CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

terça-feira, 19 de março de 2013

Quando a vaidade cega a fé





Existem alguns assuntos chatos de serem tratados. 

Este é um desses. 

Este tema é dirigido aquelas pessoas que se chatearam com o Candomblé, que querem se aproximar ou que se afastaram.

Eu digo a essas pessoas. 

O orixá é muito maior do que tudo isso.

Esta religião é incrível. 

Digo isso não com emoção mas com razão. 

Sou uma pessoa que se interessa por religião e já conheci ou vivi algumas delas. 

Estou nesta por opção e não por falta de opção.

Poucas religiões oferecem uma teogonia rica e também uma filosofia de vida tão satisfatória. 

A riqueza da teogonia é uma coisa que atrai as pessoas, porque as impressiona, mas elas deveriam se preocupar com a filosofia.

Vou então fazer alguns comentário preciosos.

Vejam, muitos babalorixás são pessoas escolhidas por Orixá. 

Pessoas com vocação para a coisa, para lidar com pessoas e com a fé. 

Não falo aqui em erudição, esqueça isso, estou falando na capacidade humana de lidar com a diferença e com seres humanos. isso significa, paciência, tolerância e uma enorme atitude positiva. 

Poucos tem isso e muito poucos são os escolhidos.

Ser um sacerdote, de qualquer religião, não é uma coisa ligada a conhecimento. 

É ligada a vocação pessoal e designação divina. 

O Divino escolhe seus reais representantes. 

O escolhido terá que desenvolver o conhecimento sobre a religião, seus valores e sua moral. 

Mas, também é mais importante a capacidade de lidar com pessoas para transmitir isso.

Muita gente se declara Babalorixá ou Iyalorixá sem ter recebido isso do seu Orixá. 

Sim, entendam isso, o cargo de Babalorixá e Iyalorixá nesta religião, o chamado oye, é uma coisa que se recebe do divino, do Orixá. 

Não é uma coisa que que cada pessoa decida ter. 

Assim, aos montes, às centenas, pessoas se declararam como tendo um cargo que nunca receberam. 

Eles, apenas, foram atrás de quem os desse ou, igualmente pior,  simplesmente se declaram como tal, sem nenhuma base.

Esses são os piores enganadores. 

Porque não tem a capacidade de serem o que se declaram. 

Talvez, hoje em dia sejam a maioria.

O que estou dizendo é bem sério e vou dar informações complementares para que cada um entenda com quem se envolve.

A pessoa entra na religião como uma pessoa comum. 

Passa a frequentar uma casa e participar de eventos públicos. 

Com o passar do tempo ela se aproxima da casa e faz as primeiras liturgias de iniciação, se transformando em um Abian, um simpatizante e crente. 

As pessoas podem, ou melhor, deveriam se manter assim por muito tempo (anos).

Na minha visão 90% das pessoas poderiam ser Abian em uma casa por toda a sua vida.

O estágio seguinte é ser um iniciado, um feito, um Iyawo. 

Este é um passo muito sério e muito importante e que muda a vida da pessoa. 

Não representa um aprofundamento da relação da pessoas com a religião, representa, apenas, um aprofundamento da relação da pessoa com a casa que ela frequenta, porque assume responsabilidades e se sujeita a uma rígida estrutura hierárquica.

Um Iyawo NÃO é uma pessoa mais devota ou crente à sua religião do que um Abian. 

É somente uma pessoa que escolheu um caminho específico para sua vida.

O processo de iniciação não é um processo simples. 

Ele leva 7 anos no mínimo para ser concluído. 

O motivo disso é que ele apenas se encerra quando se cumpre um ciclo de obrigações que complementam a iniciação.

A Feitura é a primeira obrigação. 

Depois disso existe a obrigação de 1 ano, depois a de 3 anos e por fim a de 7 anos. 

Com essas 4 obrigações se completa o ciclo de feitura do iniciado (outras obrigações são eletivas e não obrigatórias). 

Durante esse tempo o Iyawo será uma pessoa de baixa hierarquia em uma casa de Orixá. 

Ele terá acesso gradativo ao conhecimento (bem gradativo) e terá muito pouca participação em liturgias. 

Um Iyawo é apenas um Abian que esta em processo de formação.

Mas o processo nem sempre se conclui em 7 anos. 

Aliás, nunca poderá ser concluído com menos de 7 anos. 

Devido a questões de calendário da casa, disponibilidade da pessoa em tempo e recursos financeiros, este ciclo de iniciação pode ser arrastar por muito mais anos. 

Mas, como eu disse, JAMAIS vai durar menos do que 7 anos.

Depois da última obrigação a pessoa troca de status na casa e passa a ser um Egbon, palavra Yoruba que significa um "mais velho". 

Só depois de ter alcançado este status é que a pessoa passará a ter acesso a conhecimento mais profundo da função sacerdotal. 

Isso se e somente se o Balaorixá ou Iyalorixá da casa se dispuser a ensiná-lo. 

De fato a formação de um sacerdote começa quando esta pessoa conclui o seu ciclo de iniciação com a obrigação de 7 anos, mas não tem data para ser concluída.

Muito mais do que teoria o Candomblé é feito de prática. 

Assim a pessoa vai levar muitos anos para poder aprender com a pratica de casos reais.

Durante todo o tempo em que a pessoa é um Iyawo o Babalorixá da casa poderá perceber se o Iyawo terá ou não o Oye de Babalorixá dado pelo seu Orixá. 

Isso é um conjunto de observações que vão da vontade da pessoa, da sua aptidão para aprender e lidar com pessoas a finalmente a disposição do seu Orixá em que ele possa ser um sacerdote.

Observe que o Oye é importante porque designa que a pessoa poderá ter poderes (axé) para ter uma casa só para si. 

A maioria esmagadora das pessoas chega a condição de Egbon sem receber isso. 

Contudo isso não é uma problema, essa pessoa vai ganhar um cargo na casa em que esta e seguirá a sua religião da mesma forma.

Porque religião é muito mais do que cargos. 

Religião é feita para tornar você uma pessoa melhor.

Uma casa grande é uma casa forte.

Observe que durante todo o ciclo de iniciação a pessoa esta ligada a casa e a pessoa que o iniciou. 

Este é um vínculo muito forte e não existe nesta religião a opção da pessoa simplesmente sair de uma casa para e ir para outra durante este ciclo. 

A pessoa pode se movimentar entre casas enquanto é Abian e depois que é Egbon. 

Durante o ciclo de iniciação a pessoa esta ligada a casa e não deve mudar isso.

Cada pessoa deve pensar muito bem antes de iniciar uma feitura. 

NÃO pode existir o caso da pessoa que vai a um jogo de búzios e sai dali com iniciação marcada. 

Menos de 6 meses depois a pessoas já esta passando por um feitura!!  

Isso é o primeiro erro capital que se comete, um erro para a vida toda.

NÃO existe isso na religião. 

Ninguém sai de uma mesa de jogo para uma iniciação.

Existem exceções, mas, uma iniciação é um processo de opção. 

Você vai escolher aquele caminho e também vai escolher a pessoa que irá iniciá-lo e a casa em que vai frequentar.

Você pode passar por muitas mesas de jogo antes de decidir fazer alguma coisa. 

Pode inclusive frequentar muitas casa durante muitos meses antes de tomar qualquer decisão. 

Anos e anos podem se passar antes de você decidir isso. 

Possivelmente você poderá tocar a sua vida como Abian passando apenas com Boris.

Se iniciar é uma decisão que deve partir de: entender o que isso significa para sua vida no sentido de o que aquilo vai adicionar em sua vida. 

