CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Os filhos de Oyá e Xango


Conta uma lenda que os Ibejis são filhos paridos por Iansã e jogados nas águas. 

Osun os abraçou e os criou como se fosse seus filhos.

O animal tradicionalmente associado a Ìbejì é o macaco colobo, um cercopiteco endêmico nas florestas da África Equatorial. 


A espécie em questão é o colobus polykomos, ou "colobo real", que é acompanhado de uma grande mística entre os povos africanos. 

Eles possuem coloração preta, com detalhes brancos, e pelas manhãs eles ficam acordados em silêncio no alto das árvores, como se estivessem em oração ou contemplação, daí eles serem considerados por vários povos como mensageiros dos deuses, ou tendo a habilidade de escutar os deuses. 

A mãe colobo quando vai parir, afasta-se do bando e volta apenas no dia seguinte das profundezas da floresta trazendo seu filhote (que nasce totalmente branco) nas costas. 

O colobo é chamado em Yorùbá de edun oròòkun, e seus filhotes são considerados a reencarnação dos gêmeos que morrem, cujos espíritos são encontrados vagando na floresta e resgatado pelas mães colobos pelo seu comportamento peculiar.
 

Ao contrário dos erês, entidades infantis ligadas a todos os orixás e seres humanos, são divindades infantis, orixás-crianças. 

Por serem gêmeos, são associados ao princípio da dualidade; por serem crianças, são ligados a tudo que se inicia e brota: a nascente de um rio, o nascimento dos seres humanos, o germinar das plantas...
 
São divindades gêmeas infantis, é um orixá duplo e tem seu próprio culto, obrigações e iniciação dentro do ritual.

Divide-se em masculino e feminino, (gêmeos). 

No oyó cultua-se como erês ligado a qualidades de Xangô e Oxun. 

Popularmente conhecido como xangô e oxun de ibeji.
 
Lendas
dois pequenos príncipes...
Existiam num reino dois pequenos príncipes gêmeos que traziam sorte a todos. Os problemas mais difíceis eram resolvidos por eles; em troca, pediam doces balas e brinquedos. Esses meninos faziam muitas traquinagens e, um dia, brincando próximo a uma cachoeira, um deles caiu no rio e morreu afogado.

Todos do reino ficaram muito tristes pela morte do príncipe. O gêmeo que sobreviveu não tinha mais vontade de comer e vivia chorando de saudades do seu irmão, pedia sempre a Orumilá que o levasse para perto do irmão.

Sensibilizado pelo pedido, Orumilá resolveu levá-lo para se encontrar com o irmão no céu, deixando na terra duas imagens de barro. Desde então, todos que precisam de ajuda deixam oferendas aos pés dessas imagens para ter seus pedidos atendidos.
 
filhos de Iansã e Xangô...
Iansã e Xangô tiveram dois filhos gêmeos. Só que, quando eles ainda eram pequenos, houve uma epidemia que matou muitas crianças do povo, e um dos gêmeos morreu.

OS GÊMEOS E A INVERSÃO DA MESA



Para compreendermos o culto a Ibeji é preciso entender a importância do nascimento e da morte para os grupos africanos chegados ao Novo Mundo, particularmente ao Brasil. 

Ancestral de culto cercado de silêncios e mistérios, está presente em todos os padrões rituais reorganizados no Brasil chamados de nação. Tobossi para algumas tradições jeje, Mabaço para os angola-congo, Ibeji para a tradição ketu, ao menos aquelas presentes na cidade de Salvador, ou simplesmente “dois dois”, “os meninos”, como são chamados carinhosamente pela maioria das pessoas.
 
O culto a tal ancestral nos terreiros de candomblé aparece ligado às crianças, na nação angola-congo, chamadas de Nvunji e nas de tradição iorubá, erê. Todavia, o culto a “dois dois” ou ainda aos meninos não pode ser confundido ou restrito a estas.
No continente africano, o nascimento como a morte reveste-se de particularidade, pois remete a um dos conceitos mais importante de sua filosofia: a ancestralidade. Em linhas gerais, a ideia é de que somos um deslocamento de matérias ancestrais, ou seja: cada criança que nasce é um Baba Tundê, um antepassado que retornou para a comunidade; não no sentido de uma reencarnação cíclica, mas como uma semente que carrega as informações da nova planta.
Observando a natureza, africanos e africanas elaboraram por primeiro esta noção que mais tarde vai aparecer com o nome de genética. Neste sentido, não a criança, mas o nascimento e o duplo é algo particular. Há grupos vizinhos aos iorubás onde não nascem gêmeos. Ou seja, apenas uma criança fica no mundo. Não vamos entrar aqui nesta discussão, pois também temos outras formas de descartar nossos recém nascidos.
Fato é que Ibeji, ou o Mabaço possui enorme significado para os grupos, os quais nos referimos anteriormente. Tal ideia chega ao Brasil com os africanos e africanas e aqui se populariza a ponto de interferir na própria representação de santos católicos como Cosme e Damião, sem esquecer de Crispim e Crispiniano.
Eji na língua iorubá significa dois e bi é o verbo nascer. Desta maneira a própria formação do nome explica o seu sentido. Ibeji é nascer ou o nascimento de dois.
Certamente os mabaços sempre foram invocados, ora para proteger as famílias africanas fragmentadas e escravizadas, ou mesmo para garantir às crianças a Lei do Ventre Livre, por exemplo, uma das mais difíceis de ser concretizadas pois não libertava a sua mãe.
O nascimento dos gêmeos é tão importante que estabelece uma ordem na família. Assim, o terceiro filho para os iorubás é chamado Doun, “o terceiro”, ou aquele que veio após os gêmeos.
As mulheres africanas em linhas gerais eram muito férteis. Assim tanto a mortalidade infantil quanto a mortalidade da mãe eram vistas como algo particular e recebiam tratamento especial. Certo é que o momento de dar a luz era visto como algo cercado de cuidado. Isso também valia para os primeiros dias do recém nascido, que em algumas culturas só era apresentado à comunidade após o 17º dia, quando esta ouvia atentamente o seu nome. Nome que lhe acompanharia durante toda uma vida que não tem fim. Afinal, “os que nascem nunca morrem”. A perda de uma criança vai ser assim resignificada pela comunidade que luta o tempo todo para superar a morte, como ainda hoje a humanidade através das religiões.
Acredita-se, por exemplo, que quando uma mulher perde uma criança no parto ou quando esta morre ainda jovem, ou mesmo a sua mãe no momento em que está dando a luz, trata-se de uma criança concebida para passar pouco tempo na Terra, ou que está “brincando” com a sua mãe, “vindo e retornando”, são os chamados pelos iorubás abiku. Mais uma vez, temos o verbo nascer e iku, a morte. São os nascidos para morrer.
Este termo ganhou outra concepção no Brasil: para alguns, trata-se de pessoas que não precisam passar pelo processo de iniciação estabelecido por cada tradição religiosa. Todavia,abiku são também crianças que no momento do parto, experimentam de perto a morte, a exemplo daquelas que nascem com o cordão umbilical enrolado ora no pescoço ou em todo o corpo. Estas ao nascer recebem nomes especiais e são submetidos a ritos específicos para continuarem no mundo.
Sem falar que o cordão umbilical sempre recebeu tratamento especial para os africanos e africanas. Pena que a ciência oficial só tenha reconhecido tal importância na contemporaneidade, mas foram os nossos antepassados os primeiros a dizer que ele é uma espécie de síntese da vida da pessoa.
Assim, Ibeji liga-se diretamente aos nascidos para morrer, sobre os quais pouco se fala no universo afro-brasileiro, justificando de certa maneira a confusão entre estes e as crianças.
O culto aos gêmeos está ligado à ideia de continuidade e descendência, como o quiabo, comido pelos faraós do Egito. Assim como a cebola, representava o mundo representado nas camadas que a compõem, o quiabo estava ligado à continuidade. Podemos fazer esta experiência, colocando numa vasilha com água sementes de quiabo. Com um tempo, elas vão se juntando, formando a teia ou o futu, tão lembrado pela Makota Valdina, uma espécie de pacote que Nganga Zambi fez no início do mundo, onde colocou tudo.
Agora entende-se por que uma das iguarias mais apreciadas pelos gêmeos seja o chamado caruru. Na verdade os gêmeos comem de tudo. Comem tudo o que a boca come, como os ancestrais da terra. Isso exemplifica a antiguidade de seu culto.
Embora apareçam ligados à morte, os gêmeos são filhos do orixá Oxum. Pois vida e morte andam juntas. Oxum foi aquele ancestral nagô que, segundo um de seus mitos, no momento em que Deus distribuiu os poderes aos orixás, através de uma chuva, enquanto alguns se esforçavam para pegar o ferro, a terra e outros elementos, ela agarrou com as duas mãos o ovo, chamado de eyn. A partir daí ela passou a garantir a permanência de tudo que é sistema.
Oxum regula assim o ciclo menstrual, mas também o ciclo da terra que garante os frutos. Tempos atrás, este fato era relembrado em dezembro, quando se ofereciam as chamadas frutas do ano. Era uma festa. Oxum também cuida do intestino e de tudo que é “de dentro”. Assim, ela garante os gêmeos e todas as crianças.
Um trabalho sobre o significado destes ainda está para ser realizado, embora o Professor Vivaldo da Costa Lima já nos tenha presenteado com um texto sobre os meninos. Talvez isso seja explicado pelas dimensões tomadas pelo culto. O culto aos mabaços extrapola as religiões de matriz africana. Eles estão em todos os oratórios católicos de famílias que tiveram gêmeos.
Aos meninos é oferecida uma mesa, que neste dia é “arrumada no chão”, à maneira africana. Neste dia são as crianças que comem primeiro e têm o consentimento até de brindarem a saúde de todos com vinho.
Algumas vezes, as sete crianças recebem pratos individuais. Em outras, a comida é colocada numa grande gamela e todos comem e têm o direito de se “lambuzarem”. Todos comem com as mãos. Há casos em que as mãos das crianças são limpas na saia da dona da casa.
É a inversão da mesa, onde os rígidos códigos ocidentais como: não conversar, “comportar-se”, usar talheres, comer com a boca fechada são suspensos a fim de garantir a alegria, e a vida através da continuidade da comunidade. Viva as crianças.
*Vilson Caetano de Sousa Junior é Doutor em Antropologia, Professor da Escola de Nutrição da Universidade Federal da Bahia e filho do Terreiro Pilão de Prata, em Salvador.

