma que esses espíritos conhecidos como ajogun foram criados no céu, igualmente a criação da humanidade por Olodumare, a fonte universal da criação. 

Estas forças foram criadas, em princípio, para o bem, porém ao se transformarem em malígnas, foram enviadas à terra, e o caminho pelo qual chegaram, a encruzilhada, ficou conhecida como meta agbansaala, onde se reuniram. 

Orunmila, o primeiro que veio do céu à terra, conhecendo a intenção dos ajogun em vir ao mundo, expressou sua grande preocupação do que seria o destino da humanidade. Ficou conhecido como atay Oba-la (o conserto do mundo). 

IFA (a palavra sagrada de Deus, também conhecida como a visão particular do povo iorubá sobre a criação da vida), disse que é só Orunmila é quem poderia reconstruir o nosso mundo.

O odu okanran otrupo declara que somente através dos akose (medicina tradicional), como os sacrificios (ebó), magia (Oogun), encantamentos (ofo igede), é que poderemos minimizar e melhorar nossa qualidade de vida.

Já o odu ogbe rosun, declara que as pessoas que não são devidamente protegidas por ifa, serão afligidas por eles.



Fonte : egbe ile owa, pelo Oluwo ifalabi fatunmbi fakayode (Awo temple ose mejí Ibadán)


ÒKÚTA – A Pedra e suas Aplicações dentro do Sagrado



“Tenho o dever e a obrigação
de deixar nesse mundo,
uma religião melhor esclarecida,
de quando um certo dia,
tive o privilégio e a honra
de ser iniciado nos mistérios
dos deuses africanos”

Baba Guido

O tema escolhido é palpitante haja vista sua indispensável aplicabilidade na ritualística, de vez que podemos verificar desde as mais antigas civilizações já se faziam menções sobre as pedras, que ao longo do tempo foram utilizadas das mais diversas formas para expor o pensamento humano, seja ele religioso como filosófico. 

A história da humanidade desde seu inicio tem um vínculo forte com as pedras. 

A pedra tem sido a milênios um sinal, um marco. 

Em diversas culturas, as pedras foram usadas em rituais e celebrações, onde sobre a pedra eram oferecidos os sacrifícios propiciatórios aos deuses, tornando-se objetos de reverência e culto como representação divina, que por sua solidez e durabilidade servia para sugerir o poder e a estabilidade de uma divindade. 

O culto utilizando pedras tem sido rastreado em quase todas as regiões do mundo e entre quase todos os povos.

O objetivo principal desse NEW TOPIC é apresentar a simbologia das pedras dentro da Cultura e Tradição dos Iorubas, mas farei uma breve e importante citação sobre a Cultura Islâmica, onde no mundo árabe mais precisamente em Meca, a conhecida cidade de peregrinação islâmica, encontra-se a pedra mais notável do mundo. 

A PEDRA PRETA, que está preservada na KAABA ou casa cúbica que fica no átrio da mesquita sagrada. Acredita-se que seja um aerólito ou pedra meteórica. Esta pedra preta tem sete polegadas de comprimento aproximadamente, e formato oval. Segundo a tradição local, ela foi quebrada durante o assédio de Meca em 683 D.C. Restaurada e encerrada numa cinta de prata, encontra-se embutida na parede do ângulo nordeste da KAABA a uma altura que permite que os devotos a beijem em um verdadeiro ato de adoração. Este é apenas um exemplo da correlação homem e pedra, presente na cultura religiosa que é a mais antiga manifestação circundada na vida humana.

ÒKÚTA vocábulo de origem ioruba designa de forma genérica qualquer tipo de pedra, mais especificamente, pedra símbolo. ÒKÚTA, por elisão denominado de ÒTA, objeto inanimado, porém totalmente vivo, possui um baixo nível de consciência. Consagrada e sacramentada ritualisticamente, transformará a pedra num importante objeto de culto. Estado de completude espiritual ou de mística união com a divindade e o habitat de uma energia sobrenatural, denominada de ÀSE, caracterizando dessa forma o núcleo central dos assentamentos de diversas Divindades do Panteão Iorubá cultuadas no Novo Mundo.

Os descendentes da Tradição Iorubá, atribuem ao ÒKÚTA um valor imensurável. A pedra representa longa vida por que não morre, mas também representam as lutas travadas durante a vida. A pedra sempre representam coisas boas, assim como não dispõem de símbolos para os cinco tipos de infortúnio. A representação simbólica dessa pedra mítica está intimamente ligada com a vida de um iniciado, que desde os ritos da iniciação, o neófito tem seu primeiro contato com a mesma, onde o próprio, não percebe a riqueza existente nesse ato ritualístico. Uma pedra silenciosa que tudo expressa e emana, na vida do iniciado. O ÒKÚTA é o ponto de partida para a grande transformação a ser feita na vida espiritual do recém iniciado, que a principio, em seu atual estado de desenvolvimento espiritual, deve converter-se em forma de perfeição interior.

Contudo o pormenor a que se deve dar atenção é o que define a Pedra como não sendo pedra, mas sim um processo espiritual de iniciação. A Pedra que participa de todos os regimes encontra-se em todo o lado, sendo e não sendo pedra; é comum e preciosa; escondida e, contudo conhecida de todos; com um só nome e com muitos nomes; esta pedra, por isso, não é uma simples pedra, porque é muito mais preciosa, sem ela a natureza não faz nenhuma obra. A Pedra, nas suas várias descrições e processos é a vida espiritual do iniciado, com o nascimento, o crescimento, a degradação e morte que lhe são próprias.

ABÉÒKÚTA capital do Estado de Ogun, na Nigéria. Localizado no sudoeste do país. Fundada em 1830 como baluartes contra a invasão dos antigos daomeanos vindos do território da atual Republica do Benim, que durante algum tempo foi a maior cidade da África Ocidental, tem a etimologia de seu nome na palavra ÒKÚTA, onde literalmente significa: REFUGIO ENTRE ROCHAS ou CIDADE SOB PEDRAS.

Um mito relacionado ao ODÙ ÒYÉKÚ MÉJÌ revela que os ÒKÚTA imigraram da Divinoesfera para a Terra, durante as primeiras chuvas, que duraram um longo período de tempo, ainda na criação de nosso mundo. Em forma de energia mítica, ao tocarem o solo se solidificaram, transformando-se em pedras e rochas. Antigos sacerdotes e grandes estudiosos, afirmar que essa energia mítica era emanada pelas próprias divindades, por essa a razão os diversos formatos e cores dos ÒKÚTA. Assim como o ODÙ ÒSÉ ÒDI nos revela que OLÓDÚMARÈ enviou três chuvas sobre a Terra, sendo que a primeira, estava repleta de pedras preciosas.

