CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

terça-feira, 29 de abril de 2014

Riqueza de Obará



Conta a Lenda da Riqueza de Obará que eram dezesseis irmãos, Okaram, Megioko, Etaogunda, Yorossum, Oxé, Odí, Edjioenile, Ossá, Ofum, Owarin, Edjilaxebora, Ogilaban, Iká, Obetagunda, Alafia e Obará. 

Entre todos Odu  Obará era o mais pobre, vivendo em uma casinha de palha no meio da floresta, com sua vida humilde e simples.

Um dia os irmãos foram fazer a visita anual ao babalaô para fazer suas consultas, e prontamente o babalaô perguntou: Onde está o irmão mais pobre? 

Os outros irmão disseram-lhe que avia se adoentado e não poderia comparecer, mas na verdade eles tinham vergonha do irmão pobre. 

Como era de costume o babalaô presenteou a cada irmão com uma lembrança, simples, mas de coração e após a consulta foram todos a caminho de casa. 

Enquanto caminhavam, maldiziam o presente dado pelo babalaô, Morangas? 

Isso é presente que se dê? Abóboras? .

A noite se aproximava e a casa de Obará estava perto, resolveram então passar a noite lá. 

Chegando a casa do irmão, todos entraram e foram muito bem recebidos, Obará pediu a esposa que preparasse comida e bebida a todos, e acabaram com tudo o que havia para comer na casa. 

O dia raiando os irmãos foram embora sem agradecer, mas antes lhe deixaram as abóboras como presente, pois se negavam a come-las.

Na hora do almoço, a esposa de Obará lhe disse que não havia mais nada o que comer, apenas as abóboras que não estavam boas, mas Obará pediu-lhe que as fizesse assim mesmo. Quando abriram as abóboras, dentro delas haviam várias riquezas em ouro e pedras preciosas e Obará prosperou.

Tempos depois, os irmãos de Obará passavam por tempos de miséria, e foram ao Babalaô para tentar resolver a situação, ao chegar lá escutaram a multidão saldando um príncipe em seu cavalo branco e muitos servos em sua comitiva entrando na cidade, quando olharam para o príncipe perceberam que era seu irmão Obará e perguntaram ao Babalaô como poderia ser possível e ele respondeu: Lembram-se das abóboras que vos dei, dentro haviam riquezas em pedras e ouro mas a vaidade e orgulho não vos deixaram ver e hoje quem era o mais pobre tornou-se o mais rico.

Foram então os irmãos ao palácio de Obará para tentar recuperar as abóboras e lá chegando, disseram a Obará que lhes devolvessem as Abóboras e Obará assim o fez, mas antes esvaziou todas e disse: Eis aqui meus irmãos, as abóboras que me deram para comer, agora são vocês que as comerão. 

E quando o babalaô em visita ao palácio de Obará lhe disse: Enquanto não revelares o que tens, tu sempre terás. 

E foi assim que se explica o motivo que quem carrega este Odú não pode revelar o que tem pois corre o risco de perder tudo, como os irmãos de Obará.



Abril o Mês de Oxossi ( Erínlè )




O culto de Erínlè nasce no Odu de Òkànràn Ogbè. 

Seu culto está centrado ao redor do rio Erínlè, um rio tributário do rio Òsun, que atravessa a cidade de Ìlobùú (Ilú Òbú ou cidade de Òbú), localizada ao sul da Nigéria Ocidental, na estrada de Ogbomoso para Osogbo (estão situadas aproximadamente dez milhas a oeste de Osogbo).

 Ele é a divindade patrona de Ìlobùú.

 Ìlobùú é um centro de comércio para o inhame, milho, mandioca, óleo de dendê, abóbora, feijão, quiabo e está em uma área de savana habitada principalmente pelos Yoruba.

Òbú é um tipo de giz nativo (efun) e é comestível.

 É usado para temperar comida e era um dos temperos principais, muito antes do sal, da mesma forma que o aró-àbàje (uma tintura azul comestível) é usado para temperar comidas como o ekuru aró.

Tido como filho de Ainá, Erínlè é considerado por muitos como filho mítico de Yemoja e de Olokun. 

É um Òrìsà caçador, pescador e um médico, por conta do seu grande conhecimento da floresta e da flora.

Este Òrìsà, enquanto médico dominou, antes que Osányìn, o poder da botânica.

Não é incomum para os sacerdotes de Erínlè carregarem um cajado (òsù) semelhante ao que carregam os sacerdotes de Osányìn e de Ifá devido à importância deles como curandeiros medicinais.

Sabe-se que ele conhece o poder curativo do Eja aro. 

Essa medicina nasce em Òkànràn Òfún. 

O peixe seco (eja aro) é conhecido em Nupeland e isso é revelado pelo caminho de Òkànrànsodè descrito abaixo e na conexão entre Erínlè e o exilado rei da Nupeland.

Há muitas variações no nome pelo qual Erínlè é conhecido. 

Assim, ele é comumente conhecido como Erínlè dentro de Egbado, Erínlè em Ìlobùú, Enlè em Okuku. Em Cuba e Trinidad ele é conhecido como Inlè ou Erínlè "Ajaja". 

Ajaja é um título honorífico que significa "Ele que come cachorro", "o que é feroz".

No Brasil, no Candomblé Ketu, ele é conhecido como Inlè e Òsóòsì Ibualama. Erínlè quer dizer: elefante (Erin) terra (ilè) ou terra-elefante. 

Erínlè é considerado por alguns como uma divindade hermafrodita, mas ele é adorado principalmente como uma divindade masculina em Yorùbáland.

 Ele é pensado por alguns estudiosos como sendo o aspecto masculino de Yemoja Mojelewu. 

O que parece consenso é que Erínlè mora na floresta com os irmãos Osányìn, Ògún e Òsóòsì, no cultivo com Òrìsà Oko, nas águas com Yemoja, Otin e Òsun.

A residência verdadeira dele seria o ponto onde o rio encontra o oceano, onde docemente se misturam as águas doces e salgadas.

No Candomblé Ketu é considerado que Erínlè tem dois caminhos ou aspectos. Um aspecto é considerado um velho caçador, Òsóòsì Ibualama. 

O outro caminho é mais jovem e mais delicado e bonito, normalmente chamado Inlè.

Na tradição Lukumi, Erínlè é acompanhado por Ibojuto e Abátàn. Abátàn (ou Abàtà = pântano) é a divindade da baixada.

Abátàn normalmente é considerado como a companheira feminina de Erínlè mas alguns reconhecem Abátàn como masculino. 

Quando Erínlè é assentado dentro da cerimônia de iniciação, Abátàn também é assentada. Ela tem canções e oríkì separados. 

Abátàn come com Erínlè e participa de todas as suas oferendas e sacrifícios.