Ibeji



São os Orixás protetores dos gêmeos, na mitologia Yorubá. O nome deles é Taiwo e Kheinde, são filhos de Xangô com Oyá e foram criados por Oxum. 
Os Yorubás acreditam que era Kheinde quem mandava Taiwo supervisionar o mundo, onde a hipótese de ser aquele o irmão mais velho cada gêmeo é representado por uma imagem, os Yorubás colocam oferendas diante de suas imagens para invocar a benevolência dos Ibeji. 
Os pais de gêmeos costumam fazer sacrifícios a cada oito dias em honra a Ibeji.O animal tradicionalmente associado a Ibeji é o macaco kolobo polykomos ou kolobo real, que é acompanhado por uma grande lenda mística entre os africanos. 
Eles possuem coloração preta, com detalhes brancos, pelas manhãs eles ficam acordados em silêncio na copa das árvores, como se estivessem em oração ou contemplação, dai eles serem considerados por vários povos como o mensageiro dos Deuses ou tendo a habilidade de escutar os Deuses.
Ibeji, o único Orixá permanentemente duplo, aproxima-se de Exu pelo  seu comportamento arquetípico independente. É formado por duas entidades distintas e sua função básica é indicar a contradição, os opostos que coexistem. Num plano mais terreno, por ser criança. A ele é associado a tudo o que se inicia: a nascente de um rio, o germinar das plantas, o nascimento de um ser humano.
Mostram um temperamento infantil, brincalhão, sorridentes, irrequietas, de muita energia nervosa.  São muito cativantes e carinhosos, com uma sensibilidade sempre à flor da pele; por isso mesmo, magoam-se com facilidade, exageram as contrariedades e agressões que recebem e se deixam levar por mal-entendidos.

"Ajubá Ibeji orô, Xangô d'Ibeji, Oxum d'Ibeji, Oiá n'Ibeji, gbogbô ouô fum uá oxá Ibeji, Ibeji orô!"

"Nossos respeitos a Ibeji, Deuses tão importantes quanto Xangô e Oxum, Ibeji filhos de Oiá, Deuses que trazem a riqueza para todos, Deuses Gêmeos!"  

Como a maior parte das crianças, gosta de estar em meio a muita gente. As pessoas freqüentemente temem Ibeji: poderoso como todo o Orixá, a criança-divindade, entretanto, entende os pedidos de maneira simplista, o que pode levar a conseqüências não previstas pelas entidades em geral. Por outro lado, têm a reputação de ser extremamente fiéis às pessoas que conquistam sua confiança.
   
 
 Ibeji

O preto e o branco
A areia e o mar
O sol e a lua
O inverno e o verão
O outono e a primavera
Terra e fogo
Água e ar
O liquido e o sólido
O visível e o invisível
O concreto e o abstrato
A tristeza e a felicidade
A saúde e a doença
O alto e o baixo
A vida e a morte
O dia e a noite
Razão e emoção
O liso e o estampado
O quente e o frio
O velho e o novo
O céu e o inferno
1 minuto e a eternidade
O prazer e dor
O real e a ilusão
O norte e o sul
O leste e o oeste
O progresso e a o retrocesso
O homem e a mulher
O amor e o ódio

Tão opostos, tão perfeitos
Estão sempre lado a lado
Em perfeita sintonia
Juntos, estão em todas as coisas
E em todos os lugares
Embora não sejam sempre concretos
Podem ser vistos na pratica a cada momento
Representados pelo Ying-Yang...
Opostos, juntos, um no outro
Em perfeita harmonia.