Os ritos de consagração ÒKÚTA, impulsionam o espírito embrionário da pedra, denominado de EWA INLE KOLEPO, conforme nos revela o ODÙ ÌRETÈ ÒGÚNDÁ, e finalmente, o espírito da pedra absorve e armazena a energia mítica da divindade. Dessa forma o sagrado emanado para a pedra traz uma ideia de centralização e equilíbrio dando estabilidade e permanência ao ÀSE – A Energia Mítica do ÒRÌSÀ. As descrições de tais ritos não cabem nesse trabalho, pois estaríamos violando o sagrado. Posso apenas afirmar que antes e depois dos ritos de sacrifícios, os ÒKÚTA recebem tratamentos especiais.

As pedras dentro da religiosidade têm um valor sem par, elas são erigidas para representar os ÒRÌSÀ, e assim sendo, cada ÒKÚTA possui suas características próprias e sua ligação direta com as divindades, de acordo com a cor, o formato, a composição e a origem das pedras, que remetem uma forma de expressão.

Os ÒKÚTA de coloração amarelado são destinados ao ÒRÌSÀ ÒSUN, os avermelhadas aos ÒRÌSÀ OYA e SÀNGÓ, azuladas ao ÒRÌSÀ YEMOJA, as brancos e leitosas aos ÒRÌSÀ FUNFUN, entre outros, as pretas ao ÒRÌSÀ ODÙDÚWÀ entre outros e as de tonalidades escuras que são representação especifica de diversas outras divindades.

Aquelas que possuem forma alongada são utilizadas para as divindades masculinas, com exceção da família de ÒRÌSÀNLÁ, que assim como as divindades femininas, ostentam em seus assentamentos as de formato arredondado e ovais. Em formato de machadinhas vermelhas e/ou marrons pertencem ao ÒRÌSÀ SÀNGÓ e as de tonalidades claras para o ÒRÌSÀ AIRA. Existem divindades em especial que comportam pedras machos e fêmeas em seus altares.

Sua composição implica diretamente em seu emprego junto aos assentamentos dos ÒRÌSÀ, seja como objeto principal ou complementar, tais como: pedra de imã, pedra de ferro, pedra de carvão mineral, pedras de raio, pedras de laterita, pedra de arrecife, pedra vulcânica, pedra bruta e polida, pedra preciosa e semipreciosa, assim como gemas e cristais. A PEDRA ÒKÚTA, algo que contém e é contido, simultaneamente, algo que tendo muitos ou todos os nomes, não tem nenhum, tornando-se matéria espiritual, transcendente, por si mesmo. A saber, em ÒKÀNRÀN MÉJÌ nascem às pedras porosas... No ODÙ ÒTÚRÁ ÒFÚN nasce às pedras de raio... No ODÙ OGBE ÒTÚRÁ nasce a pedra vulcânica, e em ÒSÁ ÒBÀRÀ as pedras vulcânicas imergem a superfície da terra... Assim como em ÒGÚNDÁ MÉJÌ as pedras de ferro...

A origem do ÒKÚTA esta fortemente relacionada com o habitat dominante de cada uma das entidades sobrenaturais. Podem ser originárias de mares, rios, lagos, cachoeiras, matas, montanhas, estradas e caminhos. Aqueles de procedência marinha podem ter vários tipos de formatos e ressaltos, a água do mar provoca a erosão que se encube de formar pedras especiais. Embora sejam recortados, furados, não perdem sua essência e mantém seu peso e valor.

De todos os lugares citados, de acordo com o ODÙ ÒYÉKÚ ÌKÁ os primordiais são os seixos de rios, ditos por alguns religiosos de “legítimos”, onde sua ritualística de consagração inicia-se, durante a Cerimônia de Purificação das Águas conhecida entre o povo de santo pelo termo BALÙWE de onde o neófito traz o ÒKÚTA do rio.

Somente a nível de informação, denominamos seixo todo fragmento de mineral ou de rocha, menor do que bloco ou calhau e maior do que grânulo, e que na Escala de Wentworth, de amplo uso em geologia, corresponde a diâmetro maior do que 4 mm e menor do que 64 mm.

Não podemos com isso, tratar com menor valor as demais pedras. Ademas, as pedras brutas, a matéria-prima, em seu estado natural, informe, cheia de saliências e reentrâncias, tirada da natureza tal e qual ali são encontradas, sem nenhum beneficiamento por parte do homem, representam as imperfeições; enquanto que as pedras polidas precisam ser trabalhadas e lapidadas para o seu embelezamento, representaria a natureza melhorada e aperfeiçoada.

Todavia a Mãe Natureza nos apresentam pedras, que mesmo em seu estado original são de uma beleza sem precedentes. Podemos citar, por exemplo, o caso da Pirita, mineral metálico, de coloração amarelo-ouro, de grande dureza, que apresenta um hábito cúbico ou forma externa cúbica, no seu estado primário. Esse tipo de pedra, poderia perfeitamente simbolizar, que mesmo no mundo profano, existem pessoas polidas, lapidadas a tal ponto que o embelezamento de seu Eu Interior é algo natural e espontâneo.

Numa analise filosófica, poderíamos salientar que a pedra polida é o ponto de partida para a grande transformação a ser feita no espírito do iniciado; os defeitos, as falhas, as arestas de nossos Neófitos deverão ser polidos e extraídos com a sabedoria e a humildade. A transformação simbólica de pedra bruta em pedra polida só encontra seu significado real, no momento em que cada ser, sendo pedra bruta, conheça sua natureza, descubra de que matéria mítica é feito, sua composição e a resistência que possui.

Outra analise que merece destaque são os cristais utilizados nos assentamentos dos ÒRÌSÀ, por exemplo, poderia ser simbolizada em nossa cultura, a conduta que deve ter o iniciado nos mistérios do culto, perante seus semelhantes, por apresentar forma cristalina e transparente; manter um comportamento íntegro repleto de ações transparentes, claras e objetivas.

Outros fatores relevantes são a quantidade de ÒKÚTA que integram os assentamentos das diversas divindades, que podem ser em números impares ou pares. Enquanto o assentamento de ÒRÚNMÌLÀ possui apenas um ÒKÚTA, conforme nos revela o ODÙ ÌRETÈ MÉJÌ, o OJUBO Representação Coletiva de uma divindade, comporta um numero ilimitado de pedras consagradas. O ODÙ ÌRETÈ ÒSÁ revela o porquê dos assentamentos de SÀNGÓ ostentam 6 ÒKÚTA no interior de sua gamela, e outros do lado de fora; assim como o ODÙ ÒFÚN OGBE determina que OBATALÁ carregue em seu assentamento, 8 ÒKÚTA FUNFUN. O mesmo ocorre com inúmeras divindades, onde os 256 ODÙ existentes revelam os tipos e quantidades de ÒKÚTA.