Isto é o mais importante; quanto tempo vai ser envolver;  com quem esta se envolvendo.

Lembre-se de que, a questão de, com quem, é mais abrangente. 

Você deve avaliar a pessoa que o iniciará como também as demais pessoas da casa onde se iniciará. 

Você deve procurar um meio onde se sinta confortável.

O processo de iniciação é um processo longo e caro hoje em dia.

Explicado como é o processo de iniciação, podemos começar a entender a questão da vaidade nas casas.

A primeira questão, e mais simples de entender, é que existem por ai, aos milhares, pessoas que não tem o direito de serem Babalorixá e Iyalorixá. 

Sim, pessoas que não receberam esse direito e que se auto-declararam Babalorixá. 

A Vaidade delas é mais forte do que razão.

 Essas pessoas, quando percebem que não vão receber naquela casa ou daquela pessoa esse Oye e não vão ter espaço para aprender a sê-lo, elas simplesmente saem da casa, pulando de casa em casa até achar alguém de este Oye para ela. 

Normalmente isso será uma troca financeira.

Existe também uma prática de trocar de casas e até mesmo de nação.... durante o período de iniciação com o objetivo de esconder iniciações não feitas. 

A pessoa passa por tanto lugar que você perde a origem dela.

Mas a vaidade não tem limite e um dos casos mais comuns e pior é o de Pai de Santo de Umbanda que se acha o tal, e que decide que também vai ser de Candomblé. 

Mas veja, essa pessoas tem uma casa, é dirigente da sua casa, de Umbanda claro. 

Alguém acha que essa pessoa vai virar Iyawo e ficar 7 anos submetido a uma função de baixa hierarquia? 

Jamais.

Essas pessoas fazem apenas feitura e a obrigação de 1 ano, e somem da casa, se dizendo Babalorixá. 

Muitos nem se submetem  isso, apenas inventam que fizeram isso. 

Vão a uma casa em outra cidade ou estado, dão um Bori e voltam dizendo que foram feitas. Outras se dizem filhos de um Babalorixá que já morreu.

Também tem gente que toma a obrigação de 7 anos e abre uma casa. 


Veja, não dá para ser Babalorixá com 7 anos de feito. 

Você vai precisar de mais 7 para poder aprender a ser um.

A Vaidade faz essas pessoas passarem por princípios e sobre a ética para atingirem o status que querem.

Contudo, mesmo no grupo que recebeu isso por merecimento e direito temos o mesmo grave problema de vaidade.

Muitas delas são pessoas simples, mas que, quando chegam a essa posição passam a ter uma atenção ou um status que não tiveram antes. 

São bajuladas e se sentem muito importantes. 

Normalmente são mesmo, para aquelas pessoas que as querem bem.

Mas isto, a vaidade, as transforma. 

A reverencia e o tratamento que recebem na sua casa as fazem se sentir especiais. 

Dentro da casa delas, em uma função de candomblé elas são como reis ou como o próprio Orixá em terra - mas não são nada disso.

Cada vez mais essa vida de "glamour" as atrai e elas buscam então ficarem somente dedicadas para esta atividade, afinal, ali elas são tratadas como divindades e fora dos seus muros são pessoas comuns.

Depois elas começam a frequentar e convidar outras "divindades", claro! 

Ela trata um outro, como ela, de forma sublime e será também tratada por este como um superior. 

Assim  cria-se um circulo vicioso. 

Você tem que convidar e bajular para ser convidado e ser bajulado.

Tem que dar festas para ser convidado para festas!

Uma pessoa comum passa então a ser um Rei. 

Pior, gente, ele acredita mesmo nisso.

Imagine pessoas que são discriminadas na sociedade por opções sexuais normais ou mesmo esdrúxulas, por condição social e mesmo por falta de formação, dentro dos seus  muros e nos muros dos amigos, claro,  eles viram autoridades, com gente botando a cabeça no chão para eles.

Coloque neste contexto qualquer minoria ou maioria social, da no mesmo. 

Se, e somente se, o seu caráter não for muito superior ele irá se perder.

E o orixá? e a RELIGIÃO?  -   esqueça!

A satisfação pessoal e o glamour se tornam maiores. 

Mas, ela tem que ser mais importante, saber mais e falar mais complicado. 

Passam a inventar coisas.

A vida com Orixá não tem glamour. 

É de fato uma repetição. 

Os mesmos problemas com pessoas diferentes. 

Dar obrigação, fazer ebó, jogar, fazer orixá, etc...  

Será sempre isso, mas, não tem o que inventar. 

Esse é o objetivo, ajudar pessoas. 

O novo são as pessoas que se ajuda.

É muito duro ser um babalorixá. 

Não justifica a popularidade que isso tem. 

É popular porque as pessoas estão erradas no que fazem!

Tomem cuidado também com as pessoas despreparadas.

São pessoas que nunca receberam o cargo e nunca se prepararam para isso. 

Elas decidiram, vou ser Babalorixá (ou Iyalorixa, lembrem...). 

Essas pessoas nunca aprenderam como deveriam e o que deveriam.  

Nunca ficaram em uma casa de candomblé para aprenderem o suficiente. 

Nunca receberam os necessário fundamentos e obrigações.

São pessoas estranhas à religião.

Quando uma pessoa se diz Babalorixá e continua tocando para Umbanda, dá consulta com guia de Umbanda, recebe Exu e Pombo-gira, é porque não entendeu a religião que ele entrou. 

Ele não entendeu o que é Orixá ou nunca soube.

Uma pessoa de Candomblé de verdade não busca a Umbanda para resolver seus problemas pessoais ou financeiros, ela resolve isso com seu Orixá e Exu.


Também temos o caso das pessoa que transformam ou criam desde o início uma casa de comércio religioso. O candomblé é feito de obrigações e ebós, tudo cobrado,  quanto mais filhos de santo mais dinheiro se ganha.

Além disso existem os "crientes".

Quando o filho de santo - FDS - vira cliente, a coisa acabou. Jamais podem ser nivelados.

Uma casa de orixá não pode tratar FDS como se fosse cliente. 

Se você encontra ou esta em uma casa assim, esta perdendo o seu tempo.

Claro que as coisas dão trabalho no Candomblé e claro que muitas vezes uma comunidade resolve manter o seu Babalorixá, mas, existe uma diferença entre isso e uma pessoa que não tinha profissão e qualificação e resolveu ganhar a vida como Babalorixá.

A pessoa que faz isso como profissão, vai sempre querer um carro novo, uma viagem nova, uma roupa nova, etc...


O ultimo caso relevante das pessoas que perdem a Fé (ou nunca tiveram) são aquelas que se "cansam" de cuidar de Orixá e ai começam a inventar. 

Querem cuidar de egun, de Ajé, de cigano, de tarot, de kabalah, e sei lá mais do que.

Essas pessoas apenas PERDERAM a sua fé.

QUEM TEM FÉ EM ORIXÁ NÃO PRECISA DE MAIS NADA.

FONTE:http://blog.orunmila-ifa.com.br/2012/08/quando-vaidade-cega-fe-existem-alguns.html

Baba Oro




O culto a Oro é um dos mais antigos cultos aos antepassados. 

Representa a coletividade dos ancestrais masculinos, o que o difere da Sociedade Egungun, a qual cultua os ancestrais masculinos individualizados.

Nesse Culto está o mistério da transformação… do ser humano, em um ser do mundo espiritual.

Cultuar antepassados permite reencontrar as origens, conhecer e cuidar dos mitos e da história.