Qualquer participação de Ibeji em cerimônias, dá um toque alegre e inconseqüente à ela, sendo freqüente que as comidas ritualísticas a eles oferecidas recebam enfeites como fitas de cetim em cores vivas. A Ibeji se oferece todas as cores vivas e as roupas de seus filhos, em cerimônia, são multicoloridas. São homenageados aos domingos, recebendo como comidas rituais, doces, bolinhos, balas, e refrigerantes.


Ádurà Ibejì

Igbà Órìsà
(Orixá eu te saúdo)
Órìsà Ibéjì
(Orixá Ibeji)
Dakùn dabó, ma jékì a rì Ikù Omodé,
(Não permita que haja a morte de crianças)
Ma jékì a rì Ikù agbà,
(Não permita que haja a morte de adultos)
Enitì ó bì, máà jékì ó sokùn,
(Quem tem para não chorar)
Máà jékì a kù Ikù airotélé,
(Não deixe acontecer a morte imprevista)
Fun mi lowó latì sé nkan gbógbó,
(Me dê dinheiro para minhas necessidades)
Iwó ti só alakisà di alasó, jowó só akisà mi di asó,
(Você que torna o pobre rico, me torne rico)
Iwó to ti essè mejé ji bé silé alakisà, jowó bé silé mi,
(Você que entrou na casa do pobre, peço entre na minha)
Órìsà Ibejì, pelé ó,
(Orixá Ibeji eu te saúdo)
Ejiré àra isokùn,
(Ejirê de Issokun)
Jowó só mi di oloró.
(Peço, me torne próspero).

Orìkí fún Ibeji

B'eji B'eji're
B'eji B'eji'la
B'eji B'ejiwo
Igbá omo ire
Axé


Orìkí para Ibeji


Dar a luz aos gêmeos traz fortuna boa
Dar a luz aos gêmeos traz abundância
Dar a luz aos gêmeos traz dinheiro
Saudar as crianças das coisas boas
Axé


Iya Ibeji, a mãe dos gêmeos – A leitura dos símbolos nagô

texto de Marco Aurélio Luz, extraído do livro Princesas Africanas, disponível para download no site da FRECAB.

A tradição nagô-yorubá ocupa papel destacado na cultura brasileira. Para uma adequada aproximação e entendimento da cultura africano-brasileira, temos de estar preparados para uma leitura de símbolos. Para tanto, é preciso compreender o valor da estética como parte intrínseca de uma comunicação de participação direta, interdinâmica e intergrupal, que exige a presença de seus integrantes num aqui e agora, e a maneira como a arte procede a elaboração de conhecimentos.
A noção de odara, em língua yorubá expressa uma dimensão em que o bom e o belo são uma coisa só, o técnico e o estético são inseparáveis.
Na civilização tradicional africana, especificamente na cultura nagô, o sagrado está integrado nas ações cotidianas. A religião acompanha a vida; o aiyê, esse mundo, e o orun, o além, estão inter-relacionados pela noção de axé, força circulante entre esses mundos de que trata a liturgia e que movimenta a existência e garante o existir. A forma de vinculação humana, a sociabilidade nesse contexto, se constitui pela linguagem estética que o mais das vezes magnifica o sagrado, pois a religião, o religare, a pulsão ou o desejo de estar juntos, fortalecidos num corpo comunitário, forma o egbe, a comunidade envolvida pelos valores sagrados transcendentes. Assim, nesse contexto os códigos e repertórios compõem e expressam uma visão sagrada de mundo.
Por exemplo, quando nas relações hierárquicas o mais novo pede bênção ao mais antigo, ele diz “otun ba mi”, o mais antigo pode responder, “eleda mi gbe iin o”, o meu orixá criador o proteja. Portanto, o poder individual do mais antigo, o seu axé, caracteriza-se por sua dimensão sagrada, transcendente, o seu eleda, fortalecido ao longo de sua trajetória sacerdotal.
Da mesma forma que a literatura — os itans, as histórias ou contos em geral pertencem ao sacerdócio oracular de ifá, ou erindinlogun; os orikis, poemas, e korin, as cantigas, são combinação de versos com música percussiva em que os toques ou ritmos classificam, significam e acompanham as ações rituais —, a dança é composta de gestos que simbolizam os poderes e princípios das entidades, bem como seus trajes, paramentos e emblemas. A culinária litúrgica também simboliza as características de determinada entidade, executada através da iya bassê, sacerdotisa que está preparada pela elaboração da comida ritual, iyanlé, conforme as regras da tradição. Nesse contexto, cor, odor, sabor, textura e composição ou apresentação simbolizam; e, para apreender os significados, são chamados a atuar os cinco sentidos, tato, paladar, olfato, visão e audição.
Na tradição religiosa nagô dois cultos se complementam: o culto aos ancestres e ancestrais, e o culto aos orixás, as forças cósmicas que governam a natureza do universo no qual nos integramos.

Esculturas

Já houve quem aludisse à cultura tradicional africana como “floresta dos símbolos”. A própria noção de floresta, ibo, se refere a um espaço sagrado onde habitam espíritos, inclusive ancestrais, e onde ocorrem diversos ritos iniciáticos. As esculturas obedecem às delimitações dos valores estéticos da arte, isto é, elas são símbolos, representação de idéias, noções ou conceitos da tradição cultural.
Elas estão presentes na decoração de palácios ou fazem parte das instituições religiosas. Nesse caso elas têm uma dimensão transcendente, pois se destacam do plano material para atuar no espiritual. As esculturas podem estar presentes nos altares, ojubo, ou como parte dos paramentos que compõem as entidades nos festivais rituais.
A leitura dos símbolos se caracteriza por vários planos. O primeiro, que já significa, diz respeito à qualidade da matéria, ou substância, da escultura. Nós nos referiremos à madeira, que faz parte do atributo de determinados orixás. Basta dizer que, de acordo com a tradição, para cada ser humano que criava, Oxalá, orixá que representa o princípio masculino mais antigo da criação, criava uma árvore. Assim as árvores estão relacionadas à ancestralidade masculina.
As árvores ocupam uma presença importante no mundo sagrado: ramos e folhas podem representar filhos, descendência, ancestralidade masculina que garante a continuidade da vida por infindas gerações. Algumas são relacionadas ao culto aos ancestrais masculinos, e também estão presentes na simbologia do orixá Xangô.
As esculturas componentes do panteão do orixá Xangô são de madeira. Ele é o alaafin, o senhor do palácio, o rei, patrono das dinastias, da realeza de Oyó, capital política da tradição, que protege as comunidades e garante sua expansão, com muitos filhos em sucessivas gerações.
Convém dizer ainda da importância do grupo de escultores. Alguns são de famílias dedicadas a essa atividade por várias gerações e, portanto, muito respeitados nas sociedades tradicionais, não só pela técnica e estética adquirida ao longo dos anos, mas também pelo conhecimento da simbologia.