Importante ressaltar que uma pedra destinada como parte integrante do assentamento de um ÒRÌSÀ não pode de maneira alguma, de acordo com antigas tradições, escolhida ou recolhida aleatoriamente e na ausência de determinados preceitos. Em uma comparação lógica, seria o mesmo que colher folhas sem nenhum tipo de ritual, ou seja:

“vem a pedra, mas não a essência,
que se desprende do objeto,
no ato de retirá-lo de seu local de origem”.

Identificar um ÒKÚTA que tenha serventia de outro que nada tenha, é ainda, um privilégio de poucos religiosos. Antigamente era de praxe que a identificação de uma pedra a ser sacralizada para o ÒRÌSÀ, não se baseava simplesmente no “olho clinico” dos velhos e sim a uma consulta minuciosa junto ao OBÍ – noz de cola. Na árdua escolha de um ÒKÚTA, não poderá haver enganos ou duvidas que possam surgir, pois uma vez, que a pedra for sacramentada, a mesma passará a ser a representação viva de um ÒRÌSÀ e seu elo de ligação entre os dois planos de existência.

Ainda acrescento, “Pedra é pedra” e trata-se de um termo extremamente genérico do reino mineral, entretanto, nem todas as pedras podem ser consagradas e sacramentadas, pois algumas perderam por completo sua verdadeira essência, estão desprovida do espírito vital da pedra ou em outras palavras “estão mortas”.

Sabemos que na atualidade, muitos adquirem seixos de rio em casas de artigos religiosos e casas de jardinagens, enquanto outros, quando oportunamente, os recolhem e armazenam em recipientes cobertos com água de rio. A causa deste comportamento se dá ao fato de um drástico processo chamado de poluição e contaminação dos rios e, sobretudo a conhecida e lucrativa indústria da Natural Stones, que recolhem centenas e centenas de pedras dos poucos rios vivos que ainda nos restam.

Numa colocação muito particular, devo mencionar que um seixo de rio, adquirido comercialmente, tem por direito e dever, seguir a seguinte trajetória:

“do comércio para o terreiro,
do terreiro para o rio,
do rio de volta para o terreiro”.

E finalmente: “do terreiro de volta para o rio”, quando do falecimento do “titular do assentamento” conforme determina o ODÙ ÒFÚN ÒYÉKÚ.

Em minha opinião, não vejo problema algum, recolher e armazenar pedras a serem sacralizadas, nos espaços externos dos Terreiros, desde que foi “pago” algum tributo ao rio e ter o devido conhecimento de como manter a pedra “viva”. Esse recipiente, com água de rio, em hipótese alguma poderá secar e de tempos em tempos, se adiciona um preparado com diversas substâncias trituradas.

O cuidado para com as pedras existentes nos espaços externos dos Terreiros, são de extrema importância. Aprendi com os meus mais velhos, que uma vez que a pedra tenha sido retirada de seu habitat natural, poderá reclamar dos seus direitos ritualísticos, e como dizem os antigos:

“a pedra pode vir a sentir fome e sede”.

Durante minha jornada religiosa, tive a oportunidade de identificar através do ODÙ ÒGÚNDÁ MÉJÌ, consulentes sensíveis a natureza, que em passeios, trilhas e expedições através de rios e florestas, percebem que há algo diferente ao redor de uma pedra, que lhe despertam a atenção, onde simplesmente a carregam para suas casas. Se tal pessoa tiver uma cultura anímica ou se for simpática a tais influências, transformará a pedra num objeto de culto ou habitat de um espírito amigável ou simplesmente a transformará numa peça decorativa. Essa pedra pode emanar uma energia negativa para o local e pessoas que ali residem. No momento da consulta será revelado se o consulente deverá devolver a pedra ao seu local de origem ou consagrá-la. O mesmo ocorre com pedras de belos formatos que escoram as portas de entrada das casas (ÒKÀNRÀN ÒWÓNRÍN), assim como as pedras de raio (OGBE ÒDI), um costume típico do nordeste brasileiro.

As pedras existentes na natureza, não são apenas de uso exclusivo dos assentamentos de nossas divindades e sim ingredientes de uma infinidade de EBO – oferenda para vários fins, das quais sua presença é indispensável para o efeito desejado daquilo que se pretende almejar. Um dos fatores de seu emprego em “trabalhos” se dá ao fato de sua dureza, visto que as pedras representam o símbolo dos poderes eternos e divinos.

Considero o Reino Mineral o Corpo da Natureza, e seria impossível falar de magia natural sem mencionar o uso das pedras. Simbolicamente, o reino mineral compõe-se de ferramentas fundamentais para todos aqueles que desejam trabalhar nas regiões mais profundas da realidade.

Dentro do CORPO LITERÁRIO E DOUTRINÁRIO DE IFÁ podemos perfeitamente identificar o termo ÒKÚTA inserido em vários ITAN que fazem alusão ao personagem mítico do mito, utilizada para vários fins seja como arma ou ferramenta qualquer, que facilitara a vida dos ancestrais iorubás.

Um ITAN inserido no ODÙ ÒWÓNRÍN ÒKÀNRÀN inicia seus versos com a onomatopéia POKON POKON POKON que representa “o rolar dos seixos, forçados pela forte correnteza do rio”...

Outro mito do ODÙ ÌRETÈ MÉJÌ, revela que YEYE OLOMO MEFA, perdeu três de seus seis filhos, entre eles ÒKÚTA – pedra, ALE – terra e ABIRISOKO – folha, do qual, após consultar IFÁ, lhe é revelado que os mesmos estavam a merce de IKÚ – A Morte. Após realizar as oferendas prescrita por IFÁ, a mãe encontra seus filhos, e IKÚ promete-lhe nunca molestar seus três filhos, então cantam: ÒKÚTA E E KU – ALE E E RUN – ABIRISOKO E E RARE E SI, do qual podemos interpretar: pedra não morre, solo não fica doente e o ano não passa para aquele que não vê a planta de Abirishoko...

Em OGBE MÉJÌ um mito faz citação de ÒKÚTA LEGBAJE (1.460 pedras) que estavam a frente da casa de ÒRÌSÀNLÁ do qual ÉJÌOGBE foi orientado, que ficasse em pé sobre o ÒKÚTA FUNFUN – pedra branca que estava no centro... Quando este estava próximo a se tornar o Rei de todos os ODÙ...

O ODÙ ÒSÁ ÒGÚNDÁ, revela de como os ÒKÚTA foram levados dos rios para os oceanos...