Erínlè seria acompanhado por Abátàn, sua contraparte feminina.

 Duas divindades que se unem como um, embora distintos, eles funcionam juntos, como uma unidade. 

Há um equilíbrio, dando uma visão instantânea do caráter de Erínlè, uma mistura perfeita de energias masculina e feminina.

Na Nigéria, Erínlè tem muitas manifestações ou caminhos, conhecidos como ibú: Ojútù, Álamo, Owáálá.

É o oríkì de cada ibú que distingue entre os caminhos diferentes ou manifestações de Erínlè, como um se apresentando na sua coragem, outro como um caçador, outro ainda no poder presente na profundidade do rio. São cantados oríkì individuais a Erínlè no seu festival anual da mesma forma como também são invocados coletivamente.

O awo - ota - Erínlè ou otun Erínlè, é o nome dos recipientes usados dentro do culto de Erínlè (em Okeho é adicionalmente conhecido como aawe - Erínlè, onde tem uma forma totalmente diferente das encontradas em Ìlobùú e na maior parte da Yorùbáland). Potes fechados que guardam pedras e água são predominantemente associadas com divindades fluviais femininas, como aqueles encontrados nos cultos de Yemoja e Òsun. 

O awo - ota - Erínlè é o recipiente

tradicional para guardar os ota de Erínlè. Sacerdotes de Erínlè dançam em procissão como parte do festival anual de Erínlè em muitas partes de Nigéria. 

Para o festival, sacerdotes trazem com eles o próprio awo - ota - Erínlè para o festival no rio de Ìlobùú.
Quando a possessão acontece, Erínlè dança com o awo - ota - Erínlè colocado no alto da cabeça.

O òpá òrèrè (osu/cajado com o pássaro de ferro) de Erínle representação para os seus seguidores da importância de Erínlè como curandeiro. A divindade mais amplamente conhecida com o mesmo símbolo é Osányìn. O cajado é feito de ferro.

Sempre é mantido em pé. Pássaros de ferro empoleiram-se no topo. A maioria dos exemplos mostra um grande pássaro central cercado por pássaros menores. 

Não há diferenças significativas entre os cajados de Erínlè e de Osányìn encontrados na Nigéria, cada cajado é uma peça autorizada e única e assim os estilos variam imensamente.

Porém há dois desenhos comuns do cajado de Osányìn feitos dentro da perspectiva dos awo em Yorùbáland.

É comum se ver um cajado relativamente curto com um grande pássaro em seu topo e com 16 pássaros menores, em um arranjo circular, que olham para o pássaro mais alto, central. 

Lá também pode ser encontrado um òpá/osu Osányìn alto, com um só e único pássaro e quatro cones de metal invertidos, as aberturas deles coberta por disco de metal para guardar medicamentos; seguro levemente na parte mais baixa do cajado (este cajado também é encontrado na tradição Lukumi, sua especificação é considerada um requisito de Odù).


Deve ser acentuado que os cajados de Erínlè e Osányìn nas terras Yorùbá são encontrados em muitas variações no número de pássaros, formas e estilos. Foi sugerido que os 16 pássaros menores representam a divindade Odù e os Olódù de adivinhação.

 As curvas graciosas destes pássaros estáticos também podem ser confundidas com um agrupamento permanente de folhas de metal.
Tais folhas, que não morrem, são uma lembrança visual forte para Osányìn e os medicamentos de Erínlè!

O pássaro de coroamento é, segundo muitos, um símbolo do poder sobre/pacto de Osányìn e Erínlè com as Ìyáàmi. São os medicamentos herbários de Erínlè e Osányìn que podem neutralizar ou contrapor-se aos ataques pelos aspectos negativos de Ìyáàmi. 

Eleye significa "mulheres que possuem e são pássaros", sendo os pássaros os mensageiros de Àjé/Ìyáàmi. Estes mensageiros também podem ser vistos em muito da estatuária religiosa e do simbolismo real, como por exemplo, no alto da coroa dos Oba. Ìyáàmi é em essência o às feminino primordial, que pode ser potencialmente benéfico ou maléfico (em condições judiciosas). 

Os símbolos de pássaro lembram aos líderes congregações que ninguém está acima das forças invisíveis que precisam ser apaziguadas.

As Ìyáàmi representam a gênese, as guardiãs e as doadoras do àse na terra.Boyuto ou Ibojuto é encontrado em todos os santuários Lukumi para Erínlè. É descendente do òpá Erínlè encontrado entre os Yorùbá. Boyuto leva seu nome de uma das qualidades ou caminhos de Erínlè.

Este aspecto de Erínlè está ligada a profundidade impressiva do rio Erínlè.

 É dito que nesta profundidade é encontrado o reino mítico de Erínlè, chamado Ode Kobaye. "Esta profundidade escura do redemoinho é chamado Ojuto. 

Acredita-se assim, profundamente, que as duas casas históricas (ilé pètésì) teriam sido tragadas para cima (emergido) dentro das correntes coloridas de índigo. 

Do fundo do ibu Ojuto, assim é acreditado, bandos (escoltas) de pombos voam para acima das águas e desaparecem no ar.

" (Baba Erinlè de Ílobúù falando com R. F. Thompson no local de rio Erínlè, em Ílodúù, 1994). Boyuto ou Ibojuto é também conhecido comumente com osu de Erínlè.

Òkànràn Ogbè - O nascimento do culto de Erínlè.

Um Itan do Odu Ònkànràn Ogbè conta a história de um homem Nùpe (Tápà) com o nome de Àyònù que veio para a região de Ílobùú. Ele era o herdeiro da coroa em sua terra natal porém devido a algumas manobras políticas o título lhe foi usurpado e ele foi forçado a fugir da cidade - ele teria sido morto para destruir a possibilidade de qualquer reivindicação futura à coroa.
Àyònù veio para Ìlobùú para caçar e ajudar a um caçador nativo que tinha uma estranha aparência. 

O amigo percebeu que Àyònù, embora mostrando-se apto nas habilidades da caça e agudo em aprender todos os segredos possíveis, não vivia sua vida conforme um caçador. Àyònù contou sua história para o amigo caçador. 

O amigo era Erínlè mas ele não o conhecia pelo nome porque os caçadores não mencionam nomes no mato para não serem afetados por nenhum dos espíritos animais.

Caçadores referem-se uns aos outros simplesmente como Àwé. 

Erínlè, por seu turno, contou para Àyònù sobre sua casa, um palácio que ele tinha embaixo da terra. Ele golpeou o chão com a palma de sua mão, a terra abriu-se e os dois desceram para o palácio subterrâneo.