Iya Ibeji, a Mãe dos Gêmeos e o poder feminino

Os poderes e princípios femininos na tradição cultural nagô só se realizam pelo processo de interação e complementação com os princípios masculinos. Devemos acrescentar que o inverso também ocorre.
O mistério da continuidade ininterrupta da vida nesse mundo se processa pela concepção e gestação.
Os Ibeji, os gêmeos, literalmente nascidos dois, ibi+eji, e mais os da gestação subseqüente, denominados Taiyo ou Tayewo, Kehinde e Dou ou Eta-Òkò, fazem parte da constelação de entidades do panteão do orixá Xangô e de sua relação com o orixá Oxum.
Oxum é Iya mi akoko, Mãe ancestral suprema, que representa os poderes de fecundidade e fertilidade feminina.
Na escultura Iya Ibeji, temos uma recriação da simbologia da tradição referente ao mistério e poder feminino que, através da maternidade, garantem a continuidade da vida. A escultura de nossa autoria destaca a imagem de uma jovem mãe sentada, com duas crianças apoiadas em suas coxas, uma à direita, outra à esquerda. Seus braços se estendem às crianças em atitude de apoio. As crianças, por sua vez — uma com a mão direita, outra com a mão esquerda — seguram os seios pronunciados, representação da propriedade do poder feminino de transformar seu corpo em alimento e alento aos recém-nascidos. Com a outra mão, cada criança segura um abebe, emblema em forma ovalada, parecendo um leque com espelho, simbolizando a vaidade feminina, mas que expressa, sobretudo, o poder de fertilidade feminina, útero, ventre fecundado.
Outro abebe se destaca também na imagem esculpida de um ovoventre fecundado, caracterizando a continuidade das gestações. Contornando esse abebe, pequenas partículas de luminescências douradas aludem ao ouro, metal de infinda durabilidade, e de cor característica da entidade.
Abaixo, contornando a escultura, a imagem de águas correntes, símbolo do poder da fertilidade feminina, alusão ao corrimento sanguíneo dos ciclos menstruais que conotam o insondável mistério da feminilidade.
A audição do som ritmado das águas correntes indica que Oxum é a entidade patrona da música. O ijexá é seu ritmo por excelência. Uma célebre história narra a competição entre Oxum e Obá pala predileção de Xangô, envolvendo a orelha como símbolo de feminilidade, aqui combinada com a culinária. Na escultura, brincos pendentes nas orelhas ressaltam esse aspecto. Na parte de trás da escultura, destaca-se a figura de dois pássaros. Os pássaros e os grandes pássaros, assim como os peixes, fazem parte da simbologia das Iya-mi, nossas mães ancestrais. Penas ou escamas representam filhos descendentes desprendidos do corpo do pássaro mítico.
Uma história conta que no início dos tempos, Olorun, Deus, enviou sete pássaros ao mundo. Três pousaram na árvore do bem, três na árvore do mal, e um costuma voar de uma para outra árvore.
Na escultura, os pássaros ancestrais voltados para o poente são guardiões do mistério e do poder feminino.
______________________________________________________________________________
Marco Aurélio Luz é Doutor em Comunicação, escultor e escritor, autor do livro “Agadá: dinâmica da civilização africana brasileira”, dentre outros.
*imagens retiradas do livro Princesas Africanas


Itan Ibeji

 
 
Essa história conta que a esposa de Oduduwa após dar a luz a Ibeji viu os filhos serem malvistos pelo povo, considerados como espíritos ruins, perigosos, tratados que se fossem demônios (Osemowe). 

Ao ver que o medo que as pessoas estavam demonstrando dos gêmeos faria com que os seus filhos fossem sentenciados à morte, Oduduwa, para livra-los do destino que os aguardava, determinou que a mãe os levasse embora, que fosse com eles viver na floresta, onde pudesse lhes garantir a vida.

A mulher acatou as ordens de Oduduwa e foi para a floresta, onde viveu cuidando dos filhos Ibeji até que eles crescessem e assumissem o próprio destino. 

Assim ocorreu, os filhos cresceram e obtiveram conquistas, vindo o menino a se tornar o Oba de Ile-Oluji, chamado de Ijamo, e a menina rainha de Ondo, ambos os reinos considerados gêmeos graças aos Ibeji. 
 
 
 

Ser Sacerdote



Ser SACERDOTE é acima de tudo, não esperar recompensas.
Mas ficar feliz, caso e quando cheguem.

É saber fazer o necessário por cima e por dentro da incompreensão.
É aprender a tolerância com os demais e exercitar a dura intolerância (mas compreensão) com os próprios erros.

Ser SACERDOTE é aprender errando, a hora de falar e de calar.
É contentar-se em ser reserva, coadjuvante, deixado para depois.
Mas jamais falar no momento preciso.

É ter a coragem de ir adiante, tanto para a vida quanto para a morte.
É viver as fraquezas que depois corrigirá no filho, fazendo-se forte em nome dele e de tudo o que terá de viver para compreender e enfrentar.

Ser SACERDOTE é aprender a ser contestado mesmo quando no auge da lucidez.
É esperar.
É SABER QUE EXPERIÊNCIA SÓ ADIANTA PARA QUEM A TEM, E SÓ SE TEM VIVENDO.
Portanto, é agüentar a dor de ver os filhos passarem pelos sofrimentos necessários, buscando protegê-los sem que percebam, para que consigam descobrir os próprios caminhos.

Ser SACERDOTE é saber e calar.
Fazer e guardar.
Dizer e não insistir.
Falar e dizer.
Dosar e controlar-se.
Dirigir sem demonstrar.
É ver dor, sofrimento, vício, queda e tocaia, jamais transferindo aos filhos o que, na alma, lhe corrói.

Ser SACERDOTE é ser bom sem ser FRACO.
É jamais transferir aos filhos a quota de sua imperfeição, o seu lado fraco, desvalido e órfão.

Ser SACERDOTE é aprender a ser ultrapassado, mesmo lutando para se renovar.
É compreender sem demonstrar, e esperar o tempo de colher, ainda que não seja em vida.

Ser SACERDOTE é aprender a sufocar a necessidade de afago e compreensão.
Mas ir às lágrimas quando chegam.

Ser SACERDOTE é saber ir-se apagando à medida em que mais nítido se faz na personalidade do filho, sempre como influência, jamais como imposição.
É saber ser herói na infância, exemplo na juventude e amizade na idade adulta do filho.
É saber brincar e zangar-se.
É formar sem modelar, ajudar sem cobrar, ensinar sem o demonstrar, sofrer sem contagiar, amar sem receber.

Ser SACERDOTE é saber receber raiva, incompreensão, antagonismo, atraso mental, inveja, projeção de sentimentosSer SACERDOTE é acima de tudo, não esperar recompensas.
Mas ficar feliz, caso e quando cheguem.
É saber fazer o necessário por cima e por dentro da incompreensão.
É aprender a tolerância com os demais e exercitar a dura intolerância (mas compreensão) com os próprios erros.

Ser SACERDOTE é aprender errando, a hora de falar e de calar.
É contentar-se em ser reserva, coadjuvante, deixado para depois.
Mas jamais falar no momento preciso.
É ter a coragem de ir adiante, tanto para a vida quanto para a morte.
É viver as fraquezas que depois corrigirá no filho, fazendo-se forte em nome dele e de tudo o que terá de viver para compreender e enfrentar.