Em ÒSÁ ÒTÙRÚPÒN o segredo de OLÒKUN para as OLOSA e OLONA que devem carregar em seus atributos pedras do mar e um ÒKÚTA que ficou imerso no fundo do poço por três dias...

No ODÙ OGBE ÒYÉKÚ, um mito faz menção que SÀNGÓ utiliza-se do ÒKÚTA como arma, lançando-as contra seus inimigos... No mesmo encontramos o mito entre a disputa de ORO (Cactus) e ÀPÁTA (Pedra) se enredo uma disputa por território... Enquanto no ODÙ ÌKÁ ÒFÚN com as habilidades de este prepara apenas um ÒKÚTA para vencer a guerra travada contra OYA e IKÚ.

Em ÒTÚRÁ MÉJÌ um mito relata que ÒTÚMÉJÌ possuía um seixo trazido da Cidade de IFÉ... e assim que ele colocou o seixo no chão, ele se multiplicou em 200 seixos... Quando os guardiões viram o milagre, uma multidão se reuniu ao redor de ÒTÚRÁ MÉJÌ... Ele disse a cada um de seus seguidores para escolher uma das 200 pedras em lançar em direção ao palácio do Rei...

Em ÌRETÈ ÌWÒRI o IFÁ DE ENIGMAS, um mito revela o enigma das três cabaças, uma com pedra, uma com água e uma com milho - IGBA ÒTA - IGBA OMI - IGBA AGBADO, de onde deciframos: imortal como a pedra, necessário como a água e afortunado como o milho. Nesse mesmo Signo esta inserida um conhecido cântico:

O IGI IGI ÒTA OMI O
O IGI IGI ÒTA R'OMI
AGBADO IGI IGI OKUN MÃ
O IGI ÒTA R'OMI

Analiso as pedras no seu aspecto de “dureza” como símbolos da fortaleza e da fundação sólida. Como um Portal entre os dois mundos, considerado também; como símbolo da fé e da verdade. Um símbolo autêntico portador de uma ideia mística e oferecendo um campo muito vasto de conexões de sentido. O portador de um espírito divino escondido na matéria.

Um fraterno abraça a todos.
fonte: Baba Guido Tí Ajaguna


SUSTENTABILIDADE DO CULTO ÀS GRANDES ÁRVORES



Atualmente observamos um aumento desenfreado do número de casas de Candomblé. 

Segundo relatos de antigos, não era comum que todos os iniciados de um barco ou de uma casa ao completarem sua iniciação, após a obrigação de sete anos (Odun Ejé), abrissem outro barracão. 

A maioria não possuía o cargo de Iyálorisá/Babalorisá e permanecia em sua roça, ocupando postos como egbomi, Iyá kekere, Iyá Efun, entre outros. 

Às vezes, era comum que no caso de iniciarem alguém o fizessem na própria casa em que foram iniciados. 

Nas casas de Jeje, de Tradição Mahi era comum se dizer: Casa de Jeje têm várias mães. Isso porque poderiam existir diversos barcos de vodunsis diferentes no mesmo espaço religioso.


Podemos concluir que essa prática era de extrema importância para a manutenção da Tradição e dos costumes compartilhados pelos membros dessas comunidades (egbé), pois permitia a constante troca de costumes e saberes nesses grupos. 

Pode-se afirmar que isso tornava a religião do Candomblé extremamente sustentável, sob o ponto de vista de utilização dos espaços e recursos naturais, como cachoeiras e matas, fundamentais para o culto das divindades africanas. 

Como existiam poucas casas, a produção de resíduos dispensados no meio ambiente pelas mesmas era bem menor.

Com o processo da urbanização e afastamento das casas matriz o Candomblé vai perdendo bastante de sua identidade. 

Os espaços naturais (Ilé Igbó) nos terreiros vão ficando cada vez menores, muitas vezes até inexistentes. 

As grandes árvores, que antes eram objeto de culto, deixam de estarem presentes e seus fundamentos vão sendo esquecidos. 

Podemos citar o exemplo de inúmeras casas Jeje Mahi do Rio de Janeiro, que ainda apresentam alguns voduns como Legba, Gun, Ague e Bessen em espaços externos do terreiro, segundo a linguagem do povo de santo, “no tempo”. 

Esses voduns apresentam seus assentamentos aparentes, em áreas em que o solo foi impermeabilizado (cimentado), podendo ser facilmente identificados. 

Eles ainda são chamados de atin, o que na verdade é uma lembrança das grandes árvores que serviriam de morada para os mesmos, onde frequentemente eram enterrados sob suas raízes.

Até que ponto o processo de modernização do Candomblé permitirá que essa religião mantenha suas raízes e continue sendo uma forma sustentável de manutenção do legado deixado por nossos ancestrais negros, que tanto lutaram e sofreram para preservar essa antiga Tradição?

TEXTO ESCRITO POR JONATAS GUNFAREMIM


quinta-feira, 21 de maio de 2015

Roupas no Candomblé.



As Roupas no Candomblé


Preocupados com a perpetuação sobre o vestuário dos praticantes do Candomblé, bem como dos nossos Òrìsàs, o Terreiro Ilé Òsùmàrè Asè Ogodo, vem por meio deste veículo, esclarecer alguns pontos, tendo como princípio a cultura que nos foi passada, ao longo de mais de um século de tradição. 

Percebemos que o complexo código de ética relacionado às vestes dos praticantes do Candomblé, está sendo diariamente infringido, expondo a nossa religiosidade de forma profana em meio à sociedade. 

Dessa forma, esse artigo tem por objetivo, dirimir dúvidas de pessoas que não tiveram o acesso à informação e, também expor a opinião do Asè Òsùmàrè sobre esse importante aspecto da nossa religiosidade.

Desatentos às hierarquias das indumentárias e vestimentas do Candomblé, muitos participantes (talvez pela falta de conhecimento) estão desrespeitando, não somente os seus mais velhos, mas também as nossas Divindades. Isso ocorre, principalmente, com a chamada "carnavalização" dos tradicionais paramentos dos Òrìsàs. 

A situação vem se agravando, ao ponto de recriarem os trajes, implantando assim, uma nova maneira de vestir os Òrìsàs e seus filhos, ignorando a tradições centenárias, originarias de uma Religião milenar e, desrespeitando, de forma muito preocupante, a essência de cada Òrìsà.
Com o cuidado de não ditar ou impor um código vestuário, apontaremos abaixo, apenas algumas violações (as mais recorrentes) que comprometem as tradições do Candomblé, descaracterizando de forma muito triste a nossa religião, bem como, algumas recomendações da nossa Casa.