Erínlè tinha estado caçando por um longo tempo e, assim, ele decidiu fazer um pacto com Àyònù. Erínlè prometeu para Àyònù um nova coroa para recompensá-lo pelo título que ele havia perdido em sua terra natal. Ele disse para Àyònù que, por tanto tempo quanto ele continuasse a lhe trazer comida de caça, ele o compensaria com um título novo. 

Erínlè também prometeu que a guerra nunca afetaria o reino dele. Erínlè e Àyònù consolidaram seu pacto e Erínlè retirou-se para seu palácio na terra. 

Ele disse para Àyònù que se ele precisasse dele novamente deveria chamá-lo golpeando a terra com a palma da sua mão. 

Àyònù nunca mais viu seu amigo novamente.

Àyònù construiu sua casa lá e logo outros caçadores vieram viver com ele, seguidos por fazendeiros. Uma cidade tinha sido estabelecida e disse: ire! Desde esta época a cidade de Ìlobùú nunca foi invadida ou afligida por guerra, mesmo durante o tumultuoso século dezenove marcado por muitos anos de conflitos civis na Yorùbáland.

Àwá ti Erínlè fi sodi o
Nós cultuamos Erínlè dentro de nossa fortaleza,
o Àwá ti Erínlè fi sodi
Nós cultuamos Erínlè dentro de nossa fortaleza,
o Ogun ò jà jà
A guerra não pode nos atacar,
Kógun ó jà¹loòbú
A guerra não pode nos atacar e afetar Loòbú.
Àwá ti Erínlè fi sodi
Nós cultuamos Erínlè dentro de nossa fortaleza

Porque a guerra e a escravização tiveram pouco efeito sobre o povo de Ìlobùú a fama de Erínlè espalhou-se através da Yorùbáland e o seu culto foi a partir daí estabelecido, expandindo-se além de sua região de origem.
oloje iku ike obarainan.


Culto de Matrizes Africanas e Ecologia




Seguindo este assunto que já foi assunto de algumas postagens reproduzo a seguir o conteúdo do material "oku obo espaço sagrado - educação ambiental para religiões afro-brasileiras"

A cartilha OKU ABO é uma ferramenta educativa criada pelo projeto OKU ABO - Educação ambiental para Religiões Afrobrasileiras, com o objetivo de resgatar o saber tradicional das religiões afro-brasileiras e promover a preservação do meio ambiente a partir desse resgate.

O material que transcrevi não é o texto integral da cartilha, mas, não fiz qualquer alteração ou edição no texto que reproduzo. Estão aqui os principais pontos, mas o folheto é muito bem feito. Quero ressaltar que harmonizar o Candomblé com a natureza e a ecologia não é uma coisa natural. É necessário empenho das pessoas nisso.

O que vemos hoje é justamente o contrário, as pessoas do Candomblé tem péssima educação e nenhuma consciência ecológica e até mesmo sanitária. Isso não tem que ser assim e esta realidade tem que mudar. A primeira atitude é reconhecer que este comportamento é geral, porque para variar cada um acha que o outro é que é o problema.

Assim os desinformados que pensam que existe uma preocupação natural de candomblecistas com a natureza, acordem, é justamente o contrário.

Iniciativa da cartilha é do terreiro de candomblé Ilê Omiojuaro, de Mãe Beata de Yemojá, em parceria com entidades religiosas, ambientalistas, pesquisadores e órgãos públicos, a cartilha foi elaborada com base emensinamentos ancestrais. Os nossos mais velhos contam que antigamente não encontravam tantos resíduos de vidro, plástico, papelão, compondo as oferendas afro-brasileiras. O dito progresso do mundo capitalista deturpou, dentre outras coisas, nossa maneira de tratar o meio ambiente. O povo-de-santo acabou incorporando valores que nada têm a ver com a nossa cultura, que nos afastam de nossa tradição e que hoje são usados para justificar mais preconceitos contra as religiões afro-brasileiras.

"“Meu filho, orixá é tudo isso que está aí... É o princípio da vida, está em todas as coisas. Por isso, tome muito cuidado, pois quando você
mexe em uma coisa, desequilibra outra”.

“Ohomem não percebe que ele não é nada. A gente está aqui de passagem. A terra vai comer tudo isso...”
“Está vendo essas mazelas que acontecem no mundo? É a natureza. São os orixás se revoltando com a agressão do homem a ela.”

(Ensinamentos da minha Yá, Olga do Alaketu)


Todo o espaço é sagrado para as religiões afro-brasileiras.

Èsù (Exú) - Caminhos, trilhas e encruzilhadas

Ògún (Ogum) - Ferro

Ò s ó ò s ì (Oxossi) - Florestas

Òsanyìn (Ossain) - Segredo das folhas

Obalúayé (Obaluaiê / Omolu) - Terra

Òsùmàrè (Oxumarê ) - Arco- íris

Sàngó (Xangô) - Raios, trovões e pedras

Irókò (Irôco) - A força física do povo de santo

Oya (Oiá/ Iansã) - Chuva, tempestade, vento

Ò s u n (Oxum) - Rios, cachoeiras

Yemonja (Iemanjá) - Mares e rios

Obà (Obá) - Grutas, cavernas e encontro das águas

Yewa (Euá) - Cosmos, mata virgem

Nàná (Nanã) - Pântanos e mangues

Òòsàálà (Oxalá) - Harmonia da natureza


“Como Ialorixá, eu oriento meus filhos de santo e
quem me procura para que tenham sempre
preocupação com nossas práticas religiosas no
ambiente em que vivemos. Aconselho todos os
sacerdotes a fazerem o mesmo.”

(Mãe Beata de Yemonja).


Áreas de Proteção Ambiental - APAs APAs são locais onde você pode realizar livremente suas oferendas. Servem para
diminuir os impactos nas reservas e parques, através de práticas sustentáveis, como:

• utilize recipientes biodegradáveis;

• não deixe sacos plásticos e embalagens nas APAs;

• rio e cachoeira: não coloque oferendas dentro do rio ou cachoeira e cuidado para não prejudicar a vegetação da margem do rio, porque é ela que o mantém vivo; 

• apresente sua oferenda, reze, faça seu pedido e depois a coloque fora da margem;

• mar: use materiais biodegradáveis, derrame os líquidos de garrafas e frascos de perfumes e retorne com objetos tipo
espelho, pente, sabonete, bijuterias, garrafas, etc.;

• rua, caminhos e encruzilhadas: não coloque oferendas no asfalto, mas no canteiro. Além de ficarem muito expostas, veículos geralmente passam por cima delas e quebram os recipientes, podendo causar acidentes;

• pedreiras: raspe a parafina das velas e coloque -a no lixo.


Sabemos que nossa tradição se baseia na troca, na generosidade, por isso nossos rituais são sempre muito ricos e fartos. Porém, 


lembre-se que orixá é simples, come no chão. Então, nunca devemos confundir riqueza com dinheiro e fartura com desperdício. Isso  

são valores da sociedade de consumo e não da tradição afro-brasileira.