Ser SACERDOTE é aprender a ser contestado mesmo quando no auge da lucidez.
É esperar.

É SABER QUE EXPERIÊNCIA SÓ ADIANTA PARA QUEM A TEM, E SÓ SE TEM VIVENDO.
Portanto, é agüentar a dor de ver os filhos passarem pelos sofrimentos necessários, buscando protegê-los sem que percebam, para que consigam descobrir os próprios caminhos.

Ser SACERDOTE é saber e calar.
Fazer e guardar.
Dizer e não insistir.
Falar e dizer.
Dosar e controlar-se.
Dirigir sem demonstrar.
É ver dor, sofrimento, vício, queda e tocaia, jamais transferindo aos filhos o que, na alma, lhe corrói.

Ser SACERDOTE é ser bom sem ser FRACO.
É jamais transferir aos filhos a quota de sua imperfeição, o seu lado fraco, desvalido e órfão.

Ser SACERDOTE é aprender a ser ultrapassado, mesmo lutando para se renovar.
É compreender sem demonstrar, e esperar o tempo de colher, ainda que não seja em vida.

Ser SACERDOTE é aprender a sufocar a necessidade de afago e compreensão.
Mas ir às lágrimas quando chegam.

Ser SACERDOTE é saber ir-se apagando à medida em que mais nítido se faz na personalidade do filho, sempre como influência, jamais como imposição.
É saber ser herói na infância, exemplo na juventude e amizade na idade adulta do filho.
É saber brincar e zangar-se.
É formar sem modelar, ajudar sem cobrar, ensinar sem o demonstrar, sofrer sem contagiar, amar sem receber.

Ser SACERDOTE é saber receber raiva, incompreensão, antagonismo, atraso mental, inveja, projeção de sentimentos negativos, ódios passageiros, revolta, desilusão e a tudo responder com capacidade de prosseguir sem ofender; de insistir sem mediação, certeza, porto, balanço, arrimo, ponte, mão que abre a gaiola, amor que não prende, fundamento, enigma, pacificação.

Ser SACERDOTE é atingir o máximo de angústia no máximo de silêncio.
O máximo de convivência no máximo de solidão.
É, enfim, colher a vitória exatamente quando percebe que o filho a quem ajudou a crescer já, dele, não necessita para viver.
É quem se anula na obra que realizou e sorri, sereno, por tudo haver feito para deixar de ser importante.

ISSO É SER SACERDOTE !!! negativos, ódios passageiros, revolta, desilusão e a tudo responder com capacidade de prosseguir sem ofender; de insistir sem mediação, certeza, porto, balanço, arrimo, ponte, mão que abre a gaiola, amor que não prende, fundamento, enigma, pacificação.

Ser SACERDOTE é atingir o máximo de angústia no máximo de silêncio.
O máximo de convivência no máximo de solidão.
É, enfim, colher a vitória exatamente quando percebe que o filho a quem ajudou a crescer já, dele, não necessita para viver.
É quem se anula na obra que realizou e sorri, sereno, por tudo haver feito para deixar de ser importante.

ISSO É SER SACERDOTE !!!

Em grego, a palavra religião significa "religar".


Entende-se daí que a humanidade, nascida e criada a partir de Deus, num determinado momento se distancia dele e, para que haja esse retorno, é preciso que surja um elemento de ligação, e este elemento é a religião.

Devemos lembrar que, independente do contexto histórico, a maioria das religiões busca fazer as pazes entre Deus e os homens, seja através da purificação dos pecados (judaísmo, islamismo, cristianismo), seja através busca por se tornar homens e mulheres melhores (a maioria das outras tradições religiosas).

Ifá, nesta perspectiva, e sendo uma das mais antigas tradições religiosas do mundo, entende que o ser humano só vai se encontrar com Deus (Olófin), quando ele se encontrar consigo mesmo. 

Para isso é fundamental que ele - ser humano - busque se conhecer, busque saber quem é e, uma vez sabendo, entenda o que lhe é positivo (Irê) e o que lhe é negativo (Osogbo), para que possa caminhar bem sobre a terra até que seus dias cheguem ao fim.

Esta dimensão da busca por si mesmo, também é encontrada em quase todas as religiões do mundo, mas o elemento essencial que Ifá nos traz é que, mesmo sendo também ele (Ifá), um segmento religioso, ele não exige de ninguém (à exceção de seus sacerdotes conhecidos como Babalawôs), nenhum tipo de exclusividade, pois não é uma religião que busca adeptos, mas sim, propagar as verdades de Orunmila para que cada indivíduo possa se conhecer melhor.

Assim, Ifá não traz embutido em si nenhum conceito de salvação a não ser aquele que, quem se salva é o próprio sujeito. 

Deus/Olófin lhe dá seu destino sobre a terra, mas também lhe dá o livre arbítrio para escolher viver o melhor ou o pior daquele destino.

Este destino, também chamado de Odu, é, com certeza um dos elementos mais fascinantes, senão o mais essencial da dimensão ontológica de Ifá.

Vale à pena parar e refletir um pouco sobre Ifá, discutir um pouco, se livrar de preconceitos, tirar dúvidas e compreender o quanto Ifá pode ser essencial para a prática religiosa de quem quer que seja. Basta apenas que se queira.

Iboru, Iboya, Ibosheshe

Marcio Alexandre
Awô Ni Orunmila Ogbe Ate Ifa Irawô

 ONDE NASCEU ORULA
Orumila ou Orula, como muitos dizem, é a uma Divindade.
Nasceu depois que Ananagu amaldiçoou a humanidade por ele não ter nenhum filho varão.

Com Orula nasceu o dom da adivinhação. Este poder foi dado à Ele diretamente por Olófin, para que a maldição lançada por Obatalá não fosse cumprida. O odú onde nasceu Orula é Ofun Mafun. Neste Odú ocorre o nascimento dos fenômenos naturais, bem como a maldição. Nasce também Ananagu (Olofin).

O culto de Ifá é o sistema de Oráculo mais organizado dos Yorubas.

Investigar a origem histórica do culto é uma tarefa fácil se aplicada a teoria que existem uma relação muito intima entre as Religiões Yorubas, e as dos Antigos Egípcios.

Há registros que o Oráculo completo de IFA, já constava na Biblioteca do Antigo Egito.

Muitas das relações que constatamos entre as Religiões Yorubas e Egípcia são indiscutivelmente relíquias da fé Osíria.

Esta relação está marcada também pela chegada do Oráculo de IFA em terra de Ifé, por um sábio chamado Orumila proviniente daquelas terras, que ensinou à um nativo a arte da adivinhação.

A sabedoria da Farmacologia, da Medicina, das Tradições e costumes do seu Povo, também foram legados, como um meio de salvar a humanidade.
O poder da adivinhação ficou assim determinado e entregue aos Babalawos.
Assim nasceu o Babalawo.

A sabedoria de Orumila pode chegar à todos os homens, porém o poder da adivinhação é legado somente aos que nascem para ser Babalawos.



