CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

quinta-feira, 31 de maio de 2012

O EERINDINLOGUN (ẸẸ́RÌNDÍNLÓGÚN) É IFÁ



Este tema tem sido abordado por mim algumas vezes e vou continuar a fazê-lo. 


O assunto tem muitas nuances e ao invés de um longo texto, como já fiz antes, vou publicar partes.


Não é o mesmo texto. 


Toda publicação ou re-publicação é uma versão significativamente alterada e atualizada.




A prática do oráculo no Candomblé tomou mais de um caminho ao longo da nossa história e sofreu diversas influências. 


A primeira coisa que eu lembro a todos é que Ifá e oráculo são sinônimos no Candomblé.


A maior parte das pessoas pode até desconhecer que existe um culto separado destinado a Ifá ou a divindade Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) mas sabe que existe um oráculo chamado de Ifá.


 Assim, da mesma forma como Ifá e Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) são em certo aspecto sinônimos em Ifá, no Candomblé, Ifá e oráculo são palavras sinônimas, sem que isso seja necessariamente vinculado ao uso de Odù.


Por muitos anos temos ouvido as pessoas chamarem o seu oráculo de Ifá sem isso guardar qualquer vínculo com o Culto de Ifá ou mesmo com o Oráculo de Ifá. Hoje a gente deve saber que o uso de Odù no oráculo do Candomblé é opcional e é dominado por muito poucos. Chego a ter a ousadia de dizer que ninguém sabe nada, apenas falam palavras soltas. Os Babalorixá (Babalórìṣà) não se preocuparam em aprender nada. Foram apenas “catando” coisas, copiando outros e chamaram o que fazem de jogar por Odù.


Mas, vamos voltar a esse ponto mais adiante. Para que cheguemos em algum lugar vamos examinar primeiro a ligação entre o owó eyo (ẹyọ) merindinlogun (mẹ́rìndínlógún) e Ifá.


Com simplicidade, sem recorrer a textos complicados de Odùs, vamos considerar que tudo é uma mesma religião. Dentro do culto dos Orixá (Òrìṣà) ou do culto de Ifá estamos tratando da mesma religião. É o mesmo Olódúmarè, é o mesmo aiyé, é o mesmo orun (Ọ̀run), são os mesmos Orixá (Òrìṣà). A Teogonia é a mesma. E nesse conjunto, como estamos todos falando com as mesmas divindades e acreditando na mesma metafísica, se recorremos a um oráculo para tratar da vida e do destino das pessoas e recebemos respostas sobre isso que nos permitem ajudar e orientar essa pessoa então, tem que ser Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) que esta se manifestando em nossa vida.


Assim, eu não vejo porque Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) não poderia falar através do eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún). Em Ifá existem diversos instrumentos. Os Babaláwo podem usar os Ikin, o opele (ọ̀pẹ̀lẹ̀), o Obi e ainda cascas de coco (como os cubanos fazem). Por que não poderiam usar os búzios? Ou, porque um olhador que tenha sido iniciado e seus instrumentos consagrados não pode fazê-lo?


Eu lembro que o oráculo do candomblé, o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) sempre serviu e continuará servindo com louvor a tudo o que é necessário fazer em uma casa de Orixá (òrìṣà). Esse oráculo representa sim uma forma autêntica e verdadeira de diálogo entre nós e o divino, entre nós e certamente os Orixá (òrìṣà). Se não fosse assim tudo seria errado ou sairia errado, e não é isso o que ocorre.


A ligação entre Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) existe nos versos do Odù Ogbè-Ọ̀sá, conforme transcritos por Wande Abimbola.


Houve um tempo que Olódùmàrè convocou todo os 401 Orixá (Òrìṣà) para o Órun (Ọ̀run), para para surpresa dos Orixá (Òrìṣà) eles encontraram as Ajé (Àjẹ́) no Órun (Ọ̀run) e estas passaram a comer um por um. Mas como Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) havia feito um sacrifício antes de deixar a terra ele foi miraculosamente salvo por Oxun (Ọ̀ṣun) que substituiu Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) por carne fresca de cabrito (que Órunmilá havia usado no sacrifício recomendado por Ifá).


Quando eles retornaram a terra eles se tornaram mais próximos do que nunca. Este foi provavelmente o tempo no qual Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) teve Oxun (Ọ̀ṣun) como esposa. 


Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) então decidiu recompensar Oxun (Ọ̀ṣun) e então ele colocou junto os 16 búzios e ensinou a Oxun (Ọ̀ṣun) como usá-los.


...Este mostra como Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e Oxun (Ọ̀ṣun) se tornaram unidos.


Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) disse que estava agradecido com o que ela fez por ele.
Foi uma coisa expecional.
Ele se esmerou no que dar a ele em agradecimento.
Esta foi a razão mais importante pela qual Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) criou os owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún.
Ele então colocou-os nas mãos de Oxun (Ọ̀ṣun).
De todos os Orixá (Òrìṣà) que usam os owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún.
Não existe nenhum que tenha feito isso antes de Oxun (Ọ̀ṣun).
Esta foi a forma pela qual Ifá foi dado a Oxun (Ọ̀ṣun).
E foi pedido para ela usá-los
Como um outro meio de consutar o oráculo.
Isto foi como Ifá foi usado para recompensar Oxun (Ọ̀ṣun).
Desta forma Oxun (Ọ̀ṣun) também podia chamar Ifá.
Ninguém mais pode saber
porque Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) tomou Oxun (Ọ̀ṣun) como esposa.
Das diversas formas de oráculo
owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún é a mais próxima de Ifá.


Assim de acordo com esse Odù foi Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) que criou o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún e se Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) é Ifá e o conhecimento de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) é baseado em Odù e Ifá ele não poderia ter criado algo que não fosse parte do seu próprio conhecimento.


Isso muda a versão de um mito popular, corrente do Candomblé, de que Oxun (Ọ̀ṣun) teria obtido o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún de Exu (Èṣù) o que de fato teria como consequencia uma não ligação direta com Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà). Como muita coisa no Candomblé sobre Odù e Ifá, mais uma bobagem.


Mas esse Odù Ogbè-Ọ̀sá, extraído por uma pessoa de credibilidade no culto de Ifá e na religião Yorùbá, deixa claro que Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) é de fato e direito o criador do owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún.


Este Odù também vai mostrar a seguir que o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún recebeu o seu Àṣẹ do próprio Olódùmàrè:


...A cada 16 anos
Olódùmàrè usava chamar os adivinhos da terra para um teste.
Para saber se eles estavam dizendo mentiras para os habitantes da terra.
Ou se eles estava dizendo a verdade
Este teste consistia em chamar Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e outros olhadores da terra
Olódùmàrè diria o que ele ira ver neles.
Quando eles chegaram
Olódùmàrè pediu para eles consultarem o oráculo para ele.
Quando Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) terminou a consulta
Olódùmàrè perguntou: Quem é o próximo?
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) disse que a próxima pessoa vinha a ser sua companheira
O qual era uma mulher
Olódùmàrè então perguntou:
Ela também é uma advinha, uma olhadora?
O qual Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) respondeu, “Sim, isto é verdade”
Olódùmàrè então pediu a ela para consultar o oráculo para ele
Quando Oxun (Ọ̀ṣun) examinou Olódùmàrè,
ela viu tudo em sua mente
Mas ela não disse para ele tudo o que viu
Ela mencionou a essência
Mas ela não disse as raízes do problema assim como faz Ifá
Olódùmàrè então perguntou a Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) o que era aquilo?
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) então explicou a Olódùmàrè
como ele honrou Oxun (Ọ̀ṣun) com o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún
Olódùmàrè disse, “Esta tudo certo”
Ele disse que mesmo sabendo que ela não lhe contara tudo o que sabia
Ele daria a sua autoridade para ela
Ele adicionou “De hoje para sempre,
até mesmo quando o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún
não disse tudo detalhadamente
Qualquer um que desacreditar dele
sofrerá as consequencias imediatamente
Isso não precisará esperar até o dia seguinte
Este é o motivo pelo qual as previsões do owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún ocorrem rapidamente
Esta foi a forma como o owó ẹyọ mẹ́rìndínlógún recebeu o seu Àṣẹ diretamente de Olódùmàrè


A transcrição desse Odù esta no artigo "The Bag of wisdom - osun and the origin of ifá divination" de Wande Abimbola.