A Sociedade Oro é considerada pelos yorubas a mais poderosa. Entre os Oyo e os Egba (Abeokuta) seu poder supera as exigênciaas religiosas. Oro tem o direito de vigiar se os governantes respeitam os preceitos espirituais.

Baba Oro

Oro representa o poder executivo. 

Em tempos remotos, os condenados pela sociedade eram oferecidos a Oro. 

No entanto, Oro tem também outras funções, como por exemplo: assegurar que as almas dos mortos cheguem com segurança ao mundo espiritual.

O culto de Oro passou para os homens, quando Olodumare criou Odu ( a primeira mulher) e lhe deu todos os poderes para ter uma vida bem sucedida. 

Mas Odu abusou do seu poder: todas as pessoas que olhavam para ela, ficavam com problemas na vistas, ou perdiam totalmente a visão.

Orunmila consultou Ifa para Obatala, e lhe disse que fosse para casa de Odu viver com ela, e ver o que ela estava fazendo.

Obatala então, ofereceu os sacrfícios apropriados para apaziguar Odu, e assim pode conhecer todos os seus segredos, incluido os segredos de Oro e Egungun.

Daí então, as sociedades Oro e Egungun passaram a ser comandadas por homens. 

No entanto, Odu pediu respeito e bondadde para com as mulheres, as quais continuaram com o poder de gerarem a vida: o direito de continuarem sendo mães. 

Caso contrário, não mais haveria nascimentos e a vida se extinguiria.

Baba Oro: Divindade do Awo(segredo), do misterio, do encanto… 

Oro reproduz a voz dos mortos. 

Por imposição de Obatala, Oro mora no interior da floresta (Igbo Oro).



sexta-feira, 15 de março de 2013

Por quê o Candomblé “Verde”?


Primeiro preciso dizer por quê o candomblé.

(  Edilene Mora )
Pois bem, minha família é quase toda espírita, porém são parte umbandistas - de uma corrente antiga, onde ainda não se tentava imitar o candomblé, e, portanto, não existia sequer a menção de sacrifício de animais - e parte kardecistas. Fui criada nessas crenças, mas me faltava alguma coisa. Fui conhecer diversas religiões, e não me senti "em casa" em nenhuma, até o dia, já passada dos 30 anos, em que conheci o candomblé. Me encantei pelas músicas, as roupas coloridas, danças, a energia viva, presente em todos os "xirês" - festas de orixás - e a aparente união, cooperação, humildade dos integrantes daquela comunidade. 

Mas quem conhece uma festa de candomblé não conhece absolutamente nada do que é a religião. A festa é apenas a comemoração de todos os rituais que foram realizados por uma razão ou em função de uma pessoa ou ocasião. A festa é a menor parte da coisa. E para conhecer o resto, ou seja, conhecer o candomblé, só estando dentro. Eu entrei.
Fiquei maravilhada com os ensinamentos, a cultura do povo africano transportada para cá, tudo no candomblé me fascinava, e fascina até hoje, com um único porém: a matança de animais. Essa parte sempre foi para mim um tormento, por mais que tentassem me ensinar a finalidade daquilo tudo. Eu sofria demais com aquilo, mas não conseguia me desligar da religião, como não me desliguei até hoje, pois todo o restante sempre me fez muito bem. Tentava minimizar aquilo, e me convencer dos argumentos que me apresentavam, e durante os sacrifícios eu me concentrava em rezar pelo animal, e pedir que ele não sofresse, que Olorum o recebesse rapidamente. E me ocupava também de cuidar bem dos animais que ficavam na casa aguardando os sacrifícios, e cuidar para que ninguém os maltratasse mais do que o absolutamente necessário...

Fui uma filha muito dedicada de um pai de santo que depois provou ser pior que qualquer padrasto. Aproveitador, sem-vergonha, manipulador, extorquia sem dó de qualquer pessoa mesmo seus últimos recursos, prometendo ajuda e recompensa espiritual. Eu o deixei, e à sua casa, logo após a minha iniciação, não apenas por perceber essa conduta, como por perceber que ele sempre pedia aos consulentes e filhos de santo muito mais do que era necessário para qualquer "trabalho", oferenda espiritual, principalmente em animais para sacrifício. Por que? Porque isso enche os olhos de quem está ali à procura de uma "macumbinha", pagando para conseguir isso ou aquilo, e quer ver coisas que impressionam, que chocam, que atestam que está sendo feita alguma coisa em troca daquele dinheiro, porque, infelizmente, o ser humano tem uma curiosidade por tudo que é macabro, assustador, impressionante. Pelo lado do pai de santo, quanto mais bichos e coisas, mais caro ele podia cobrar. 

Pois bem, enquanto estive na casa dele me aproximei muito de um outro pai de santo, que era "pai pequeno" lá, e que gostava muito de plantas, e pregava o uso de plantas e ervas nos trabalhos e rituais. Quando saí dessa casa esse outro pai de santo também já tinha saído, e tempos depois nos reencontramos e, junto com outras pessoas, também desligadas dessa casa, montamos a nossa própria. Lá a preocupação era nos mantermos na maior simplicidade possível, e fui feliz lá por mais um tempo. 

Acontece que o dinheiro corrompe, a vaidade estraga, a arrogância domina e a pessoa se perde quando acredita ter algum "poder". Também nessa casa comecei a ver os abusos e excessos. Animais em excesso para sacrifícios, montes de comida preparadas para oferendas e depois jogadas no lixo, luxos e gastos desnecessários, feitos para "encher os olhos" do freguês. Nessa época eu já atuava na proteção animal, e a cada ritual de sacrifício me sentia doente, e os argumentos da religião não me convenciam mais. Me afastei e por fim me desliguei completamente também dessa casa, juntamente com mais pessoas (não por coincidência, quase o mesmo grupo que tinha se desligado da casa anterior). 

A partir daí decidi pesquisar e estudar alternativas para continuar com a minha religião, que amo, sem o sacrifício animal, que considero desnecessário e incongruente. Meus argumentos eram apenas instintivos, mas convincentes. Como este post já está se extendendo demais, não vou relacioná-los aqui, mas vou descrevê-los em outro post. Nas minhas pesquisas encontrei livros sobre o sangue verde, das folhas, "ewé", energia muito mais pura que do sangue animal, porém, renovável. Energia obtida sem a necessidade da morte de quem a fornece, e portanto, a meu ver, muito mais sagrada. E minha mais grata surpresa nessas pesquisas foi saber que um grande ícone da religião, Agenor Miranda Rocha, concordava com tudo isso há muitos anos!! Veja o que diz desse homem a Wikipédia: 

"Agenor Miranda Rocha, o Pai Agenor, (Luanda, Angola, 8 de setembro de 1907 — Rio de Janeiro, 17 de julho de 2004) foi um babalorixá do Candomblé.
Foi iniciado aos cinco anos de idade por Mãe Aninha, Iyalorixá fundadora dos terreiros Axé Opô Afonjá de Salvador e do Rio de Janeiro.
Era professor catedrático aposentado do Colégio Pedro II, estudioso e adivinho do candomblé, o brasileiro que mais conheceu a herança e a Cultura afro-brasileira.
...
Suas declarações são desconcertantes. “A força do candomblé está no sangue verde das plantas e não no sangue vermelho dos animais”, comenta para condenar os sacrifícios em cultos. ..."