Orisa - Multiplicidade


A multiplicidade do panteão de divindades, que produziu o mesmo efeito no candomblés do Brasil, pode ser explicada através do seguinte quadro:

1: O mesmo Òrisà e venerado com outros nomes em religiões diferentes, tornando-se outra divindade:

Ìrókò                (yoruba)       Lóko     (jeje)
Sàpònná           (uoruba)       Sapata   (jeje)
Sángó                (Òyó)         Òrànfè    (Ifè)
Yemonja        (Abéòkúta)     Mawu    (jeje)

2: O mesmo òrisà e reverenciado em cidades diferentes, passando a ter o segundo nome designado o lugar de origem do culto:

Ògún Oniré           (Ìré)         Ògùn Edejé             (Ilodo)
Òsun Òsogbo    (Òsogbo)    Òsun Yeyepondá    (Ipondá)

Èsù Jelú                (Ijèlú)      Èsú Woro                 (Woro)

3: O mesmo òrisà recebe outros nomes de acordo com seus atributos ou fatos relativos às suas realializações

Ògún Mejèèje: refere-se as lutas contra as sete cidades antes de Ògún invadir a cidade de Ìrè
Èsù Akésan: é a denominação de Èsù quando assentado para a prática dos jogos divinatórios;

Ìyárí: é aversão de Yemonja como a dona das cabeças;

Obalùwáyé: titulo que Omolu recebe e que significa " Rei e Senhor da Terra "

Yansàn: titulo de Oya com duplo significado: "Mãe da Tarde" ou  "Mãe dos Nove" 
(orun)

Òsáigbó: titulo de Òsàála como rei dos igbó

Ìyáominibú: denominação de Òsun como a Mãe das Águas Profundas.

4: Heróis,Reis e Guerreiros entram no panteão das divindades através da excessiva veneração por parte do povo:

Òrànmíyàn: rei de Òyó e pai de Sangó
Odùdúwà: rei de Ifé e ancestral do povo yorubá
Aganjú: 4º rei de Òyó e filho de Àjàká

5: O enredo de um òrisà com outro cria interferência e amplitude de seus poderes, advindo dai um novo nome:

Òsun e Òsóòsí: Yeyeòkè
Yemonja e Ògùn: Ògúnté

Este crescimento no panteão das divindades fez aumentar, paralelamente, o número de símbolos, cânticos e rituais, com a noção exata de que todas as divindades são reais portadoras de caracterizações variadas divindades principais

Orun Àiyé: José Beniste: pag 93

O dever do sacerdote !!!


O dever do sacerdote em formar o bom caráter dos seus filhos !!!

Qualquer um sabe que o sacerdote seja ele da Umbanda ou Nação, tem responsabilidades com seus filhos de santo, claro que nem sempre existe o respeito.


A dignidade do ser humano prejulga que todos deveram ser tratados da melhor forma, contudo, quando vemos um filho de santo que não se afina com a ditadura espiritual e ou estão cansados de serem mal tratados, e querem seguir sua vida, logo vem o feitiço ou as baixaria comum de alguns sacerdotes.


Eu penso que todos são uma família, desta forma o filho de santo deve ser tratado com respeito com recíproca educação e dedicação. 

Na falta da consideração, logo vem o caos que infelizmente é comum entre as casas de religião, considero que tenha que dar respeito para ter respeito, sem ele não é possível o convívio comunitário.


Porem o pior vem quando o zelador resolve demandar ou tocar feitiço para os filhos com raiva deles, não havendo o julgamento de um verdadeiro sacerdote. 

Eu não consigo entender como uma mão que deu àṣe para um Orí, possa usar a mesma para tocar feitiço, um item que muitos sacerdotes preferem serem temidos pela comunidade sacerdotal pelo dom de prejudicar ou queimar as pessoas, ao invés de ser reconhecido pela mão de boas forças e prosperidade.


O que não deve ser desconsiderado é que ao prejudicar um filho você não está apenas prejudicando aquele ser humano que um dia você iniciou, mas todos os seus ancestrais e divindades que um dia ele iniciou criando o vinculo entre o Ọ̀run e Àiyé.


Pesarosamente reconheço acontecimentos e relatos de maldade confeccionada por pessoas que deveriam repensar suas atitudes e conceitos, o mundo seria muito mais feliz e lindo se as pessoas procurassem valores ao invés da soberba, o bom caráter é o dom que ninguém pode comprar e muitos menos trocar, seria tão bom se todos se dedicassem a lapidar o caráter da sua família espiritual, para que os futuros sacerdotes ao receber seu Oye, soubessem como lidar com as pessoas.




Afinal terreiro não é senzala de Ìyáwó e muito menos os filhos de santo não são empregados dos pais de santos, mas isso não quer dizer que os filhos de santos não tenham que se isentar das tarefas, com um pouco de discernimento toda a comunidade entra em harmonia com a organização e administração do sacerdote.





O bom sacerdote se preocupa em formar pessoas de bom caráter.

PRECEITOS YORUBAS



· Tua relação com os demais e uma das ciências de tua vida. 

E vocês precisaram aprender esta ciência de tua vida, para viver em amônia em um mundo de comunicações interpessoais confusas, incompletas e demoradas, que te apresentarão em todo momento a necessidade de aprender a comunicasse com os demais.

· Em tua relação pessoal com os demais, deves aprender a confiar em as pessoas. E aprenderás a confiar, desconfiando em as pessoas.
· Relacionas-se é interagem com todas as pessoas, aceitando a todas as pessoas. Lembrando que deves respeitar a todas as pessoas.
· Aprende a respeitar a todos, em pensamento, em palavra e ação.
· Aprende a respeitar, incluso ao homem de coração perverso, também a teu inimigo.

· Enfrenta, combate e destroem o que deva ser enfrentado, combatido e destruído em o caminho de tua vida.
· Porem lembraras não ser irreverente, não brindar refugio para a soberba. Porque você não deixara de respeitar todo o tempo, incluso o que devas enfrentar, combater e destruir, em no caminho de tua vida.
· Não esquecer que, assem como julgues, serás julgado. Porque o que envias, certamente a você retornara.

· Relações com todos, com quem são dignos, é com quem não e digno.
· Relações que interagem com todos, porque todos necessitam de você.
· Porque mesmo hoje não vejas com claridade as rações, você mesmo necessitas de todos.

· Considera que os demais tenham vivido experiências diferentes que as suas.
· Que outros conhecerão antes de você, caminhos que transitarás depões.
· Considera, porque tu podes aprender da esperança de outros, e aliviarás tua vida evitando, sofrimento e fracassos, conhecendo a experiência dos demais.
· Estimula aos demais a continuar adiante. Fazendo ver que são importantes.
· Reconhece suas boas ações.

· Reconhece os desempenhos harmoniosos.
· Reconhece publicamente os valores que encontres.
· Porque fazendo, também convertes em um fator catalisador efetivo de um desarrolho conveniente e harmonioso em quem te rodeia, em o mundo que com eles compartilham.