ÌYÁWÓ
MOKAN: Uso indispensável
IKAN: Uso Indispensável
DILOGUN: Uso Indispensável:
“LAÇINHO” e “GRAVATINHA” ACIMA DO PANO DE COSTAS: Uso Indispensável
ROUPA DE SIRE: Até completar um ano de iniciada, deve-se dançar Sire de branco;

ÌYÁWÓ DO SEXO MASCULINO
CALÇA DE RAÇÃO (NÃO É TOLERAVEL JEANS, BERMUDA, ETC.)
CAMISA DE RAÇÃO (NÃO É TOLERAVEL CAMISA DE CRIOULA – USO EXCLUSIVO PARA MULHERES, Também não se usa camiseta);
ÉKÉTÉ: – NÃO É TOLERAVEL O USO PANO DE CABEÇA – À exceção do recebimento de Asè, em Oro);

OGÁ (OGAN):
CALÇA DE RAÇÃO (NÃO É TOLERAVEL JEANS, BERMUDA, ETC.)
CAMISA DE RAÇÃO (NÃO É TOLERAVEL CAMISA DE CRIOULA – USO EXCLUSIVO PARA MULHERES, também não se usa camiseta);
ÉKÉTÉ, CHAPÉU OU BOINA (NÃO É TOLERAVEL O USO PANO DE CABEÇA – À exceção do recebimento de Asè, em Oro);

EKEJI (EKEDE):
SAIA: Ekeji não usa saia com anáguas de baiana;
TOALHINHA: A cada dia é mais raro vermos uma Ekeji com uma toalhinha para “enxugar” o Òrìsà.

ADES, COROAS E PARAMENTAS DE ÒRÌSÀS:
DISCERNIMENTO E COERÊNCIA: Deve-se ter coerência ao vestir os Òrìsàs (Nossos deuses são elementos da natureza, que utilizam representações da natureza, POR ISSO NÃO DEVEM SER CARNAVALIZADOS);
MÁSCARAS: É inadmissível a utilização de máscaras na confecção da Roupa dos Òrìsàs;
ALTURA DOS ADES: Deve se ter discernimento, coroas são coroas e não paramentos carnavalescos gigantescos;
ÒSÀLÁ: ÒSÀLÁ SÓ USA BRANCO. Esse é um Òrìsà Fúnfún, não admite prata ou “azul clarinho”
PENAS.: Nossa religião é tribal, mas não indígena, a utilização de penas na confecção das roupas dos Òrìsàs deve ser ponderada e não excessiva;
SÀNGÓ: Não tolera roupas roxa ou preta;

ÀSÈSÈ:
HOMENS: Calça, Camisa de Ração (brancos) e Ékété;
MULHERES: Saia de ração e camisa de crioula (brancas);
PROÍBIDO: Brilho, Bordados, Vazados e Roupas Coloridas;

BATA:
QUEM PODE USAR: A utilização da bata é restrita as autoridades femininas da Casa (autoridade máxima, Ìyálásè, Ìyákekère, Ìyámaye, etc. - Se todas as Ègbón usarem batas, será impossível distinguir as autoridades);
CUMPRIMENTO: Bata é Bata e não vestido! Um ditado tradicional nos Candomblés da Bahia diz: Quanto Maior a Bata, Maior a Ignorância da Ègbón;

PANO DE CABEÇAS:
QUEM PODE USAR: A utilização do Pano de Cabeça é restrita às mulheres (o Babalòrìsà “em sua casa” tem a autonomia de optar ou não pelo uso. O pano de cabeça, poderá ainda ser utilizado por homens, em obrigações internas em que o mesmo está “recebendo asè, como por exemplo Bori”);
ABAS: As abas do Pano de Cabeça, estão relacionadas ao Òrìsà da filha de Santo e a sua idade de santo (se seu Òrìsà for Oboro – masculino, você não poderá usar duas abas, sendo que essa ficou para as filhas de santo, que possuem Òrìsàs Ayabas – femininos);
ALTURA DO PANO: Deve-se ter discernimento ao usar o Pano de Cabeças. O pano de Cabeças não é turbante com diversas voltas e de altura desmedida; Seu pano de cabeça também não pode ser maior do que o da sua Ìyálòrìsà;

PANO DE COSTAS:
QUEM PODE USAR: A utilização do Pano de Costas é restrito às mulheres.
UTILIZAÇÃO: O pano da costa deve ser colocado na altura dos seios (somente as autoridades quando estão trajadas de Bata, podem usar o pano na cintura);
USO TRASVERSAL DO PANO POR HOMENS: Indevido, à exceção das festividades do Pilão e durante o Pilão de Òsògíyàn;

FIOS DE CONTA.:
AFRICANOS/CORAIS/PEDRAS: de uso exclusivo para autoridades do Candomblé e as pessoas com obrigação de sete anos (obrigações arriadas);
BOLAS DE PLÁSTICO: Não pertencem ao Candomblé;

SAIAS:
QUEM USA: Uso restrito à mulheres (homem não usa saias, mesmo se seu Òrìsà seja ayaba);
CUMPRIMENTO: A saia deve ser longa, cobrindo o calçolão (o uso de saieta é cabível somente para Òrìsàs masculinos – em mulheres);

ROUPAS BRILHOSAS E BORDADOS:
ROUPAS BRILHOSAS: A utilização de roupas com muito brilho está condicionada ao Òrìsà e à determinados Òrìsàs (existem roupas para dançar o Sìré e roupas para vestir os Òrìsàs, sendo que alguns também não toleram o brilho);
BORDADOS: As roupas bordadas como Rechilieu, Asa de Mosca, Roda de Quiabo e panos mais elaborados, são de uso exclusivo para autoridades e pessoas com obrigação de sete anos arriada;

BRINCOS E PULSERIAS:
Ìyáwò de Òrìsà Oboro (Santo Masculino), não deve usar brincos e/ou pulseiras.

A Casa de Òsùmàrè, pede que as pessoas reflitam sobre a essência de nossa ancestralidade, os Òrìsàs. Uma Ìyáwò aguardar a conclusão de suas obrigações, para a utilização de determinadas vestes, não a coloca inferior à ninguém, muito pelo contrário, mostra somente sua resignação por um determinado período, em obediência às regras do Candomblé pelo seu Òrìsà. O cumprimento desses interditos, confere ainda mais valor à obrigação de sete anos, em que a então ìyáwò, poderá utilizar-se de outras indumentárias, estando desta forma, em outra fase de sua missão religiosa (torando-se uma ègbón). No Candomblé, todos os passos são galgados, assim como na vida, afinal, a criança não nasce andando, existe um processo de aprendizagem. Uma mãe preservadora resguarda sua filha das maquiagens até a idade certa, etc. Assim é o Candomblé.