Para os orixás e encantados a qualidade das oferendas é muito mais importante que a quantidade. As porções das oferendas e ebós 


devem ser proporcionais àquelas destinadas a uma pessoa (200g a 500g).

A oferenda começa desde a hora do preparo. Compartilhe o axé com seu orixá. Na tradição afro-brasileira não se
desperdiça nada. Podemos observar que até hoje, em muitas casas, todas as partes dos animais sacrificados e as comidas são 


consumidas. Cerca de 10%, o axé do santo, é consumido pelos iniciados, e o restante é destinado ao público.

Ainda é comum nos candomblés, que todas as comidas de santo - omolocu, farofa de azeite de dendê, feijão preto temperado com azeite e camarão, xinxin de galinha, caruru, vatapá e o famoso acarajé - sejam servidas ao público.


Todas as religiões realizam oferendas. Os católicos dão a hóstia e o vinho; os judeus sacrificam um cordeiro na páscoa; os orientais dão alimentos e objetos; ou seja, não somos diferentes de ninguém. Por isso, fique tranqüilo ao realizar sua oferenda.

• As oferendas devem ser realizadas dentro do terreiro, sempre que possível.

• Os alimentos cozidos devem ser consumidos ou enterrados após o tempo mínimo de exposição. O que sobra pode e deve ser enterrado ou 



encaminhado para a compostagem, para produção de adubo orgânico. Isso é uma prática utilizada inclusive na África, berço dessa religião.

• Consulte a autoridade religiosa do seu terreiro sobre o tempo mínimo de permanência de exposição.

• Recolha sempre todos os resíduos de suas oferendas religiosas do meioambiente.

• Cantar, tocar, dançar são opções de oferendas que não deixam lixo. Podemos realizá-las em qualquer espaço, exceto nas reservas biológicas.

• Pergunte sobre restrições ao uso de som. Atabaques podem causar um forte impacto em determinadas áreas, como grutas e cavernas. Já em outras, não.


Dê sempre preferência a materiais biodegradáveis na prática do culto. Minimize o impacto causado na natureza.

• Alguidares, louças, copos e garrafas quebram com facilidade e causam ferimentosempessoas e animais.

• Copos e garrafas podem ser substituídos por cabaças, cuias de coco ou bambu.

• Para substituir os recipientes de louça ou barro, uma alternativa é o uso de folhas.

• Bananeira, mamona ou morim, podem forrar o fundo dos alguidares e louças.

• Após o ritual, deixe as folhas com as oferendas e retorne com os recipientes.

• Lembre-se de recolher todos os resíduos após o tempo mínimo de permanência. Isso tudo pode alterar a estética da oferenda, mas o resultado final compensa.

O fogo é um elemento imprescindível para as religiões afro-brasileiras, porém devese usá-lo com muita cautela, devido ao seu poder devastador.

• Antes de depositar sua oferenda na natureza, acenda as velas no terreiro.

• Se tiver que acender uma vela, faça-o somente em locais onde você possa se responsabilizar. Espere até que ela se apague.

• Aproveite o tempo para rezar e sentir a energia do ambiente em volta.

• Não deixe velas acesas nos pés das árvores. Você pode causar incêndio, além de causar dor nas árvores, pois elas são seres vivos.

• A questão não é religiosa. Provocar incêndio é proibido por lei e você pode ser preso por isso.


O que não puder ser reaproveitado com o mesmo fim, deve ser reciclado, ganhar nova roupagem e novo uso.

A louça usada nas oferendas pode ser lavada, fervida e reutilizada como recipiente de novas oferendas ou como utensílio no terreiro. 





Já os alguidares, por serem de barro e porosos, são de fácil contaminação para serem reutilizados na culinária e no ritual. Devem ser fervidos e podem ser reciclados se forem triturados e usados como terra. Também podem ganhar uma pintura decorativa e você pode fazer três furos no fundo deles, transformando os em vasos de planta. A questão é usar a criatividade a serviço do bem comum.

Veja o tempo de decomposição de alguns materiais:

Barro curado: 10 anos
• Celofane: cerca de 100 anos
• Cerâmica vitrificada: cerca de 500 anos
• Filtro de cigarro: 10 anos
• Madeira: 10 anos
• Metais: 100 anos
• Moedas: 200 a 500 anos
• Papelão: 2 a 4 meses
• Plástico: cerca de 500 anos
• Tecido de algodão: 10 anos
• Velas: até 3 anos

Atenção: o mercúrio (azougue) é cancerígeno e não pode ser manipulado sem proteção


Tenha responsabilidade com a limpeza dos espaços sagrados. Mantê-los limpos coloca-o empermanente contato com o axé dos orixás.

• Se tentarmos destruir a natureza, nós é que morreremos.

• Nunca deixe sacos plásticos, garrafas, velas e recipientes na natureza.

• Antes de realizar sua oferenda, faça sempre uma faxina na área, retirando restos de outras oferendas, embalagens e outros resíduos, seja a área na natureza ou no próprio terreiro.

• Leve sempre sacos de lixo e luvas plásticas para a coleta de resíduos. Se não encontrar coletores, feche os sacos e transporte-os para o coletor mais próximo.

• Organize mutirões de limpeza com sua comunidade ou participe de grupos de voluntários dos parques e das reservas próximos a sua casa.


O material é assinado pelo Aderbal, filho de Beata.

Aderbal Ashogun é baiano, nascido no terreiro do Alaketu. Promove ações afirmativas como músico, ativista ambiental e produtor cultural. Participou da ECO 92, quando comecou a coordenar o projeto OKU ABO. É consultor do IBAMA para Práticas Religiosas em Unidade de Conservação. Realizou oficinas internacionais de cultura afrobrasileira em Madri e Londres (1998), produziu e tocou no cd Cantigas de Candomble (2000), gravando 57 cantigas na língua ioruba, com intuíto de preservá-las. Participou do Fórum de Espiritualidade e Sustentabilidade da Água, em Taiwan, 2004. Foi palestrante em inúmeros seminários, entre eles o 9º Congresso Mundial de Tradição e Cultura de Orixá (UERJ, 2005) e o Iº Seminário contra o Racismo Ambiental (UFF, 2006). 

 fonte: http://blog.orunmila-ifa.com.br/2012/02/candomble-e-ecologia-seguindo-este.html


Candomblé e Ecologia já !!!




Continuando neste assunto eu gostaria de comentar sobre minhas próprias posições sobre o assunto. 

Eu já me manifestei em grupos que participo, mas, quero deixar aqui no blog minha posição.

Lembro que em texto anterior já transcrevi o conteúdo de uma cartilha sobre o assunto que foi iniciativa de uma outra pessoa e que faço e sempre farei questão de divulgar.  