O resultado de tudo isso que eu relatei? Nosso grupo de candomblecistas, dissidentes e malvistos pelas casas de onde saímos, hoje pratica o "candomblé verde". Em nossas oferendas, apenas grãos, folhas, flores, e mesmo essas são colhidas com muito respeito, jamais colhendo muitas folhas ou flores da mesma planta, sempre regando a planta que nos ofereceu parte de si, e agradecendo aos orixás pelas bençãos e pedindo mais força e energia para aquele ser vivo, aquela planta. A simplicidade é o que nos norteia. Preparamos comidas para oferendas em pequena quantidade e de forma que fiquem saborosas, pois é delas que nos alimentamos após os rituais. Fazemos nossos trabalhos na mata, ou em um lugar apropriado para isso em Juquitiba, o Vale dos Orixás, e sempre nos preocupamos de levar embora o nosso lixo. Nada de alguidares de barro nas oferendas, apenas folhas servindo de prato. Animais nas oferendas? Sim, nós às vezes oferecemos animais aos orixás. Compramos nos aviários os pombos que estão ali para serem vendidos para sacrifício, e os soltamos na mata. Até mesmo galinhas, patos, pois no Vale dos Orixás esses animais encontram alimento e proteção. Existem até cabritos, bodes, vivendo no Vale! Então a nossa oferenda é poupar pelo menos essa vida, que não teria outro destino ali no aviário que não a morte.

Os Orixás são forças maravilhosas, energias da natureza, nos trazem conforto e paz, força e coragem para seguirmos nosso caminho, batalharmos nosso dia a dia, conquistarmos o que desejamos por nossos próprios méritos, pois o Orixá não enriquece ninguém de dinheiro, mas apenas de saúde, paz e força para trabalhar e alcançar a vitória. Sou candomblecista sim, sou macumbeira sim (macumba não é sinônimo de despacho e sim de festa, comunhão, alegria), visto branco, uso colares coloridos e panos na cabeça, não me envergonho de quem eu sou nem da minha crença, não escondo meu orixá, me orgulho muito dele. Mas cultuo meu orixá e minha religião através da vida, e não da morte de inocentes. 

Sou malvista, taxada de louca, marmoteira, dentro da religião? Sim, mas apenas por aqueles que descobriram na religião o seu filão, o seu modo de extorquir os incautos, como shows cheios de cenários e acessórios e atos ensaiados (posso afirmar, com segurança e propriedade, que o que se vê em vídeos na televisão é show ensaiado sim); por aqueles que não querem que as pessoas saibam que não custa quase nada agradar ao seu Orixá; ou por aqueles que não querem abrir mão de seu "poder", se for revelado que o Orixá não está naquele pote cheio de sangue e naquela carcaça morta, e sim no coração de cada filho e na natureza VIVA.

Bem, o post realmente ficou muito longo...hehehe... mas eu queria que todos soubessem que é possível sim acabar com a matança no candomblé, que basta boa vontade e esclarecimento, e que soubesse também que muitas vezes o que move essas pessoas que defendem o sacrifício não é a religião, e sim o dinheiro e o suposto poder que ela pode proporcionar aos inescrupulosos.

 E também para dar aqui alguns argumentos para uma boa discussão... rsrsrsrsrs...

FONTE: http://verdesfolhas.blogspot.com.br/2011/01/por-que-o-candomble-verde.html


Filho de Oxalá, católico, e com fé na reencarnação




AGENOR MIRANDA ROCHA, VENERADO NOS TERREIROS DE CANDOMBLÉ E UM DOS SÍMBOLOS DA TOLERÂNCIA RELIGIOSA, VÊ PAÍS PIOR NO PLANO ESPIRITUAL 

MARCELO BERABA 
Diretor da Sucursal do Rio

Ele é o adivinho de Ifá, um Oluô,o intérprete do oráculo que traduz os desígnios dos orixás por meio dos búzios. O professor Agenor Miranda Rocha, 92, é venerado nos mais tradicionais terreiros de candomblé de Salvador, do Rio e de São Paulo. Iniciado na religião em 1912, é um dos maiores conhecedores das raízes iorubás trazidas da África pelos escravos da Costa Ocidental.

Ninguém representa tão bem as religiões afro-brasileiras quanto o professor Agenor. E ninguém, como ele, é tão representativo do sincretismo, do ecumenismo e da tolerância religiosa que caracterizam essas crenças. Filho de Oxalá, ele se considera católico por ter sido batizado, acredita na reencarnação, como os kardecistas, e admira as religiões orientais.
Ele tem críticas ao candomblé praticado hoje. Acha que existe mais vaidade, comércio e luxo do que no tempo em que seus adeptos eram perseguidos pela polícia.
O professor Agenor nasceu em Luanda quando Angola era colônia de Portugal. Seu pai era um diplomata português, e sua mãe, cantora lírica. Os orixás o rondaram desde antes de nascer, primeiro em Luanda e depois em Salvador, para onde o seu pai foi transferido em 1912.
Doente, desenganado por médicos baianos, ele foi iniciado e salvo por Mãe Aninha, fundadora dos terreiros de candomblé Axé Opô Afonjá de Salvador e do Rio.
Agenor Miranda Rocha é professor de língua e literatura portuguesas. Aposentou-se em 66. Pouco frequenta os terreiros hoje, embora ainda tenha um dos cargos mais importantes no candomblé: é o responsável que consulta aos búzios para definir a sucessão em duas das mais tradicionais casas de Salvador, a do Axé Opô Afonjá e a da Casa Branca do Engenho.
*
Folha - Por que o sr. optou pelo candomblé?
Agenor Miranda Rocha - Eu acredito no candomblé porque tenho razões. Meus pais eram católicos fervorosos, não tinham nada a ver com o candomblé. Eu nasci em Luanda. Um africano um dia encontrou minha mãe numa feira e disse que ela estava grávida. Ela nem sabia. Ele disse que ela teria um filho que nasceria com uma mancha na cabeça e que queria dar um banho na criança. Minha mãe não acreditou, mas, para se ver livre dele, consentiu. Realmente, eu nasci, e o homem estava lá para o tal do banho.
Depois, meu pai pediu transferência para o Brasil. Tinha uma vaga, mas para onde o mandaram? Para Salvador (ri). Chegando lá, com 5 anos, eu fiquei muito mal, com uma febre que o médico desenganou. Uma vizinha foi à casa de Aninha (Ana Eugênia dos Santos, nascida em 1869), fundadora do Axé Opô Afonjá. Quando ela jogou (os búzios), disse: “Este menino não tem nada. Foi o modo que o santo achou para ele ser feito”. Como estava desenganado e ia morrer mesmo, meus pais deixaram. Dizem que, quando ela começou a mexer com as folhas, eu comecei a despertar.

Folha - Quando foi sua opção consciente pelo candomblé?
Agenor - Com 5 anos eu não poderia ter idéias tão determinadas. Mas sempre achei que, se os orixás me deram a vida, eu tinha de segui-los. E segui.

Folha - O sr. é considerado o mais importante guardião da tradição do candomblé. E mesmo assim se diz católico.
Agenor - Eu sou de candomblé e sou católico. Fui batizado. Não sou praticante, mas acredito nos santos. Se eu não acreditar nas outras religiões, como vão acreditar na minha? Todas são boas. Quem estraga são os adeptos.

Folha - O sincretismo foi importante para o candomblé?
Agenor - Foi. Garantiu a conservação do candomblé pelos escravos, que adoravam os santos da Igreja como se fossem os orixás. E o feitor pensava que rezavam para os santos católicos.