Um outro verso contido no Odù Okanransode, que foi transmitido pelo Babaláwo Ifátóògùn, famoso sacerdote de Ìlobùú, conta a história do saco da sabedoria. 


Olódùmàrè jogou na terra o saco da sabedoria e pediu a todos os Orixá (Òrìṣà) que procurassem por ele. Ele garantiu que o Orixá (Òrìṣà) que o encontrasse seria o mais sábio de todos eles. Olódùmàrè mostrou como era o saco para todos os Orixá (Òrìṣà) para que eles reconhecessem quando o vissem. Uma vez que Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e Oxun (Ọ̀ṣun) eram íntimos eles decidiram procurar juntos.


Uma pessoa velha amarou um um fio de contas mas ele se abriu
Um sábio amarrou um fio de conta e el ficou frouxo
Somete uma pessoa que apoia suas costas em ikins
irá amarrar um fio de contas que irá durar
Ifa foi consuktado para Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
quando ele e Oxun (Ọ̀ṣun) foram procurar pela sabedoria
Foi Olódùmàrè que chamou as 401 divindades (da direita)
e as 201 divindades (da esquerda)
para se reunierem no Orun (Ọ̀run)
Quando elas chegaram lá
Ele disse que queria dar para elas profunda sabedoria e poder
Ele disse que que qualquer um poderia ver isto
que ele iria dar para o Ori deles
E esta seria a pessoa mais sábida na terra
Ele disse que 19 dias a frente
Ele jogaria o saco da sabedoria na terra
Mas se isso seria na floresta
ou seria no campo
Ou seria no rio
ou seria em uma cidade
ou seria em uma estrada
Ele não diria onde extamente seria
Olódùmàrè mostrou então a todos o saco da sabedoria
Ele disse “É isso”
Olhem bem
E observem bem.
Quando eles chegaram de volta a terra
alguns deles iniciaram a fazer sacrificios
Alguns fizeram remédios
Alguns planejaram a sua propria estratégia
Todos disseram “Essa coisa, serei eu quem vai achar”
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e Oxun (Ọ̀ṣun) costumavam fazer coisas juntos
Eles estavam sempre um na companhia do outro
Ambos adicionaram 2 búzios a 3
e foram consultar Ifá
Eles perguntaram aos babalawo (babaláwo) para verificarem sobre ambos
“A coisa que os Orixá (Òrìṣà) estão procurando poderiam ser ambos eles as pessoas que a encontrariam?”
Os babalawo (babaláwo) pediram a Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e Oxun (Ọ̀ṣun) que fizessem um sacrifício
Com os grandes alakas que eles estavam usando
Cada um deles deveria oferecer um cabrito
e um rato domético
Bem como 201 ọ̀kẹ́ cheios de búzios para cada um deles
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) disse a Oxun (Ọ̀ṣun) que eles deveriam fazer o sacrifício
Mas Oxun (Ọ̀ṣun) disse m “por favor, deixe me descançar”
Vá fazer o sacrificio com o seu alaka
Qual a relação disso com o que estamos procurando?
Oxun (Ọ̀ṣun) se recusou a fazer o sacrifício
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) cujo outro nome era Àjànà,
pegou o seu alaka e ofereceu em sacrificio
Ele também usou um rato doméstico e dinheiro para o sacrifício
Eles então procuraram pelo saco da sabedoria mas não acharam
Todos os outros Orixá (Òrìṣà) tmbém não encontraram
Eles procuraram em Ẹ̀gá ajá
Ele foram longe até Ẹ̀sà adìẹ
alguns foram ainda até Ìkọ Àwúṣẹ̀
alguns procurara também em Ìdòròmù Àwúṣẹ̀
Onde o dia vira noite
Mas ele não encontraram
Um dia um rato doméstico foi até o alaka que Oxun (Ọ̀ṣun) usava
E fez um buraco no bolso
No dia seguinte eles se consideraram prontos
e procuraram o saco da sabedoria mais uma vez
Então Oxun (Ọ̀ṣun) o encontrou!
Ela exclamou “Han-in este é o saco da sabedoria!”
Ela colocou então no bolso do seu alaka
Ela então foi embora apressada
Como ela estava atravessando florestas mortas e subindo por troncos
repentinamente o saco caiu do seu bolso
pelo buraco que o rato tinha feito
Oxun (Ọ̀ṣun) estava chamando Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
Dizendo “Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà), cujo outro nome é Àjànà
Venha rápidp, venha rápido
Eu vi o saco da sabedoria
Quando Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) estava indo ele viu o saco da sabedoria no chão
Ele então colocou no bolso do seu próprio Alaka
Quando ele chegou em casa
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) disse: Oxun (Ọ̀ṣun) deixe-me ver o saco
mas Oxun (Ọ̀ṣun) disse que ela jamais mostraria para um homem
Mas se um homem precisasse ver
Ele teria que dar lhe 200 ratos
200 peixes
200 passaros
200 animais
e um monte de dinheiro
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) implorou por muito tempo para ver o saco
mas ela não permitiu
Ele então retornou para a sua própria casa
Quando Oxun (Ọ̀ṣun) tentou pegar o saco no seu bolso
de maneira que ela o visse mais uma vez
Ela colocou a sua mão no bolso
e sua mão entrou dentro do buraco feito no fundo do bolso
Então Oxun (Ọ̀ṣun) foi encontrar Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) na sua casa
Ela começou a implorar a ele
Ela começou a agradar Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
Assim foi então como Oxun (Ọ̀ṣun) foi para a casa de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà)
para viver com ele como marido
De maneira que ele pudesse ensinar para ela um pouco de sabedoria
Nos tempos antigos, quando uma pessoa se casava
Não era obrigatório para a esposa ir para a casa do marido viver com ele
Assim foi como os casais passaram a viver juntos
Quando Oxun (Ọ̀ṣun) tirou o seu alaka
ela colocou àṣẹ na sua boca e disse
daquele dia em diante nenhuma mulher ia vestir um alaka como os homens
Ela então jogou o seu alak no lixo
Depois de muitos pedidos de Oxun (Ọ̀ṣun)
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) pegou um pouco de sabedoria e deu para ela
Este é o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún)
O qual Oxun (Ọ̀ṣun) faz uso
O saco de sabedoria é Odù Ifá,
os remédios e todas as demais profundas sabedorias do povo Yoruba