Minha opinião é que as pessoas  no candomblé, normalmente, ou são ignorantes ou se fazem de ignorantes porque elas usam o discurso fácil de que protegem a natureza ou fazem parte de uma religião ligada com a natureza e na realidade fazem parte de um grupo totalmente distinto, o das pessoas que não tem nenhum respeito pela natureza.

É um misto de hipocrisia e ignorância, onde prevalece o segundo, as pessoas são de fato ignorantes mesmos, não tem conceitos básicos de educação ambiental. 


Minhas posições são as seguintes:

Sobre Folhas

- Não existe candomblé ou Ifá sem folhas. 

Se você não tem acesso a folha não vai poder fazer nada. 

Acaça não se faz em pia ou em bandeja. 

Se não conhece folha então não tem capacidade para fazer nada no Candomblé e Ifá. 

Se esta distante de matas ou locais onde possa comprar, vai ter que ir longe para buscar isso, mas, sem folhas não se faz NADA.

Tem um monte de gente ignorante ou preguiçosa que acha que pode fazer as coisas sem folhas. 

- seja consciente na retirada de folhas de matas. procure retirar apenas o que vai usar e nunca retire toda a quantidade de uma mesma árvore ou folhagem. 

Retire de várias de forma a deixar a possibilidade de recuperação e procure sempre pegar em distâncias maiores para evitar destruir a mata na sua proximidade

- Procure plantar as folhas que usa. 

O Candomblé é um grande consumidor de folhas e deve devolver esse consumo para a natureza. 

Essa coisa de terreiro de Candomblé urbano, tocado em quintal ou varanda é impossível, ou melhor ridículo. Candomblé exige espaço. 

Existe uma distância muito grande entre o que uma pessoa quer e o que ela pode e tem que que fazer.

- Não use banhos vencidos. Orixá é limpeza e cheiro bom. 

Se a pessoa é suja, não confunda isso com o Orixá.

- Saibam que retirar folhas de reservas vegetais é crime!


Sobre ebós

- seja cuidadoso com a quantidade de alimentos, grãos, farinhas, legumes e frutas que usa em ebós. 

Não pode existir desperdício, não de deve jogar foram alimento que pode fazer falta para outros.


- Em qualquer lugar que faça o seu ebó, recolha todo o material que for passado na pessoa. 

Após passar o que entende que é necessário, limpe sua SUJEIRA. Recolha tudo. 

Leve ferramenta para isso e se for o caso passe em cima de uma peça grande de morim para facilitar. 

Tudo o que for passado deve ser recolhido.

Existem ebós que tem destino já determinado, mas, muito em muitos ebós o destino do material usado é incerto. 

Nesse caso incerto quer apenas dizer que muitos idiotas deixam o que usaram ali mesmo, no local em que fizeram o ebó.

Tem muita gente porca e ignorante que vai para uma mata passar ebó e ao invés de procurar um lugar na própria mata para fazer o seu trabalho passam o ebó no próprio caminho que as pessoas utilizam para ter acesso a mata.

- O que deve ser feito é:  recolher o material usado no ebó; não deixar restos no chão onde pessoas venham a trafegar.

Coloque em lugar afastado onde o material poderá ser consumido por animais e insetos ou mesmo de deteriorarem sem que isso traga transtornos para outras pessoas.

Se for cabível, enterre esses restos para que a própria natureza absorva o material, limpe sua negatividade.

- Não deixe lixo inorgânico no local como sacos plásticos e PETs. 

As pessoas apesar de serem profissionais no ofício de serem ebozeiros profissionais não se preparam minimamente. 

A cada ebó é uma montanha de sacolas de mercado que são deixadas no próprio local.

O correto deveria ser esses profissionais terem embalagens permanentes para isso, afinal eles ganham dinheiro com isso. Mas se eles são despreparados em caráter permanente que tenham o cuidado de recolher o seu lixo inorgânico ao deixar o local. 

As embalagens de que foram usadas para transportar o ebó NÃO são parte do ebó.

- Tome cuidado no uso de locais que são mananciais de água, poços, nascentes e rios.

O Candomblé é conhecido por destruir esses locais, transformando-os em lixeiras a céu aberto.

O resíduo que se joga no Rio, vai parar margem abaixo e ficar acumulado em pedras ou no próprio leito do rio. 

Só o fato de você não o ver não significa que o seu lixo simplesmente deixe de existir e como jogar para debaixo do tapete. 


Oferendas:
É uma das coisas mais complicadas.

As pessoas colocam na natureza e em locais de acesso público, peças de barro grossas, peças de louça, faiança e vidro, além de garrafas,  fazendo parte da sua oferenda e deixam esses materiais nos próprios  locais.

Comumente todo este material é exposto largamente em locais vistosos e bem espalhados.

O material orgânico entra em putrefação emporcalhando onde foi deixado, Esse material não perecível vai se quebrar trazendo riscos para as pessoas que transitam e usam o local em que foi depositado.

Já cansei de ir em rios e ver em cima de uma pedra uma enorme oferenda opodrecendo com copos de vidros e garrafas. Já vi gente se ferir em Rio ao pisar em cacos de vidro e louça.

Isso é um  crime.

É também muito comum as pessoas colocarem oferendas em suas casas e terreiros e depois, na hora de se desfazer delas, colocarem este material, já em putrefação nas ruas.

 Muitas vezes são até grandes matanças.

Elas dizem que aquilo é o correto. 

Mas, na minha opinião e prática, o correto é pegar isso tudo e enterrar.  

A terra vai consumir, nenhuma sujeira vai ser feita e o ciclo se reinicia.

Qual é o axé que se encontra dentro de um caminhão de lixo? 

Qual o axé que existe nas pessoas cuspirem naquela oferendam xingarem, virarem a cara, etc?

Assim o melhor destino a sua oferenda, se você tem apreço a ela é ter certeza do correto destino que vai dar a ela. 

Faça a sua oferenda, mantenha exposta em sua casa, recolha e enterre. Você vai ter certeza do início, do meio e do fim.

Se tiver que colocar alguma coisa na rua:

- faça algo pequeno
- Não coloque animais e nem faça matanças na rua
- não coloque embalagens, louças, garrafas, barro, etc..  coloque a oferenda em cima de uma folha. 

Líquidos podem ser colocados em cuités ou apenas entornados junto à oferenda, não existe sentido em colocar garrafas, taças e copos.


Animais:
Todos sabem que a religião afro considera o alimento uma comemoração à vida e o preparo de alimentos é uma etapa importante.

 O uso de animais faz parte disso e seu preparo, assim como o de outros elementos, é feito pela forma tradicional, do modo doméstico, sem o uso de componentes industrializados.