Folha - E o sr. acredita em vida depois da morte?
Agenor - Acredito piamente em reencarnação. Como os kardecistas (seguidores de Allan Kardec).
Folha - O sr. tem um pouco de católico, de oriental, de kardecista e ainda assim é considerado o grande sábio do candomblé. Como o sr. explica isso?
Agenor - (Ri muito.) Não sei, só Deus poderia explicar.

Folha - Mas o sr. vai à missa, participa de mesas espíritas?
Agenor - Não, não. Rituais, só os do candomblé.

Folha - O sr. nunca teve dúvidas? Ao pensar, por exemplo, como as outras religiões são socialmente mais bem aceitas?
Agenor - Eu gosto, por exemplo, das religiões orientais. O Dalai Lama veio me visitar e achou que eu era mais budista do que muitos que se dizem budistas. Mas eu me sinto muito bem no candomblé. Não nesse candomblé moderno. O meu é o antigo.

Folha - Qual a diferença?
Agenor - Há muita diferença. A principal, a vaidade. Enquanto eu fiz (a cerimônia de iniciação religiosa) com morim (tecido), os iniciados hoje fazem com lamê. Quando tia Polquéria, que era do terreiro de Gantois nessa época, levou uma fazenda melhor, minha mãe Aninha disse: “Eu vou consultar, porque o Oxalá deste menino só quer morim”. Quando perguntaram, Oxalá disse que queria morim para me dar coisa melhor depois. Se ele recebesse uma coisa muito rica naquela hora, o que ele ia me dar depois?

Folha - Que outras diferenças o sr. vê no candomblé de antigamente com o de hoje?
Agenor - O comércio. Não tenho nada com a vida dos outros, mas nunca cobrei no candomblé.

Folha - Antigamente os africanos e as primeiras mães-de-santo não viviam do candomblé?
Agenor - Não. Eles botavam as pessoas para vender doces nas ruas. Hoje, o sr. não vê uma baiana na rua vendendo doce. Hoje, para se iniciar no santo tem que ter dinheiro.

Folha - No candomblé não existe uma autoridade única que represente a religião, como o papa na Igreja Católica. Isso é bom ou ruim?
Agenor - Em parte, muito ruim. A aprendizagem no candomblé é oral. A Igreja Católica tem a Bíblia, os muçulmanos, o Alcorão. Nós não temos. Então, cada um vai ensinar como aprendeu. E nem sempre aprendeu certo.

Folha - Mas, depois de tantos anos e tantas mudanças, é possível saber o que é o certo?
Agenor - O que se aprendeu com os africanos é o certo.

Folha - O candomblé é mais aceito hoje do que no passado?
Agenor - Hoje é mais aceito e menos discriminado. No meu tempo, a polícia perseguia, prendia as pessoas de santo, até os próprios orixás eram levados para as delegacias. No tempo em que eu fiz santo, havia poucos terreiros. Hoje, em cada canto tem um candomblé, não apenas na Bahia, mas no Rio e em São Paulo.

Folha - O que causou isso?
Agenor - As pessoas iam ver, achavam bonito e queriam entrar.

Folha - Mas por que eles não têm na sociedade a mesma força de outras religiões?
Agenor - Porque nós não temos um chefe. Cada qual se acha melhor do que o outro. Hoje há uma falta de ética muito grande.

Folha - O sr. escreveu que a religião tem de mudar para não envelhecer. Como seria essa mudança no candomblé?
Agenor - Todas as religiões se transformam. A religião também acompanha a evolução. Em qualquer religião há uma coisa que está acima de tudo, a fé. Não tendo fé, não adianta nada. A minha fé é tanta que este ano eu fiz duas operações para retirar coágulos na cabeça. Os médicos ficam admirados com a minha reação orgânica.
O candomblé também deveria mudar, mas de forma consciente. Tirar as superstições. Acabar com a idéia de que orixá castiga, orixá bate. Orixá não é déspota.

Folha - O sr. acredita em milagres no candomblé?
Agenor - É um verdadeiro milagre sofrer duas operações na cabeça, na minha idade, e não ficar com sequelas. Os orixás orientaram os médicos. E isso me salvou.

Folha - Além da superstição, o que mais deveria mudar?
Agenor - Eu sou contra matança (de animais nas cerimônias). Todos fazem, eu não faço.

Folha - Mas na África havia a matança, até de pessoas.
Agenor - Era baseada no Antigo Testamento. Mas a maior parte, não. Fazia-se o pedido ao bicho e depois o soltava no mato, na floresta. Não estou condenando os que matam. Eu é que não mato. Meus santos têm flores e luz. Porque eu tenho uma concepção dos orixás diferente da que eles têm.

Folha - Qual é essa concepção?
Agenor - Que cada orixá se encantou num fragmento da natureza. Iansã se encantou no vento, Iemanjá no mar, Oxum nas cachoeiras e rios, Xangô no fogo, Ogum nas florestas. O pessoal do candomblé fala bem de mim, mas acho que não deve gostar.

Folha - Por quê?
Agenor - Eu não me identifico com coisas que eu acho que já deveriam ter evoluído. Quando matam os bichinhos, com cantigas, aquela faca enterrando devagarinho, esses bichos só podem dar força negativa, porque estão sofrendo. E eu vou colocar coisa negativa para o meu orixá? Não.

Folha - Sob o ponto de vista espiritual, o sr. acha que a gente chega ao final do século melhor ou pior do que no seu início?
Agenor - Acho que pior. É só ver como está São Paulo, que sempre foi Estado industrial, de desenvolvimento, é só ver o Rio.

Folha - A que o sr. atribui isso?
Agenor - À miséria, à falta de fé.

Folha - As pessoas parecem procurar cada vez mais consolo nas religiões.
Agenor - É um misto de fé e de desespero, de procura por uma salvação religiosa.

FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/fe/fe14.htm


O Candomblé e a Essência do Ser




O culto aos Orisás é o culto à natureza. 

A harmonia com as forças da natureza é que torna o lado humano dos Orisás tão forte e sagrado. 

O templo dos Orisás é a natureza.

O culto ao Orisás, o Candomblé não se tornou uma religião institucionalizada como outra qualquer. 

Também não é uma seita mágica. 

O Candomblé é uma filosofia de vida. 

Consiste em toda uma ideologia que permeia moral, ética, coerência no pensar e no agir que vai totalmente à contra mão dos valores do mundo capitalista-cristão. 

Em África o culto era praticado nas aldeias e cidades ao ar livre, em sua maioria. 

Nos centros dos aglomerados sociais, à beira de rios e cachoeiras e no interior das florestas e savanas se praticavam a maior parte dos rituais.

No Brasil, o contexto social, assim como as condições espaciais, se transformou a partir do processo de intensa urbanização. 

Os negros libertos que formaram os Candomblés de Nação o fizeram nos centros urbanos, em Salvador, no Rio de Janeiro e mais tarde em São Paulo. 

Posteriormente foi se espalhando para outras cidades. 

O contexto urbano não proporcionava mais o contato direto e livre com a natureza como espaço de vivência. 

Da mesma forma o contexto social e político da sociedade escravista não permitia o culto aos 

Orisás, mesmo aos negros livres. 

Por isso os negros alforriados e livres se organizaram, adquiriram espaços formando então os terreiros de Candomblé. 

Tais terreiros constituídos em casas, chácaras e sítios concentravam os cultos em seu interior, mas não por uma simples opção e mudança da tradição. 

O espaço urbano e principalmente a proibição por parte do poder público impôs tal condição. Isso não significou que a natureza deixou de ser o único e principal templo de culto.


Mesmo quando os africanos foram arrancados de seu território natal, continuaram essa mesma relação em seu processo de mais de trezentos anos de resistência à escravidão. 