Assim vou destacar de forma bem objetiva o que o Odù Okanransode ensina:
Oxun (Ọ̀ṣun) foi a primeira a ter acesso a sabedoria de Ifá. Ela encontrou o saco de sabedoria e olhou para ele, assim ela obteve antes de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) a sabedoria de Ifá. Devido a sua teimosia, falta de fé ou preguiça ela perdeu o saco para Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) que assim teve a posse dele por todo o tempo e a sabedoria e poder que Olódùmàrè prometeu. Mas não se pode ignorar o acesso que Oxun (Ọ̀ṣun) teve a Ifá.


Oxun (Ọ̀ṣun) foi viver com Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e este lhe deu mais sabedoria de Ifá.


Esse Odù nos dá também uma excelente explicação de porque somente homens tem acesso pleno a sabedoria de Ifá. Oxun (Ọ̀ṣun) se tivesse acesso teria omitido isso dos homens, Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) observando isso limitou o acesso de Oxun (Ọ̀ṣun) ao conhecimento de Ifá. Essa interpretação deve ser estendida aos homens em geral e as mulheres também, e não especificamente a Oxun (Ọ̀ṣun) e Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà). Oxun (Ọ̀ṣun) é a essência feminina e um Odù é uma metáfora. Assim isso explica o papel de babalawo (babaláwo) e de Apetebi. 


Outra lição é o mal destino que teve a ambição ou ganância no uso da sabedoria de Ifá. O desejo de Oxun (Ọ̀ṣun) era se enriquecer com essa sabedoria. Isso foi penalisado, assim a sabedoria de Ifá jamais deve ser usada para enriquecer ninguém.


Outro aspecto foi o preço a ser pago para se tornar sábio. Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) pagou o preço e se tornou sábio, Oxun (Ọ̀ṣun) não quis pagar e não obteve exito na sua busca. A sabedoria exige sacrifícios de bens.
Apesar disso tudo é inegável os seguintes vínculos:
Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e Ifá com o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún)
de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) com Oxun (Ọ̀ṣun)
de Oxun (Ọ̀ṣun) o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún)
Unindo os versos de Okanransode com o de Ogbè-Ọ̀sá fica demonstrado e clara e evidente ligação entre Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún). 