Mas, se você tem um terreiro tome cuidado com as regras sanitárias do seu município. 

Ninguém esta acima da lei.

Apesar do caráter sagrado e comemorativo que existe no uso de animais na religião, tenha cuidado para fazer o uso litúrgico disso o mínimo possível, não confunda suas necessidades pessoas com as necessidades litúrgica e não transfira para a liturgia a necessidade da sua própria dispensa.

fonte: http://blog.orunmila-ifa.com.br/2012/02/religiao-e-ecologia-continuando-neste.html


sexta-feira, 25 de abril de 2014

Uma Casa de Candomblé





Para existir um Ilê (casa de candomblé), é necessário um Babalorixá ou Yialorixá, competente, iniciado dentro da lei, seguindo rigidamente ao longo dos seus anos de iniciação suas normas e preceitos, pois somente assim terá o aval, o consentimento, o axé necessário para desenvolvimento das suas atribuições, atributos esses consignados por seu iniciador no nosso plano material, e seu consequente desempenho com resultados positivos junto à sua comunidade, que só serão obtidos com a aquiescência dos orixás que os monitoram de forma permanente, permitindo ou até mesmo interrompendo uma situação de resultados realmente significativos, quer seja na sua leitura esotérica ou no trato com o povo. 

Como ninguém planta de manhã para colher à tarde, um Ilê com axé, é estruturado com estudo, aprendizado, dedicação, humildade, respeito e principalmente, conduta ritual, a medida que vai "merecendo" os orixás vão lhe "dando" ao ponto de se obter uma estrutura suficiente, para o início das atividades de um novo Ilê.

 Em alguns casos, até mesmo por falta de um controle e fiscalização, por parte de uma Confederação legitimada, decorrente da não organização dos adeptos, muitos por conveniência, tem casas que são verdadeiros comércios (não pelo fato de cobrarem algum benefício financeiro para sua manutenção e sustento) pelo exagero dos valores pedidos, se aproveitando do medo e da inocência de algumas pessoas, outras instituem total libertinagem por conveniência de seus comandantes e comandados, outras pela sua ignorância ou mal iniciação, em vez de ajudarem acabam causando um mal maior, e, infelizmente somos abrigados a conviver com essas situações que denigrem como um todo a nação candomblecista; Mas como Oxalá é sublime essas barreiras de alguma forma são superadas, não colocando em risco a religião yorubá, e tão somente fornecendo subsídios à algumas alas de algumas Igrejas, que se aproveitam desses casos de exceções para se enaltecerem e nos escrachar, com objetivos de "angariar" mais fiéis, visando uma melhoria de arrecadação, mas como Deus é único, de alguma forma nos protege e seguimos adiante. 

As pessoas que frequentam uma casa de candomblé, basicamente são: praticantes, simpatizantes e usuários. 

A procura por esta religião tanto para prática como consulta, muito é em virtude de um atendimento pessoal e individualizado, em que as pessoas tem uma participação ativa, naquele instante a pessoa não é uma a mais numa multidão, mas o centro das atenções, de uma forma que possa canalizar toda sua fé, para obtenção do seu objetivo, e frise-se, a fé é fundamental e necessária para qualquer intento, onde cada um deve fazer o melhor possível a sua parte, no caso de quem está sofrendo a ação, comparecer fisicamente com o material no dia e hora marcado, quando solicitado ou orientado para tal, e fazê-lo com muita fé e dedicação. 



A hierarquia




Observância de uma hierarquia rígida é o instrumento que mantém permanentes as instituições, como o Estado, o exército, a religião... sua tradução literal expressa: ordem e subordinação dos poderes eclesiásticos, civis e militares; graduação de autoridade, correspondente às várias categorias.

 Em princípio, é o tempo de iniciação religiosa que conta, vale o ditado - antiguidade é posto - seguido do Oye (cargo) que a pessoa ocupe; o mais velho é sempre o mais velho, não importa que mais moço tenha seu cargo religiosos de maior importância; exceção única, feita ao Babalorixá ou Yialorixá, que por poder absoluto, está acima de todo e qualquer outro. 

De casa para casa ou de nação para nação, variam os cargos e seus nomes, e um ou outro detalhe da escala hierárquica.

 Via de regra são: - abians - por exprimir uma vontade de participar, ou escolhido a fazer parte da comunidade, recebe do babalorixá, um fio de contas "lavado" (colar ritual, símbolo do orixá do neófito), ou tenha se submetido a um bori (dar "comida" à ori , cabeça física e astral); participam no Ilê, ajudando com tarefas civis, nas festas, na limpeza e arrumação e decoração do barracão, preparo de café e almoço, alguma ajuda na cozinha ritual, onde são preparadas as oferendas dos orixás e demais tarefas afins.

 - Iyawô - o iniciado, também chamado de adoxú (aquele que levou adoxum ), neste período não lhes são revelados segredos, ficará recluso alguns (que variam de 7 a 21, conforme sua nação), num lugar chamado roncó ou camarinha, um quarto fechado, com algumas esteiras, é confiado aos cuidados do seu ojúbonà (pai-pequeno ou pai-criador) que o auxiliará e ensinará alguns comportamentos durante todo período da iniciação, o qual juntamente com o iniciado, manterá resguardo neste período. 

Em um primeiro momento é feita a raspagem do cabelo, símbolo de submissão e humildade e preparo do oxú (o alto da cabeça, a moleira astral, chacra principal do corpo humano) para as obrigações principais. 

Neste período o iniciado tem como objetivo principal receber axé, a qual será responsável, pelo seu aumento e manutenção, através da rígida observância, da sua conduta ritual. 

Completados sete anos de iniciação, os iyawôs , após fazem sua "obrigação" ritualística que os 7 anos requer, tornam-se ègbónmí (egbomi - "irmão mais velho"), e tem direito a Ter seu próprio Ilê com a benção e autorização do seu babalorixá, bem como Poderá fazer parte do grupo dos Oloiês.

 - Oloiês`-, podem adoxús ou não-adoxús; os OGÃS, que quer dizer - chefe - podendo em alguns casos, ter seus otuns e osis ; os postos de AXOGUN, ALABÊ, OGOTUN, AFICODÉ, IPERILODÉ, ELEMOXÓ, ILÊIGBÓ, PEJIGAN em paralelo a IYAEGBÉ, IYAKEKERÉ (mãe pequena), BABÁKEKERÊ (pai pequeno), YIÁMORÔ, AJOIÊ ou EKÉDE, DAGÃ, SIDAGÃ, em casa de Xangô, o cargo da KOLABÁ, a IYÁ SIHA (relacionado a um ato litúrgico de Oxalá), IYÁEFUN (BABÁ), IYÁLOSSAIN (BABÁ), IYÁBASÉ. 