Nos quilombos principalmente se reproduzia todo um comportamento e maneira de pensar estritamente original. 

Posteriormente, com a formação dos Candomblés de Nação limitados às populações negras, isso se manteve por muito tempo.

O declínio, ou mesmo distorção dessas relações se dá após a segunda metade do século XX (1950 em diante) quando as práticas religiosas africanas começam a sair do âmbito criminal e começa a ser tratado pelo poder público como resquícios culturais, ou folclore, como queira.

A partir de então os rituais e tratamentos espirituais como o jogo de Búzios, o Ebó, o Bori e até mesmo a iniciação tornaram-se produtos de comércio. 

O Candomblé passou a ser procurado pelas pessoas, principalmente intelectuais e artistas, como uma religião alternativa, onde não era necessário seguir os padrões de comportamento cristãos, mas sem a noção de que no Candomblé também existe um padrão de comportamento. 

E tal padrão pode ser considerado tão ou mais rígido do que aquele imposto pela maioria das religiões. 

A diferença é que justamente ele não é imposto, mas sim esclarecido, e se o iniciado não cumpre, não leva punições da Casa ou do Babalorisá, ele simplesmente não se coloca como um praticante de sua própria religião. 

E os resultados disso são subjetivos, porém óbvios. 

Ao longo das gerações que procederam e propagaram os cultos, a relação foi se transformando. 

Hoje casas de Candomblé se tornaram verdadeiros templos suntuosos, semelhantes à templos cristãos, que simbolizam a riqueza material daquela casa. 

Temos leis e decretos que permitem o culto e a prática de rituais em espaços naturais, desde que feito com consciência, e mesmo assim a natureza enquanto templo está perdendo seu valor para os praticantes do culto ao Orisás. 

Isso por que os valores materialistas e consumistas do mundo atual estão inseridos no modo de pensar candomblecista. 

Terreiros suntuosos, roupas caríssimas, jóias, fartura exagerada de comidas e bebidas simbolizam Asé. 

Riqueza, bens materiais, muito dinheiro e fama simbolizam Asé. 

A força espiritual está ficando, cada vez mais, em segundo plano. 

A força do dinheiro em primeiro.

Hoje, o Orisá é forte à medida em que seu filho conquista bens materiais, e não felicidade, ou melhor, a felicidade através de bens materiais, como na sociedade consumista. 

E se essa felicidade pelos bens materiais, pelo sucesso financeiro não vem o Orisá não é bom, o Babalorisá não é bom, então pode e deve ser abandonado para se tentar a sorte em outra religião, na maioria das vezes evangélica. 

O lado religioso, litúrgico, ritualístico do Candomblé recebe tratamento de mágico, místico e folclórico pelos próprios adeptos. Iniciados não colocam sua própria religião no mesmo patamar de outras. 

Para muitos é uma religião visual, em que roupas bonitas e suntuosidade são prioridades. Sendo que na verdade a verdadeira essência do Candomblé não se vê, apenas se sente.

Autor: Alan Geraldo Myleô
FONTE: O Candomblé e a Essência do Ser


domingo, 10 de março de 2013

Candomble - Jeje, verdadeiros objetivos e dogmas do Candomblé



Introdução
Os deuses africanos vieram para esse continente através dos negros escravos, que aqui chegando estabeleceram uma grande legião de seguidores, da cultura e religião Afro. 

A internet por ser um veículo de grande penetração e informação,tem ajudado a divulgar e esclarecer os verdadeiros objetivos e dogmas do Candomblé, até então mal compreendidos e interpretados. 

Com isso, novos adeptos de todas as camadas sociais vem sendo atraídos a esse maravilhoso mundo dos deuses africanos. 

O Candomblé é uma religião brasileira, oficialmente reconhecida, que presta culto aos deuses que nos legaram os africanos que para
aqui vieram no séc. XVI. 

É o termo genérico que define o coletivo de nações(tribos) africanas, no Brasil. Em nosso país, essas nações foram denominadas como; Jeje, Ketu, Angola, Nagôs, Xambá, Igexá, etc. 

Apesar de ser divididos em diversas nações, o Candomblé mantém uma unidade no âmago de sua originalidade, que acredito ser da época pré-histórica. 

A finalidade dessa home page é dar uma parcela de contribuição para o melhor conhecimento da cultura dos povos africanos que deram origem ao culto dos Voduns no Brasil, colocando para os leitores e pesquisadores o resultados das minhas pesquisas investigativas para achar minhas raízes, histórias e tradições no Brasil e na África. 

Graças a Deus e aos deuses, tive oportunidade de entrar em contato com algumas pessoas do Benin e EUA que se tornaram meus amigos e têm me ajudado muito nesse trabalho enviando-me material de pesquisas e respondendo as minhas indagações. 

Também
no Brasil, encontrei pessoas de conhecimento e boa vontade, que deram sua
contribuição. Penso que é chegada à hora do povo Jeje se unir e começar a SOMAR. 

A divisão quase extinguiu nossa nação. 

Vamos aprender juntos a lindíssima cultura dos Voduns.

Agradeço a todos que de alguma forma me forneceram subsídios para que essa home page se tornasse uma realidade. 

Peço que me auxiliem enviando suas críticas e sugestões através de um e-mail ou assinando meu bookmark.
Yatemi Jurema de Yansã

O Jeje na África

A história do desenvolvimento do império crescente do Dahomey é indispensável para compreendermos os Voduns, precisamente a quebra e a migração do Ewe/Fon. 

Alguns estudiosos da cultura africana achavam que todos os Voduns cultuados em Dahomey eram deuses originários dos yorubanos. 

Um equívoco!

Trata-se simplesmente de uma troca de atributos culturais de cada região. 

Em todas as regiões, os deuses africanos são louvados, sejam ancestrais ou vindos de outras regiões, mas preferencialmente cada região cultua seus próprios deuses, os ancestrais. 

Os deuses estrangeiros podem ser aceitos inteiramente nos santuários dos Voduns locais, embora permaneçam sempre como estrangeiros. 

O mesmo tratamento é dado em terras yorubanas aos Voduns originários de outras regiões.

Dahomey, cuja capital era Abomey, foi o principal reino da história do atual Benin.

Seu poderio militar formado por bravos guerreiros e amazonas era temido por todos os reinos vizinhos que foram sendo conquistados. 

O exército do rei era dividido em duas partes: o regimento permanente e o regimento das coletas tribais(prisioneiro). 

Esses prisioneiros eram treinados para serem guerreiros do rei e as mulheres, em especial, eram enviadas ao regimento das amazonas onde aprendi ama lutar. 

Os prisioneiros que se negavam a aderir as causas do rei eram sumariamente executados ou vendidos como escravos. 

Os chefes das tribos conquistadas ficavam reservados para serem executados durante o festival anual de ancestrais, em memória dos reis mortos. 

Suas cabeças eram decapitadas e seus sangue oferecido aos falecidos reis. 

Essa pratica aconteceu do séc. XVI até o séc.XVII. 

O reino de Dahomey foi o maior exportador de escravos para o nome mundo. 

Adja-Tado foi quem começou esse grande império de Dahomey. 

Primeiro conquistou a cidade de Adja onde se tornou rei, casou e teve 3 filhos. 

Quando seus filhos já eram guerreiros, Adja-Tado foi a Allada junto com eles e estabeleceu oreino de Allada. 

Seus filhos se dividiram e estabeleceram reinos separados e tornaram-se reis. 