Um Ogá não pode se sentir desprezado por não vestir-se como um Babalòrìsà, ele sim, deve se sentir orgulhoso em pode estar preservando a cultura dos antigos Ogá. Um Oga vestido com Ogá, é facilmente identificado em meio a multidão. O mesmo se aplica aos Babalòrìsàs, que não podem almejar as vestes femininas, pois nesse caso, ao invés de mostrar poder e distinção, evidência sua falta de conhecimento sobre a liturgia de cada elemento utilizado. A Casa de Òsùmàrè, não tem a intenção de ditar regras, mas sim, expor seus costumes, aprendidos ao longo de gerações, divulgado e esclarecendo muitas pessoas que jamais foram orientadas sobre como se vestir no Candomblé e por isso, cometem tantos erros.

fonte: https://www.facebook.com/casadeoxumare/photos/a.284435408246371.68277.215511825138730/685728924783682/


A questão das trocas entre o ọ̀run (órun) e o aiyé



Existe uma questão que sempre me perseguiu e talvez aconteça o mesmo com outras pessoas que estejam preocupadas com a religiosidade em si, aquela que deve estar presente nas pessoas que praticam uma religião.

 Essa questão é a capacidade que deve ter o crente de qualquer religião em poder responder a uma pergunta muito simples, talvez a coisa mais elementar que é: O que ele faz dentro da religião? 

Qual a finalidade dele na religião? 

O que a religião traz para sua vida? 

Como a religião se incorpora na sua rotina diária? 

Qual o benefício de ter uma religião.

Parece um coisa muito simples de ser respondida por uma pessoa que se diz sacerdote, seguidor ou crente de uma religião, principalmente quando essa pessoa tem o objetivo de explicar isso para uma pessoa que não faça parte desta mesma religião. 

Não se trata de proselitismo. 

Um crente tem que ter a capacidade de motivar ou de explicar as suas motivações para um não crente, não com a intenção de convencer o outro a adotar a sua religião, mas, pelo menos, conseguir explicar os seus motivos nessa religião.
É claro que vou apresentar aqui a minha versão para isso e basicamente, é esta a questão de fundo que motiva tudo o que eu estou escrevendo. 


Contudo, antes disso, gostaria de explorar um pouco mais esse drama. Sim, o drama, no qual se transforma essa questão.


Eu penso que é muito normal uma pessoa que esta dentro de uma religião ter a capacidade de se expressar sobre os motivos que a levam a estar lá e que benefícios a religião traz a sua vida de uma maneira que, não só a pessoa pode explicar sua opção, como também, convencer outras desse caminho.

Não considero que essa seja uma questão culta, acadêmica ou teórica. 

Pelo contrário, acredito que estamos lidando com a questão mais simples que uma pessoa religiosa pode se confrontar.

A minha decepção é observar que isso é algo muito simples quando lidamos com evangélicos, católicos e mulçumanos, mas, quando estamos lidando com o Candomblé e com a Umbanda isso se torna, sem exagero, um transtorno mental. Deixando de lado a boa vontade e simpatia e se concentrando na argumentação em sí, eu, até hoje, ouvi muito poucas, raríssimas, pessoas, que podiam se explicar sem caírem em lugares comuns, frases decoradas que não convenciam nem elas mesmas do que estavam fazendo.


Por exemplo, no caso do Candomblé qualquer resposta depois de alguns segundos de silêncio, uma expressão perplexa e aquele olhar profundo e perdido.... resulta em umas frases como: Eu amo meu orixá (òrìṣà) ou meu orixá (òrìṣà) é tudo para mim, O orixá (òrìṣà) é quem me dá caminho, etc... 

Nada de errado com essa manifestação de fé e carinho muito apropriadas a uma religião iniciática onde o orixá (òrìṣà) deve desempenhar um papel muito exemplar no imaginário do seguidor, mas, de forma nenhuma serviriam para explicar a alguém o motivo daquilo tudo ou convencer a sim mesmo do que esta fazendo.


No caso da Umbanda, o mais comum é a velha definição de que ela esta ali para ter uma evolução espiritual, mas, prosseguindo com mais perguntas sobre o mesmo tema, não se consegue que a pessoa defina com clareza o que é esta evolução espiritual para ela. 


Responder a primeira pergunta sobre um assunto exige um pouco de conhecimento, funcionando, como resposta, até mesmo uma embromação, mas responder 3 ou 4 perguntas sucessivas sobre o mesmo assunto, aprofundando o tema, exige saber de fato o que se esta falando. 

Assim me transtorna um pouco ver tanta fé nas pessoas, se dedicando dias e noites a uma religião sem que se pudesse perceber se elas sabiam o que as mantêm ali.
Atenção, de novo, isso não pode ser um paradigma. 

Não podemos dizer que é complicado demais para as pessoas sem cultura ou formação como as que são encontradas no Candomblé. Isso é apenas um estereótipo preconceituoso, e uma simplificação grosseira para justificar comportamentos inexplicáveis. Os evangélicos são um população equivalente, em termos de classe social e educação,e estes tem um domínio muito grande da sua religiosidade e também da sua teologia.


Vocês podem estar imaginando: e daí?

 Qual a significância em se saber definir isso em palavras se o que importa é o que está no coração?

 Claro, essa é uma boa fuga para essa questão, mas, se fosse assim mesmo, só uma questão de se expressar oralmente, eu tenho certeza que a gente não veria tanta gente deixando o Candomblé e a Umbanda para se transformarem em Evangélicos, deixando anos de dedicação para trás, sem significado nenhum e acreditando de fato que na Igreja conseguiu se encontrar com Deus. 

Como já ouvi e li de vários. Sério, não estou exagerando. Não estava buscando definições acadêmicas ou formais, estava buscando apenas uma explicação que me convencesse de fato.


E mais, conversei com várias pessoas para entender como era a vida religiosa dela depois da sua iniciação ou mesmo para aquelas não iniciadas e que apenas frequentam um terreiro. Para meu espanto, fora a presença em obrigações aquilo era sempre um grande vazio interno.


Vejam, estar presente em obrigações ou no seu terreiro fazendo tarefas domésticas não significa necessariamente que se esta tendo um vida religiosa. Existe muitos religiosos que vivem enclausulados em igrejas e conventos mas o trabalho doméstico é apenas uma necessidade em relação vida em comunidade, elas dedicam muito do seu tempo a religiosidade pessoal ou coletiva.


Mas o que eu esperava obter? 

Como já disse resposta simples, sinceras e refletissem o envolvimento da alma daquela pessoa com a religião que ela adotou, que fosse uma coisa tão simples e natural e ao mesmo tempo calorosa que desse a quem ouvia a vontade de também participar daquela vida.


Mas porque essa decepção?


A falta de orientação religiosa.
Olha muito motivos existem. 