Mais especificamente no ILÊ AXÉ OPÔ AFONJÁ tem os OBÁS DE XANGÔ, seis da direita (otuns), com voz e voto; seis da esquerda (osis) somente com voz. 

- Agbá - duas condições a um só tempo: a) antiguidade iniciática (mais de 50 anos); b) antiguidade cronológica (mais de 60 anos). 

- Iyálorixá - (Iyálaxé)/Babalorixá. Uma fila hierárquica, a exemplo da que acontece nas "Águas de Oxalá" assim e procede: Iyálorixá (babá), seguindo os demais Adoxú, quer sejam oloiês ou não, de acordo com o tempo de iniciação, sempre o mais velho na frente do mais moço, sendo a segunda da fila a(o) Iyáegbé (mais velho(a) adoxú do axé e segue a fila de acordo com o tempo de iniciação, atrás do último adoxú, alternando-se ogans e ajoiés, de acordo com o tempo de confirmação, atrás virão ao abians. 

O mais velho é tudo; sempre se é iyawô para o imediato "mais velho", no próprio "barco" (mais de um iniciado recolhido ao roncó para iniciação) de iyawôs encontramos a figura do mais velho, chamado dofono , e sucessivamente dofonitinho, fomo, fomotinho, gamo gamotinho... ao dofono é aquele a quem se pede a benção em primeiro lugar, devendo, este, contudo, ser o primeiro a servir seus demais irmãos mais moços.

 É muito importante o mais velho se colocar no difícil papel; é o responsável - sem que muitas vezes saiba - pelo futuro do seu mais novo, seus anseios, esperanças, fantasias... 


Uma Casa de Candomblé ( A quizila e as proibições )



A quizila é uma forma de reação negativa que atinge as pessoas, quer seja fisicamente, causando algum mal estar, ou, na vida pessoal gerando algum "atrapalho" ou perda; e, acontece quando comemos ou fazemos algo que não devemos.

 Todos os orixás tem suas quizilas, e como filhos devemos respeitá-las, por exemplo: não devemos comer determinadas comidas, que são oferecidas aos orixás, pelo fato que, quando oferecemos à eles esta comida, eles "transformam" as energias daquela comida, em energia positiva para nós, das quais estamos precisando constantemente, portanto é comida do orixá, não nossa. 

A quizila, em alguns casos, é como se fosse uma "alergia" natural, que comemos alguma coisa, e imediatamente temos uma reação alérgica, porém a mais perigosa é aquela que não sentimos de imediato alguma reação, o que erradamente leva alguns filhos de santo, usarem, um sistema, Ah! 

Eu comi, não fez mal, não terá problema, aí é que se enganam, pois a reação virá quando menos esperam, atingindo de alguma outra forma. 

Os iniciados sabem o que devem respeitar, se não o fazem é por serem descompreendidos, evidente que há casos de desconhecimento, por uma má iniciação, e muito mais valor terá, se gostarmos daquilo que não podemos, pois é muito fácil se evitar, o que não gostamos. 

As proibições mais comuns, são com relação a determinadas comidas, temperos, folhas, bebidas, cores...


o tradicional Ile Ase Omo Yemoja celebra no Mês de Abril o Deus da Caça e toda a sua família !



Oxóssi


No grupo Òdé - caçadores - sobressai Oxóssi , está ligado à terra virgem.

Possui muita importância em Kétu, torna-se Alákétu (Rei do Kétu). 

É àxèxè (princípio dos princípios) dos descendentes de Kétu.

Os Oge (chifres de touro) fazem a comunicação entre o Aiyé e Orún, chamados de: Olugboohun - o senhor escuta a minha voz.

Ìrùkèrè (Èrùkèrè) - espécie de cetro feitos com pelos do rabo de touro, presos em um couro duro, constituindo um cabo, e revestido com um couro fino, ornado com contas e cauris (búzios). 

É um dos principais instrumentos dos caçadores e detém poderes sobrenaturais. 

Na África nem um caçador, se aventuraria, a ir à floresta sem seu ìrùkèrè. 

É preparado com pós e remédios de diversos tipos, assim como folhas e fragmentos triturados dos animais sacrificados. 

Antes de serem presas, as raízes dos pelos devem durante algum tempo, ficar imerso num pote com uma combinação de elementos que constituem um axé especial, que lhe conferirá suas atribuições necessárias. 

Não é apenas mais um emblema, tem o poder de manejar e controlar todo tipo de espíritos da floresta.

Os pelos do rabo - parte posterior (poente) - representam os ancestrais, espíritos de animais e de todo tipo de espírito da floresta.

Deus da caça, ligado às matas, irmão mais novo de Ogun, Odé é também parte dos orixás masculinos cujos princípios também são feitos de ferro.

Alegre, jovial, expansivo e irrequieto, tem enorme popularidade na Bahia onde também é conhecido pelo nome de Oxóssi (Òxòósi).

Na África teria sido o irmão caçula ou filho de Ogun, com importância, como protetor dos caçadores; na medicina, pois os caçadores passam grande parte de tempo em contato com Ossain na floresta, divindade das folhas terapêuticas e litúrgicas, e, aprendem com ele parte do seu poder; na ordem social, pois em suas caças e expedições, descobre lugar favorável à instalação de uma nova roça ou de um vilarejo, tonando-se assim o primeiro ocupante do lugar e senhor da terra onílè, com autoridade sobre os habitantes que venham a se instalar posteriormente; de ordem administrativa e policial, pois antigamente os caçadores odé, eram os únicos a possuir armas nos vilarejos, servindo também de guardas-noturnos òxó.

O culto de Oxóssi encontra-se quase extinto na África mas bastante difundido no Novo mundo, tanto em Cuba como no Brasil, pois seus iniciados foram vendidos como escravos para esses países; Eles trouxeram consigo o conhecimento do ritual. 

Suas cores são azul esverdeado, seu símbolo, o ofá, um arco e flecha em ferro forjado (hoje, outros metais) e o erukere , insígnia de dignidade dos reis da África e que lembra ele ter sido rei de Kêto.


Qualidades:

1) Orè ou Orèlúéré
2) Inlé ou Erinlè, ou ainda Age
3) Ibùalámo
4) Fayemi
5) Ondun
6) Asunara
7) Apala
8) Agbandada
9) Owala
10) Kusi
11) Ibuanun
12) Olumeye
13) Akanbi
14) Alapade
15) Mutalambo



segunda-feira, 14 de abril de 2014

Caroço de Dendê



"Quando o mundo foi criado, o caroço do dendezeiro teve uma grande responsabilidade dada por Olorum, a de guardar dentro dele todos os segredos do mundo.

 No mundo Iorubá, guardar segredos é o maior dom que Olorum pode dar a um ser humano. 