O primogênito Zozergbe foi rei de Porto Novo, o segundo filho foi sucessor de Adja-Tado no trono de Allada e o terceiro filho, Aklim fundou oque mais tarde seria o principal reino da região. 

Aklin foi para Ghana e Bahicon (agora Benin, sul-central), com seu exército, e estabeleceu uma outra dinastia, acidade de Abomey, que foi a capital do império militar, conhecida como Dahomey.

Dahomey foi governada por um total de treze reis divinizados, por quase dois séculos. 

Agassu, que era um dos líderes do império, dizia ser filho de um leopardo com a princesa de Tado, Aligbonon. 

Ela teria sido encantada por esse leopardo originando o nascimento de Agassou. 

Agassou teve três filhos e deu início a uma linhagem de homens leopardo.

Jeje Brasil 

Djedje (jeje) é uma palavra de origem yoruba que significa estrangeiro, forasteiro e estranho; que recebeu uma conotação pejorativa como “inimigo”, por parte dos povos conquistados pelos reis de Dahomey e seu exército. Quando os conquistadores eram avistados pelos nativos de uma aldeia, muitos gritavam dando o alarme “Pou okan, djedje hum wa!” (olhem, os jejes estão chegando!). 

Quando os primeiros daomeanos chegaram ao Brasil como escravos, aqueles que já estavam aqui reconheceram o inimigo e gritaram “Pou okan, djedje hum wa!”; e assim ficou conhecido o culto dos Voduns no Brasil “nação Jeje”. Dentre os daomeanos escravizados, uma mulher chamada Ludovina Pessoa, natural da cidade Mahi (marri), foi escolhida pelos Voduns para fundar três templos na Bahia. 

Ela fundou: um templo para Dan; “Ceja Hundê”, mais conhecido como o “terreiro do Ventura” ou “Axé Pó Zehen” (pó zerrêm) em Cachoeira de São Felix; um templo para Hevioso “Zoogodo Bogun Male Hundô” em Salvador e um templo para Ajunsun que não se sabe porque não foi fundado. Esse é o segmento jeje-mahi do povo Fon. 

O templo de Ajunsun/Sakpata foi fundado mais tarde pela africana Gaiacu Satu, em Cachoeira de São Felix e recebeu o nome de Axé Pó Egi, mais conhecido por Corcunda de Ayá. 

São os Jejes Savalu ou Savaluno. 

Sakpata era reida cidade Savalu/África, segundo alguns historiadores, Sakpata foi o único rei que preferiu o exílio a se render aos conquistadores de Dahomey. 

O dialeto dos savalus também é o Fon. No Maranhão encontramos a Casa das Minas fundada por Maria Jesuína, segundo informação de Sergio Ferreti. 

Creio que esta casa dispensa comentários, pois é com certeza a mais conhecida casa de jeje do Brasil.   

Esse é o segmento do povo Jeje-Mina.Ainda no Maranhão encontramos a casa Fanti-Ashanti fundada por Euclides Menezes Ferreira. 

Esse é o segmento jeje-Fanti-Ashanti do povo Akan vindo de Ghana. No Rio de Janeiro, foi fundado pela africana Gaiaku Rose na, natural de Allada, o“Terreiro do Pó Dabá” no bairro da Saúde, que foi herdado por sua filha Adelaide do Espírito Santo, mais conhecida como Mejitó que transferiu a casa de santo para o bairro Coelho da Rocha. 

Depois veio Antonio.Pinto de Oliveira. 

“Tata Fomutinho” que fundou o Ceja Nassó, no bairro de Santo Cristo, depois mudou-se para Madureira na Estrada do Portela, depois para São João de Meriti onde finalmente se estabeleceu na Rua Paraíba. 

Dizem os mais velhos, que Mejitó,ajudou muito Tata Fomutinho no começo de sua vida de santo aqui no Rio de Janeiro. 

Tata Fomutinho deixou uma legião de filhos, netos e bisnetos. Dentre esses, meu pai Jorge de Yemanja que fundou o Kwe Ceja Tessi, Pai Zezinho da Boa Viagem que fundou o Terreiro de Nossa Senhora dos Navegantes, Tia Belinha que fundou a Colina de Oxosse e Amaro de Xangô que é aquele tio que está sempre disposto a nos atender e nos ajudar com suas memórias e conhecimentos.

                                                                     VODUN

Vodou – Vodoun – Vodum – Voodoo – Voudun – Vodu – Vudu – Hoodoo - etc.A palavra vodou é de origem Ewe/Fon e significa força divina, espírito, força espiritual. 

É usada pelo povo do oeste da África para designar os deuses e ancestrais divinizados. 

No século XVIII o rei Agajá consolidou as crenças de vários clãs e aldeias, formando um “sistema espiritual dos Voduns”. 

Isso gerou uma enorme variação do termo, devido a quantidade de dialetos usados por esses clãs e aldeias, que somado a influência francesa, passaram a falar como entendiam.

Essa diversificação fonética dá-se também por conta dos idiomas de pesquisadores que “invadiram” a África, em busca de conhecimento sobre o Vodou. 

No Brasil, por exemplo, usamos o fonema Vodum. A palavra Hoodo o não é uma variante deVodou. 

O Hoodoo é uma sociedade haitiana similar as que existem no Benin(Sociedade do Bo) e Ghana (Sociedade Jou-Jou), onde pessoas são preparadas para ler oráculos e fazer fórmulas mágicas usando elementos da flora, da fauna e do mineral. 

Como sou brasileira usarei daqui por diante o termo “Vodum”. Quando foi estabelecido o grande reino de Dahomey, lá não existia o culto de Voduns. Nessa época, o atual rei sentia a necessidade de uma assistência espiritual que o ajudasse a combater os problemas que o atormentava. Mandou chamar um bokono(adivinho) e pediu que esse consultasse os oráculos. A conselho dos oráculos mandou vir de diversas regiões os Voduns e construiu seus templos. 

Com isso Dahomey passou a sitiar diversos clãs e aldeias de Voduns. Anos mais tarde, o rei Agajá fez a consolidação, como já foi dito. No período da escravidão, muitos daomeanos foram levados para o novo mundo e com eles a cultura e o culto dos Voduns. 

Os Voduns cultuados no Brasil são originário da África, sua práticas e tradições se mantiveram intacta como era no Dahomey (atual Benin) desde o começo dos tempos. 

A nação Jeje sofreu por alguns anos uma queda em seus cultos, devido a falta de informações. Os mais antigos preferiram levar para o túmulo seus conhecimentos a passá-los aos que poderiam perpetuar os Voduns no Brasil.

 Dos filhos de Jeje que ficaram perdidos, sem conhecimento sobre Voduns,uns mudaram de nação e outros resolveram investigar, buscar, pesquisar suas origens e levantar a bandeira da nação. Hoje, graças a essas pessoas, a nação Jeje voltou a crescer e a seguir a cultura que foi deixada pelos escravos. 

Hoje,encontramos kwes e pessoas que realmente sabem o Culto dos Voduns, esses aprenderam na “própria carne” a passar seus conhecimentos e não deixar que nossa nação venha a sofrer novos abalos ou quedas. Com a proliferação de estudos e pesquisas sobre os Voduns, alguns dos mais velhos que ainda estão vivos resolveram colaborar e nos passar alguns conhecimentos. A primeira coisa que os adeptos do Jeje devem aprender é a diferença entre Voduns e Orixás, (esse assunto vocês encontram no tópico Jeje África). 

Vodum é Vodum, Orixá é Orixá; Oya não é Vodum Jô. 