O primeiro deles sem dúvida é a falta de formação e orientação religiosa dos ditos “sacerdotes” de Candomblé. 

Eles abrem a boca para se auto nomearem sacerdotes de uma religião sem ao menos terem uma conduta consistente que justique o emprego desses termos, seja o de sacerdote seja o de religião.


Além disso, apesar de nossos inúmeros esforços em caracterizar de forma diferente, o Candomblé esta hoje muito mais para uma religião mágica ou uma pratica mágica do que uma religião. 

Como religião a sua prioridade são os ritos e liturgias e esse tema domina a formação e a preocupação das pessoas. 

Só o rito importa, só a forma e fazer melhor do que outro e saber mais ritos e segredos litúrgicos transforma aquele pseudo-sacerdote em alguém melhor. A qualificação de um sacerdote é o seu domínio por ritos e estes nem sempre podem ser totalmente associados a ritos religioso. O dia a dia é dominado pela pratica da magia para a obtenção de favores, para a correção de erros sem um questionamento do mérito de quem pede ou da moral do que é feito.


Esse assunto, o da pratica mágica aética ( na maior parte das vezes) e da ritualística é o que domina qualquer conversa envolvendo os praticantes e sacerdotes. Uma visita ao “dial” do rádio deixa isso bem claro. Encontramos programas católicos – poucos – evangélicos – muitos - e os de Candomblé. Enquanto nos primeiros existe uma preocupação com a pregação da palavra de Deus, do verbo, para os últimos é apenas uma hora de comércio e relacionamento.


Desta maneira a religião que existe e na qual se baseia o Candomblé se perde e é esquecida. Os conceitos religioso, a teodócia a teogonia ou mesmo a coisa mais simples, que é como eu iniciei qual o sentido para isso na vida das pessoas, são apenas fragmentos não ligados que são ditos com brevidade mais no sentido de mostrar que existe um fundamento maior por trás de tudo, a religião de fato, mas que raramente é explicado, servindo mais como isca ou como elemento para despertar curiosidade e respeito.

 As pessoas entram na busca desse conhecimento que nunca vem.
A grande responsabilidade por isso é a própria formação dos referidos sacerdotes, completamente voltada para o rito e o ganho pessoal através da pratica da religião. A preocupação por criar essa orientação religiosa de fato não existe e como a gente sempre diz, que só se pode dar aquilo que recebe, eles pouco ou nada tem a dar. 

Os que se incomodam com isso acabam usando os conhecimentos que adquiriram de outras religiões como o catolicismo ou o do Kardecismo para terem algum discurso religioso. Esse discurso passa então a ter nenhuma relação ou vinculo com sua própria religião. Além disso a pratica mágica indiscriminada e sem ética e moral e que visa o seu ganho financeiro próprio acaba retirando dele todo o sentido de ética e moral que qualquer religião deve ter. 

Como essa pessoa vai pregar, ensinar ou cobrar algo de seus seguidores se a sua pratica diária esta envolvida em fins que são completamente não éticos?


Mas muitos podem se levantar contra essas palavras e dizer que nem todos são assim, simples feiticeiros e que sua pratica mágica e litúrgica tem sim uma base ética. 

OK, como em tudo existe exceção vamos aceitar que de existem esses grupos, mas, mesmo para esse grupo as afirmações principais se sustentam: a falta de orientação da base religiosa, a valorização da prática mágica e litúrgica.

A realidade do Candomblé é que apesar de ser uma tradição de uma religião de fato, de os seus ditos sacerdotes terem alguma noção disso e eles se auto-nomearem sacerdotes e religiosos, a formação religiosa deles é nenhuma.

 Dessa maneira a sua capacidade de transmitir religiosidade para outros é igualmente nula. O que eles transmitem são ordens comuns, bom senso baseado em conveniência própria e conceitos religiosos que aprenderam de outras religiões basicamente a católica e espiritismo, que no fundo vira mais um sincretismo porque se junta com alguns conceitos que eles aprendem da religião africana.


No caso da Umbanda é um pouco distinto, porque a Umbanda é apenas uma pratica ritual de fato, e a religião por trás disso pode ter muitas origens, sendo que a mais comum é o espiritismo que deriva do catolicismo. Como o espiritismo Kardecista é bastante doutrinado e codificado a tarefa dos seus sacerdotes é bem simplificada mas igualmente mal executada.
Mas deixemos de lado um pouco essa questão que é farta de assunto e exemplos, e na minha visão indefensável para voltarmos para o praticante individual.


A vida religiosa de um praticante é então dominada pela ritualística e submissão hierárquica com pouco ou nenhuma orientação religiosa. Sua dedicação é dominada pela participação em obrigações próprias, de outros ou coletivas onde o seu papel varia de nenhum a algum. Toda a iniciativa ritual em um terreiro é dominada por poucos, um ou dois na maior parte das vezes cabendo aos demais o papel de figuração ou coro.

A rotina religiosa é repleta de festejos que criam assim um direcionamento estético e vaidosa para a presença da pessoa uma vez que não tendo ela um papel ou não consumindo o seu tempo com reflexões religiosas essa pessoa passa a dedicar o sei tempo ao culto do seu Ego e da sua vaidade no que faz. A vaidade é o que domina o Candomblé hoje.


A troca de favores.
Chegamos por fim a talvez uma das questões mais primárias disso tudo que é o contínuo processo de troca entre o ọ̀run (órun) e o aiyé. 

A vida do praticante dessa religião é dominada pelo sentido de que trocas contínuas de bens e favores entre o ọ̀run (órun) e o aiyé são destinadas a resolver todos os seus problemas materiais. O supermercado religioso é a tônica da compreensão que se estabelece. Assim, baseado no fato de que a pessoa é dedicada ao seu orixá (òrìṣà), que vai no seu terreiro para varrer o chão e passar roupa, ela entende que é merecedora de favores do plano divino. Assim oferendas e ebós são os elementos de troca que buscam dar coisas para que a pessoa receba em troca favores, que vão resolver o seu problema, trazer benefícios e criar atalhos para a sua vida.


A questão do comportamento, do mérito e base para se poder se alcançar algo de fato ficam sempre para segundo (ou nenhum) plano. Entende-se que o processo mágico das oferendas ou de obrigações é o mais do que necessário para se obter o que precisa. Entendesse que uma pessoa que faça seu santo vai ter que receber em troca emprego, dinheiro e uma vida melhor. Se isos não foi alcançado é porque o sacerdote que procurou é ruim, seu santo foi mal feito, etc...