É por isso que todo caroço de dendê que tem quatro furinhos é o que tem todo o poder. 

Através de cada furo, ele vê os quatro cantos do mundo para ver como estão as coisas e comunicar a Olorum.

 E mais ninguém pode saber desses segredos, para não haver discórdia e desarmonia. 


É por meio dessa fórmula que o mundo tem seus momentos de paz. 

Existe também o caroço de dendê que tem três furos, mas a esse não foi dada a responsabilidade de guardar os segredos"

(Caroço de Dendê - a sabedoria dos terreiros - como Ìyálórìsà e Babalórìsà passam conhecimento a seus filhos. 

Rio de Janeiro: Pallas Editora,1997)


ORIXÁ, DIVINDADE AFRICANA




(Postado em 11/06/10 no www.elianehaas.blogspot.com - cabendo observar que não se trata de um texto para iniciados, mas destinado a leigos interessados)

Segundo a concepção yorubá, que no âmbito afro-brasileiro é predominante e conhecida como Ketu ou Nagô, os Orixás são energia pura e expressão das facetas múltiplas da Suprema Inteligência Universal ( Olodumare / Olorun ), divindades primordiais que estiveram presentes na formação do planeta Terra e presidem, até hoje, as atividades dos diversos reinos da natureza.


São um componente dessas forças e estabelecem também uma espécie de elo entre a humanidade e o Ser Supremo – já que cada ser humano é, energèticamente, proveniente desses elementos vitais.


Na qualidade de entidades pertencentes a uma hierarquia não humana, não compartilham conosco a capacidade de verbalização e a forma de cultuá-los é ùnicamente através do ativamento e direcionamento das suas energias particulares.


Isto tem a ver com a manipulação de energia que se chama magia e não com atividades devocionais ligadas a orientação ou doutrinação, pedidos e recompensas.


A energia vital – axé – que permeia todas as forças da natureza é parte do Orixá, representa o seu aspecto inteligente e estabelece um elo entre a humanidade e Olodumare.


Os Orixás são Seres Divinos emanados diretamente da Divindade Suprema Universal e atuam de acordo com as funções que lhes são delegadas por Olodumare, inclusive como mediadores entre o Grande Mistério e os seres humanos. A criação da Vida na Terra foi delegada ao Orixá Obatalá ( o Rei do pano branco que esconde a Vida e a Morte ), que com o seu ofu-rufu (o sopro divino) permeou várias outras dimensões além da material. Dele emanaram os outros Orixás, com a tarefa de exercer domínio pleno sobre os diversos reinos e elementos da natureza terrestre, sempre dentro dos limites e tarefas por Ele estabelecidos.


Há um itan (mito) que relata como “o corpo de Obatalá foi atingido e partido em mil pedaços. Ao receber a notícia, Olodumare designou Orunmilá para recolher todas as partes e traze-las de volta. Recolheu-os numa grande cabaça, assegurando o seu renascimento no Orun. 

O restante foi espalhado por todo o mundo, fazendo com que de cada um nascesse uma divindade”.

Por esta razão, considera-se Obatalá o Orixá maior, aquele que tudo abrange e dentro do qual todos os outros estão contidos – como a cor branca contém todas cores. O termo Orixá foi, inicialmente, utilizado para designar Obatalá, conhecido como Orisa nla ou Osaala ( o grande Orixá), tornando-se, posteriormente, comum a todos.


A concepção de características antropomórficas deve-se à condição arquetípica que lhes é inerente. No entanto, cabe ressaltar que os Orixás não pertencem à cadeia de evolução humana. Como personificação das mais violentas , grandiosas e incontroláveis forças da natureza, força pura, axé (energia vital) esmagador, é evidente que Orixá desvincula-se da cadeia cármica da evolução humana.

Conceber Orixá como um ancestral humano divinizado é um belo mito que confirma a filiação humana a determinada linhagem dos reinos da natureza com seus quatro elementos: água, terra, fogo e ar. Ancestrais humanos podem ter se tornado encantados, pois a gama de seres divinizados tutelares é imensa. 

Aliás, antes da ruptura entre o Orun ( o além, fora da dimensão física ) e o Aiyê (o mundo material, terreno) – seres pertencentes a hierarquias não-humanas engravidaram mulheres, dando origem a estirpe dos chamados “semi-deuses” , vastamente mencionados, por exemplo, na mitologia grega.


Diante de recentes teorias que ousam atribuir a origens não-terrestres o progresso tecnológico e feitos arquitetônicos não condizentes com o adiantamento das civilizações de eras remotas, poderiam os Orixás “antropomorfizados” estar incluídos nesses grupos. Humanos ou não, é importante notar que deles se originaram as primeiras instruções registradas, com relação ao corpo ritualístico / mágico das mais antigas práticas religiosas da Terra.

Os Orixás constituem energia pura que interfere, também, na existência dos seres humanos, já que conosco compartilham da natureza terrestre e concorrem diretamente para a nossa formação como seres individualizados que somos. No momento em que o ser humano vem a ( re - ) encarnar, aceitando o seu destino, seus corpos são criados com a energia predominante de um Orixá e a de outros, em menor grau, formando assim um complexo inédito.


Em virtude de tanto se falar em Orixá dentro dos mais variados contextos, cabe ressaltar que Orixá é africano, concebido e cultuado de forma eficiente sòmente quando de acordo com a tradição contida no que se chama “corpo literário de Ifá” - assunto que abordaremos em outra ocasião.


Isso não impediu que, absorvidos através do sincretismo afro-brasileiro e assimilados pela Umbanda, sejam freqüente e errôneamente concebidos como espíritos ligados aos diversos elementos da natureza, porém que, já liberados do processo reencarnatório, dariam continuidade a sua evolução espiritual, mediante a missão de organizar e orientar uma legião de espíritos menos adiantados. Cada pessoa estaria ligada a um ou mais desses Orixás e suas características, deles recebendo proteção e auxílio.


Por conta desse sincretismo forçado, costuma-se , na Umbanda, associar um Orixá à imagem de algum santo católico. No entanto, Ogun não é São Jorge , Iansã não é Santa Bárbara e tampouco Yemanjá encarnou no corpo da Virgem Maria, mãe de Jesus. 

Esses personagens históricos jamais poderiam, dentro da limitação da sua condição humana, atingir a dimensão de uma manifestação Divina como é o Orixá. Então, quando um médium de Umbanda encorpora uma entidade que utiliza o nome do Orixá, está , na verdade, encorporando não o Orixá, mas uma entidade que se manifesta dentro desta faixa vibratória.


Com relação à verdadeira essência do que seja um Orixá, há pontos de vista que se deturparam, em decorrência do longo período em que a religião de negros, até quando já não eram mais escravos, foi proibida no nosso país.

Eliane Haas