· Quando em tu andar tropeces com o homem inicuo, de malos pensamentos, de ações perversas, não seja tua filosofia evadir ou resistir, sempre enfrentasse.
· Onde quer que te levem teus passos, leva em tua mente, o aprendizado de teus labéus, a obra de tuas mãos, o mensagem esperado da solidariedade, ajudando aos demais da maneira que podas, de uma maneira efetiva.
· Convertais desde hoje ate a eternidade, um porta-voz amável de uma mensagem decente de fraternidade humana.

· Faz de tuas relações com os demais uns apostolados pela união entre as pessoas, por a unidade das pessoas, pela dignidade de as pessoas.
· Você selecionara quem recebera de tua boca, determinadas informações e revelações.
· Não entregues secretos espirituais valiosos a quem não esteja preparado para recebê-lo.
· Porque eles não apreciaram mesmo que intentem, o valor do que falas e o valor do que ofereces.

· Não desperdices pessoalmente um tempo valioso que poderias ocupar de outra maneira, não obrigue a outras pessoas a tomar seu tempo em algo que não lês interessa, porque não é parte de suas prioridades.
· Em tua relação com os demais, respeita a quem se abstém, mesmo que não entendas ou aproves seu caminho.
· Porque muitas pessoas se abstêm porque estão inseguras, o porque desconhecem.

· Porque, quando não tenham uma ração que justifique, é seu direito a decidir como decidem.
· Quando você se permite julgar a outros, estás autorizando ao Universo a que te julgue.
· O Universo, sem falta um dia o fará. Porque Orisha não esquece. Porque todo fica escrito na memória de Ifá.
· Por isto hoje Os Orixas te ordena a que aprendas a julgar aos demais.
· Aprender a julgar aos demais, será um desafio de inteligência, de prudência, equidade e justiça.

· Tua capacidade para julgar os demais, serão para você uma prova indicadora de teu equilíbrio e de sua madures pessoal.
· Não farás, para que os Orishas não te retirem seu apoio, para que a obra de tuas mãos sempre seja abençoada.
· Deve esforçaste fazendo por os demais e tratando a os demais, tão justamente como gostarias que eles procedessem contigo. 

Porque o que mandas(enviar) desde você, lembra, a você regressará. 

Porque o Orisha não esqueçe. 

Porque todo fica escrito na memoria de nossos ancestros.

O conflito iniciado-iniciador



Quando estava escrevendo o texto anterior, sobre o controle da prática da religião e também depois em um comentário do Erik, surgiu a questão das competências não realizadas de iniciador e iniciado. 

No momento do texto eu me desviei dessa questão senão ficaria um texto enorme, um assunto sem fim, mas o comentário posterior deu uma motivação adicional para fazer alguns comentários estruturados e não somente replicar a postagem.

No caso do Candomblé existem 2 regras que estão sendo negligenciadas e que trazem a causa para muitos os problemas ligados à necessidade de controlar a prática sem ética da religião. 

O mundo é complexo e longe de mim querer simplificar essa questão a apenas isso, mas, é um componente importante, ou uma causa raiz poderosa.

A primeira regra que esta sendo negligenciada é a falta de legitimidade de pessoas que estão abrindo casas. 

A maior parte das pessoas que são "donos" de casas abertas no Candomblé e mesmo na Umbanda, são pessoas que não foram legitimadas pelo divino, pelo seu Orixá para ser um babalorixá ou Iyalorixá.  

São pessoas que trocaram de casa para dar obrigação com outro que "desse" ou "anunciasse" esse direito que ela não receberia ou recebeu na sua casa original. Além disso existe o caso de muitos que nem a isso se deram o trabalho (de fato não faz muita diferença mesmo) e simplesmente abriram suas casas se autoproclamando babalorixá ou Iyalorixá.

Posso ainda citar um caso extremamete comum que afeta pessoas consideradas famosas, presentes em rádios, jornais e revistas do meio, que são as pessoas que nem iniciação fizeram. Saíram da Umbanda e foram "virando" do Candomblé e hoje se dizem e se comportam como se fossem de fato sacerdotes.

Claro que não estou comentado nenhuma novidade. E o objetivo desse texto não é ficar dando espaço a estas fofocas de beco, mas, apenas explicar o que e como isso acontece.

A formação no Candomblé é muito difícil e rígida. O correto é uma pessoa escolher com cuidado a casa onde vai se iniciar e escolher quem será o zelador do seu Orixá. Essa é a escolha de uma vida, ou melhor, deve ser a escolha de uma vida. Ninguém deve ser obrigado a tomar nenhuma decisão ou fazer uma escolha que não esteja completamente segura e confortável. 

Não deve haver pressa do iniciado ou pressão do iniciador para essa decisão. Este é um processo natural de escolha e não de falta de escolha.

Uma vez decidido a iniciação, a feitura, é um processo longo, caro e de muito sacrifício pessoal. Serão uns 35 dias dentro de uma casa, além de meses de preparação e 1 ano de dedicação ao que foi feito. 

O processo de feitura somente se encerra na obrigação de 1 ano e a vida religiosa obrigatoriamente ligada aquela casa por mais 6 anos.

A vida de um iniciado, um Iyawo, é muito difícil, muito dura. A pessoa abre mão de muitas facilidades e se submete a infindáveis regras. Mesmo depois de seu 1 ano, ser Iyawo é uma submissão à humildade. De fato a pessoa tem que nascer de novo após sua feitura, porque sua vida jamais será como antes. Seja por regras impostas seja pela própria mudança que a pessoa vai passar, do seu interior para o exterior.

Isso não é para qualquer um. Eu não consigo ver qualquer pessoa passando por todo esse processo com facilidade.

O período de Iyawo de um iniciado dura até seus 7 anos, mas, observe, não necessariamente de tempo cronológico. No Candomblé o tempo só é contado quando se "paga" os anos através de fazer as obrigações de 1, 3 e 7 anos.  

Se você cumpre o período mas não faz a obrigação, os anos não são contados e o seu ciclo se encerra. De fato o que importa não é o tempo e sim a obrigação. 

O ciclo somente se encerra quando se faz a obrigação de 7 anos que somente pode ser realizada, no mínimo, 7 anos depois da feitura.

Durante o período de Iyawo a pessoa não pode nada. Segue as regras e pouco aprende. Somente vai aprender o que observa, e isso exige discrição e interesse, ou o que participa sendo que sua participação nos ritos é muito restrita. 

O período de Iyawo é um período de sacrifício e de exercício da humildade. Eu admiro muito as pessoas que cumprem esses anos como devem ser.

Uma pessoa que entra em uma casa deve cumprir todo o seu período de Iyawo na mesma casa. Não se sai de uma casa para outra, dando uma obrigação com qualquer pessoa. As pessoas que fazem isso são ignorantes, ou devem ser de Umbanda, onde lá, na Umbanda não existe ligação enter o médium e a casa. No Candomblé, a feitura cria uma ligação eterna entre o iniciado e o iniciador, entre o Iyawo e o Babalorixá.  

Durante a feitura o axé da casa recebe o axé do iniciado e o iniciado recebe o axé da casa e do iniciador. 