O merecimento é sempre lembrado como motivo para justificar o não benefício, geralmente por quem o fez, mas nunca lembrado quando o contrário ocorre, o benefício é atingido. A medida de atingimento de benefícios e prosperidade é a que justifica a permanência de alguém em uma casa.
Na minha visão a base da religião nesse sistema de troca entre o ọ̀run (órun) e o aiyé são uma das principais causas de problemas que se tem. 

As pessoas que se envolvem em religiões como o Candomblé e a Umbanda não podem viver com essa perspectiva. Uma religião não pode se focar ou incentivar esse comportamento porque jamais vai se encontrar.
Mais ainda, a falta de estrutura religiosa que permita a freqüência e participação de pessoas não feitas em terreiros versus a contínua pressão para que todos sejam feitos é uma questão fundamental.

 Essa não será uma religião se não criar categoria de envolvimento e iniciação. Quando os terreiros tiverem que conviver harmoniosamente com pessoas que não querem ou que jamais farão o seu santo eles conseguiram enfim achar um caminho religioso para sia existência. Hoje essa convivência é um estágio intermediário no qual a pessoa é continuamente empurrada ou incentivada a trocar de status de abian para iyawo.


A manutenção de terreiros através de clientelismo religioso é mais um outro mal. Esse processo de troca entre ọ̀run (órun) e aiyé deve acabar e isto ser um bem intrínseco da religião e não explícito. O aspecto da troca esta presente em todas as religiões em maior ou menor grau. 

Você dedica tempo, fé e recursos e espera do ọ̀run (órun), do sagrado, um retorno para a sua vida. Isso é natural, mas, algumas religiões moldarem isso com sabedoria, como a católica outras transformaram isso na sua bandeira como os evangélicos, mas que junto com a promessa de benefícios traz uma enorme dose de doutrina, dogma, moral e ética.
A perspectiva materialista


Na umbanda e Candomblé isso fica quase apenas na perspectiva materialista. O principal exemplo desse paradigma é a Umbanda. Como já expliquei aqui antes a Umbanda por si só não se caracteriza nenhuma religião. È um processo de possessão voltado em princípio para ajudar outras pessoas mas que deve se basear em alguma doutrina religiosa, qualquer uma porque a pratica da Umbanda exige mediunidade e não uma crença religiosa específica. Assim existem muitas umbandas, cada uma com uma combinação e entre comum apenas a incorporação com espíritos.


Os médiuns e principalmente os frequentadores se fixam sempre na solução de problemas da vida e materiais. A frequencia é determinada por isso e todos os que ali estão querem resolver algo novo toda semana.

 “Macumba boa é aquela que funciona”. As respostas a pergunta chave geralmente se traduzem em algo do tipo que a pessoa esta ali para elevação espiritual, mas essa resposta não sobrevive a uma segunda pergunta do tipo o que significa para ela essa elevação espiritual, como aquilo se traduzira na vida dela?


Esse problema não é exclusivamente do Candomblé. Esta muito presente também nos neo-pentecostais, contudo, apesar do muito excessos eles conseguem algum equilíbrio entre a realização espiritual e o sentimento de realização material. Tanto que as pessoa migram do Candomblé e Umbanda para eles.

Existe um tipo de pessoa e uma determinada faixa da população que coloca claramente essa questão material na frente da sua religião. Elas na realidade vão estar sempre buscando alguém que resolva os seus problemas e serão uma população migratória entre doutrinas e casas na busca de solução.


O circulo virtuoso
Eu poderia traduzir assim o circulo virtuoso. Uma pessoa que se dedica a essa religião deve encontrar base e orientação para através do contato com esse divino, através de exemplos e através de orientação, atingir um equilíbrio em sua vida na forma como a conduz e na forma como dedica o seu tempo para objetivos de realização. Equilíbrio é a principal palavra que traduz essa religião.


Uma pessoa religiosa é aquela que vive nesse mundo com a fé no divino. Uma fé forte e presente que a faz saber que sua vida existência esta sendo submetida e é controlada por uma força maior do que a dos homens, por uma lei maior do que a dos homens. Assim essa pessoa vive com a convicção de que não esta sozinha nesse mundo, o divino no ọ̀run (órun) esta sempre a zelar por ele. Uma pessoa de fé sabe que o mundo e as coisas são controladas pelo divino e não pela mesquinharia dos homens.


Essa pessoa vai se transformar em uma pessoa melhor para consigo mesma obtendo equilíbrio na forma como vive sua vida e se dedica a seus objetivos com ética e carater. Os seu orixá (òrìṣà) e ori vão buscar não somente ajudá-lo nesse equilíbrio como também ajudá-lo a enfrentar as diversidades de sua vida, amenizando problemas, e tornando-o transparente para seus inimigos. A própria conduta dessa pessoa, equilibrada consigo mesmo vai evitar que ela cria inimigos para sí.

O seu ori vai protegê-lo dos ajogun, os males que estão nesse mundo e que fogem ao nosso controle. A sua boa conduta vai permitir que oportunidades de abram em sua vida, que ele as veja e que consiga se aproveitar delas. Os caminhos dessa pessoa se abrem através do seu mérito como pessoa e através da proteção do divino para aquelas coisas que não forem plantadas por você mesmo.

Você como uma pessoa melhor vai ter condições de ajudar sua família e trazer também para ela esse equilíbrio. Mais pessoas assim serão beneficiadas por sua ação. O benefício para a família é um dos principais objetivos que uma pessoa deve ter em sua vida, seja por mantê-la unida seja por ve-la prosperar.

Uma vez atingido esse estágio você tera condições de ajudar a sociedade que o cerca, tendo assim conhecimento e experiência para transmitir para outras pessoas, ajudando a transformar e melhorar o mundo em que vive.

Uma pessoa religiosa deve ter uma pratica diária dessa religiosidade. A oração é o elemento de ligação entre o aiyé e o ọ̀run (órun). As palavras empregadas e sua repetição é o que o fazem. Uma pessoa deve de Fé deve estar ligada ao ọ̀run (órun) e deve ter em sua vida a pratica da oração.

Além disso a pessoa que vive com Fé deve se lembrar desse divino ao longo do seu dia. Seja quando tem uma dificuldade seja quando algo de bom ocorre com ele porque o mesmo ouvido que serve para ouvir pedidos de proteção e ajuda também server para ouvir agradecimento.

Uma pessoa de Fé deve ter uma pratica religiosa diária e semanal para si que não dependa do sei terreiro para que ela busque através dessa ligação com o ọ̀run (órun) o equilíbrio e o Iwa pele que vão trazer tudo de bom para a sua vida.

Uma pessoa de Fé deve saber como se dirigir a seu orixá (òrìṣà) e Ori e como receber deles as mensagens que precisa para poder viver melhor o seu dia e vida.

fonte: http://babaninodeode.blogspot.com.br/2011_01_01_archive.html