Aziri não é Oxum, Naetê não é Yemanja, etc. 

Assim como na África,também fazemos Orixás dentro dos templos de Vodum, mas isso não os transforma 


Tu que brilhas no alto bem alto,Acima da floresta tão grande,Arco poderoso do Grande Caçador celeste,Diz a ele que agradecemos! Não, Bako não se apagaria - não enquanto houvesse estrelas no céu e enquanto Khmvoum velasse sobre seu povo.Texto - Franck Jouve e Michael Welply 

Tradução - Ana Maria Machado

A ÁRVORE QUE NÃO TINHA MEDO DO CÉU

 O Céu não foi sempre alto assim, nem a floresta tão bonita e cheia de vida. No começo, o Céu ficava muito perto da Terra e pesava sobre ela como se fosse uma grande tampa, de tal modo que as árvores só conseguiam crescer para os lados. Então seus galhos ficavam uns por cima dos outros, suas folhas varriam o chão tristemente, seus brotos se amarrotavam e secavam...Era assim desde o começo dos tempos - e seria até hoje se uma sumaúma, cansada de viver apertada, não tivesse forçado seu destino.

"Quem sabe se não há mais espaço do outro lado do teto do mundo?", sonhava ela.Firmando bem sua copa, a árvore tentou furar um buraco e então - mas que prodígio! - o Céu recuou alguns metros! Era o que bastava para que a valentes uma uma se endireitasse em todo o seu tamanho e passasse lá para cima, para aspirar o ar das alturas.

Espantadas ao verem que se afastava o tirano que as oprimia desde sempre, as outras árvores aproveitaram para se sacudir e se esticar, lançando seus galhos para o alto. Os troncos se firmaram, as raízes ancoraram majestosamente no solo, os brotos atrofiados se desdobraram, embriagados de felicidade, e deixaram assim nascer milhares de folhas. Em volta da sumaúna, em pouco tempo a Terra era uma vasta floresta virgem, que finalmente começava a respirar.

Enquanto isso, do outro lado do Céu, um jovem casal de órfãos avançava cautelosamente pelas grandes pradarias celestes. Ao avistar o que tanto procuravam, ficaram imóveis. Um lagarto grande , preguiçoso, tomava sol  estendido sobre uma nuvem. 

O caçador ergueu sua azagaia, enquanto sua companheira punha uma flecha no arco. Consultaram-se com um olhar e fizeram pontaria... 

O lagarto deu um salto e rolou sobre si mesmo, no instante em que os dois projéteis fendiam o ar. Os órfãos não acreditaram no que viam: não apenas tinham errado o alvo, mas seus tiros haviam desaparecido num buraco!

Esquecendo a presa, aproximaram-se da abertura...

Debaixo do assoalho do Céu, um estranho mar verde ondulava a perder de vista.Olhando mais de perto, descobriram a flecha e a lança fincadas no meio daquele oceano esquisito. Não era um mar líquido. O que seria então?- E se nós descêssemos? - sugeriu a moça, fascinada. Não precisou dizer duas vezes. Era isso mesmo o que ele queria. Pousou o pé num galho da sumaúma, para testar se era firme, e depois estendeu os braços para a companheira, a fim de ajudá-la. De galho em galho, penetraram assim no coração daquele reino verde, até pisarem em terra firme. Durante todo o dia, exploraram cada recanto da floresta, maravilhados com sua beleza e com o frescor que nela reinava. 

A mesma idéia lhes ocorreu, ao mesmo tempo: por que não se mudavam para viver ali embaixo?O entusiasmo deles diminuiu quando, depois de muitas horas de buscas inúteis,tiveram de se render às evidências: não havia viv'alma naquele lugar... Nem um animal nos ocos, nem ao menos um inseto! Um silêncio mortal planava sobre a floresta desabitada.Muito desapontados, os órfãos se sentaram num tronco de árvore para pensar.Mesmo que eles se alimentassem apenas de frutas e bagas, morreriam de tédio e solidão. E como começavam a ter fome, a moça de repente se lembrou de que tinham o bolso uma espiga de migo celeste. Ia dividi-la ao meio, mas mudou de idéia e a cortou em três pedaços. Deu um ao companheiro, guardou o outro para si e plantou o último na beirada do bosque. Talvez surgisse um campo de milho daquela terra semeada, num sinal de que pudessem ficar lá embaixo.

Enquanto as primeiras folhinhas do pé de milho apontavam timidamente em buscada luz, a sumaúna continuava a crescer, empurrando o Céu, lá nas alturas. 

Até que chegou um momento em que o Céu se cansou e não quis mais chegar para trás.Curvou-se todo para resistir ao ataque daquela insolente... mas a árvore acabou conseguindo transpassá-lo e sair do outro lado.Foi assim que uma copa gloriosa e triunfante irrompeu bem no meio da pradaria do céu - para grande alegria dos animais que lá viviam e que vieram correndo se abrigar dentro dela. 

Até que enfim, aparecia um lugar fresco e sombreado!

Porém, mal tinham se metido pelo meio da folhagem, quando o Céu resolveu de uma só vez se afastar para bem longe da sumaúma, indo parar no lugar onde está até hoje.

Abandonados, sentindo-se presos numa armadilha, os animais não tiveram outro remédio: trataram de descer, de qualquer jeito, pelo troco da sumaúma e foram viver na floresta. 

Os que não conseguiram, nem sabiam voar, tiveram de esperar que os órfãos fossem buscá-los, um a um.

Foi assim que o mudou o mundo todo, graças a uma árvore que não tinha medo doCéu.

Texto de Franck Jouve

Tradução de Ana Maria Machado

INSTRUMENTOS
A cultura africana é muito rica. 

Neste espaço disponibilizaremos alguns dos instrumentos musicais usados emrituais e comemorações de nossa nação.Para cada um deles, contamos um pouco de sua história e utilização. É, de fato,uma viagem no tempo e na história da cultura afro-brasileira.

DANHOUNO danhoun pertence a família dos instrumentos de percussão. É uma série de três tambores de tamanhos diferentes sendo o maior chamado de hounon, o médio osanga e o menor o alekle. Eles são cobertos com ráfia tingida, apenas tocados por adeptos preparados (ogans) e sua melodia só pode ser dançada por pessoas feitas.

Este instrumento só é tocado durante as cerimônias em honra ao deus Dan,representado pelo arco-íris ou por Dangbe, a cobra python, para as Tovoduns das águas doces ou para Legba, deus dos caminhos. 

Nestas cerimônias os adeptos também usam roupas de ráfia tingidas de roxo.

A intensidade do ritmo do danhoun proporciona o transe aos voduncis.

O deus Aziza, fascinado pelo danhoun, foi o primeiro a iniciar um ogan para tocar seu instrumento de adoração.

 Na África, tocar o danhoun para outros deuses que não os citados, é consideradosacrilégio. Seu caráter altamente religioso faz deste tambor um instrumento muitoespecial
.
TATCHOOTAtatchoota é uma espécie de gongo.

Este instrumento musical é usado, principalmente durantes os rituais fúnebres ecelebrações.

Ele difere dos outros gongos por seu tamanho e forma especiais. 

É composto de duas peças independentes sendo a primeira sempre usada no dedo indicador e a segunda, circular, no polegar.

O tatchoota é confeccionado em ferro e, usualmente, possui 8 cm de diâmetro e 20 cm de comprimento. 

Os primeiros tatchootas a serem confeccionados pelos antigos ferreiros reais, eram muito maiores.

FONTE:http://pt.scribd.com/doc/61897563/Candomble-Jeje