No Ketu e nações que similares ou que o copiam essa ligação é visceral, mas isso já não é assim no Jeje porque o processo é diferente, contudo não sei nada de Jeje (o de verdade não essa coisa qualquer que temos aqui no Sudeste).

Não se tira "mão" de gente viva de nossa cabeça. 

O que uma pessoa faz pulando de uma casa para outra é sobrepor mão em sua cabeça e problemas também.

A primeira quebra de regra que tem ocorrido muito, são as pessoas que tomam decisões apressadas de se iniciar e mudam de casa.  

A decisão foi apressada inadequadamente por zeladores despreparados ou pela própria pessoa que decide sem ter informação ou influenciada por informações falsas e erradas ou mesmo por vaidade. 

Um zelador preparado não deixar isso acontecer, mas, nesse caso já estamos falando do segundo problema.

Mas, a pessoa depois de se iniciar "descobre" de repente que não gosta do zelador, ou que acha a casa é longe ou feia, ou que as demais pessoas da casa são antipáticas e implicam com ela.  Assim, fazem o que acham normal nesse nosso mundo onde todo mundo pode tudo, vão embora para outra casa.

Errado.
Não é assim.  
Se tivesse tido o mínimo de orientação iria aprender que isso não se faz, que não é o correto. Teria entendido de fato o que significa ser Iyawo ou o que significa a opção que fez de se iniciar em uma religião iniciática. Ela teria entendido o compromisso que estava assumindo e compreendendo de fato os vínculos eternos que iria estabelecer.

Todo mundo tem uma opinião, claro, baseado naquilo que aprendeu, que viu e viveu. A minha opinião é que uma vez feito esse vínculo ele esta estabelecido. Mudar de casa por um motivo fútil qualquer é apenas trazer problemas para sua vida. Existem motivos fortes que podem obrigar uma pessoa a sair de uma casa, principalmente ligados à relação da pessoa com o zelador e que tenham origem em falhas de ética e caráter muito sérias.

Mas as pessoas mudam por motivos fúteis, por não entenderem o que é hierarquia, por não entenderem o que é humildade, por não entenderem que não estão ali para terem vontades. 

Se uma pessoa sai e vai para outra casa eu entenderia que o normal seria primeiro o zelador dessa casa que recebe procurar o da anterior para saber o que aconteceu lá.  Ele deveria apurar os motivos que levou aquela pessoa a abandonar o lugar que escolheu para ser iniciado e onde tanto sacrificios passou. 

Acho que a vaidade de ser escolhido em detrimento de outra, como se fosse um melhor, é apenas uma coisa que significa burrice, estupidez. Se você não sabe que motivos levaram aquela pessoa a sair da casa anterior como pode presumir que isso não vai ocorrer na sua e você seja o próximo da lista.

Isto além de mais inteligente chama-se ÉTICA e RESPEITO. Não só pelo outro babalorixá como também pela religião. Significa também SERIEDADE.

Garanto que a taxa de movimentação de pessoas entre casas seria muito menor se as pessoas adotassem isso e mais, se verificassem as credenciais da pessoa que estão recebendo, considerando como credenciais se a pessoa tem as obrigações e o tempo que diz ter.

Também, a pessoa que recebe um Iyawo deveria raspá-lo de novo e submetê-lo aos ebós e rituais da sua casa para estabelecer o vínculo de axé. 

Não significa fazer uma pessoa de novo, porque não se nasce 2 vezes, mas, de internalizar a pessoa a nova casa transformando-o em um igual.

Também se isso fosse adotado, mais ainda reduziria o número de pessoas que trocam de casas.

As pessoas tem que entender que a relação iniciado-iniciador é pautada pela paciência, respeito e continuidade.

Mas nesse ponto podemos também falar da segunda regra que é quebrada que é a de fazer babalorixá e iyalorixá pessoas que não receberam esse cargo, esse Oye. 

Não se enganem, ser um Babalorixá é para poucos. Muitos serão os iyawo, menos serão os sacerdotes, os egbon, e pouquíssimos serão os Babalorixá e Iyalorixá.

Ter uma cargo não é um decisão pessoal. Ter uma casa ou a sua própria casa não é fruto da sua vontade e disponibilidade de recursos. 

O divino, Olodumare e os orixás não são burros. 

Eles sabem as pessoas que tem condições de terem uma casa e iniciarem outros.

As pessoas ignoram isso, seja por desconhecimento ou safadeza mesmo. Elas acham que automaticamente quando ela completar os seus 7 anos elas vão receber o seu Deka e ter a sua própria casa onde poderão fazer o que quiserem.

Errado.
Não é assim. 
O cargo é dado pelo Orixá e o zelador não deve dar esse direito a quem não o recebeu do divino.

Mas as pessoas são imorais.  Elas pagam para receber esse direito. Elas pagam para receberem obrigações que não tem direito.  Quando percebem que não vão receber esse cargo na casa que estão elas saem da casa, vão para outra e para outra até achar um meliante que de o direito a elas ou finja que dá esse direito.

Algumas são mais práticas, elas simplesmente somem e aparecem com a casa aberta como se tivessem recebido. 

É muito comum a pessoa se iniciar em uma cidade e abrir casa na outra. Ou tem aquelas que viajam para dar obrigação e voltam com cargo.  Mais comum ainda são as pessoas que se dizem Iyalorixá e não tem nenhum parente de religião conhecido ou por perto.

O arsenal de imoralidades é imenso. A pessoa se move de obrigação em obrigação de lugar em lugar para apagar o seu rastro e história, aliás a história que não tem.

Raros são as pessoa que podem dizer que foram iyawo os 7 anos qie deveriam,  que fizeram todas as suas obrigações, que somente tiveram 1 zelador, que sabem dizer toda a sua ascendência e essa poder ser verificada, ou seja, de pessoas vivas e localizáveis que podem confirmar quem aquela pessoa é.

Lembro que somente depois que a pessoa fez 7 anos é que ela começa a aprender de fato. Somente quando virar um egbon ela  tera a oportunidade de participar de rituais que nunca viu e seu aprendizado ainda vai ser arrastar por anos. Ninguém sai babalorixá ou iyalorixá com 7 anos.

Isso tudo ai deveria ser o normal.  Mas não o é.  Por isso é que eu digo que respeito muito aquelas pessoas que cumprem o que é correto.

Assim uma das grandes fontes dos problemas que existem hoje o qual gente despreparada e sem conhecimento atua como se fosse uma zelador é porque as pessoas não fazem o que é o certo. Somente 1/100 das casas que existem deveriam existir.

Não pode existir uma religião de uma casa por pessoa!

Os conflitos iniciado-iniciado começam com a falta de preparo do iniciador e continuam com a falta de maturidade do iniciado. Os iniciadores deveriam recusar iniciações de pessoas que eles julgassem incapazes de cumprir os seus anos, de se relacionar com  colegas e de se relacionar com ele próprio.

Tenho certeza que as pessoas que tem cargo legítimo, recebido do orixá, sabem fazer isso. 

As despreparadas não sabem cuidar nem delas mesmas.