OS MÉTODOS DE CONSULTAR IFÁ COM BÚZIOS




Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) fala através de Odù, isso é definitivo. Os búzios (owó-ẹyọ mẹ́rindílógún) também obtêm respostas através de Odù.


Eu vou transcrever abaixo um trecho do artigo "The Bag of wisdom - osun and the origin of ifá divination". O autor do artigo, como já citei, é Wande Abimbola um dos mais eminentes acadêmicos Nigerianos da atualidade que se dedicou a reconstituir a cultura de Ifá na Africa. O autor é Nigeriano e ao mesmo tempo 100% comprometido com Ifá. Isso o torna bastante isento, o texto a seguir é uma análise dele sobre a pesquisa e a interpretação dos Odù Okanransode e Ogbè-Ọ̀sá que já transcrevemos anteriormente:


"Por "Ifá Divination" nós queremos traduzir como Ifá e sistemas correlacionados de oráculo baseados em estórias e símbolos de Odù tais como Dida owo (uso do opele), etite-ale (uso do ikins), eerindinlogun (16 buzios), agbigba (um outro tipo de opele) e obi. 


O propósito desse artigo é examinar a íntima relação de Oxun (Ọ̀ṣun) com o oráculo de Ifá de duas formas, através dela mesma e através da instrumentalização de oxetuura, seu filho. Nós iremos iniciar com a visão popular que envolve Oxun (Ọ̀ṣun) em Ifá no qual ela obteve o seu conhecimento de Ifá através de seu marido Órunmilá. 


Nós examinaremos então a importância de oxetuura para o sacríficio resultante do oráculo. Nas ultimas páginas deste artigo nós iremos então fazer a afirmação de que Oxun (Ọ̀ṣun) tem muito mais relação com Ifá do que os Babaláwo são capazes de admitir. 


Eu irei, claro, colocar a hipótese que que todo o sistema de Ifá se iniciou a partir de Oxun (Ọ̀ṣun) e ela o deu para Órunmilá e não o contrário. Eu irei basear minhas afirmações em versos de Ifá. Eu também irei examinar a possibilidade que o eerindinlogun é mais antigo do que dida owo e etite-ale que são desenvolvimentos posteriores do oráculo de Ifá".


Assim, ele não deixa nenhuma dúvida de que o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) é um sistema que se baseia nas histórias e simbolos de Odù, tanto quanto todos os outros. Isso é uma afirmação básica e não uma hipótese. É claro que como eu disse, precisa-se de fato usar o instrumento, os búzios, e o conteúdo de Ifá, os Odù com suas histórias e símbolos.


O simples uso dos búzios, contudo, não caracteriza um oráculo de Ifá e essa afirmação é devido as variações que são encontradas principalmente devido a mediunidade dos olhadores.


Dito isso tudo eu inicio com a afirmação que podemos dizer que Ifá fala também através do eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún).


Não existe nenhuma restrição conceitual a isso e apenas a prática pode separar uma coisa da outra. Por esses motivos não existe razão para que pessoas pré-estabeleçam que o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) não é Ifá. Essa afirmação pura e simples ao meu ver mostra apenas desinformação. O que temos que examinar de fato são questões de prática que podem desconectar o uso do eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún) de Ifá e faremos um analise disso a seguir.


Na análise desse oráculo eu encontrei inúmeras formas do mesmo ser usado. Acredito que de maneira muito geral posso dividir em 3 tipos principais, o uso africano, o cubano e o brasileiro. É claro que se estivesse estendido essa análise para outros lugares geográficos poderia ainda criar outros grupos, sem dúvida, mas, nesse momento esses 3 tipos refletem não somente uma geografia mas sim uma forma bem distinta de usar o oráculo.


Para o africano lamentavelmente uso como base somente o que foi descrito por Bascon em seu livro sobre o eerindinlogun (ẹẹ́rìndínlógún). Infelizmente não obtive nenhuma outra fonte de referência adicional sobre o uso desse oráculo e mesmo os autores cubanos fazem a mesma referência quando analisam o método africano.


No método africano descrito por Bascon, o oráculo é muito similar a Ifá, tira-se apenas 1 Odù para ser analisado para a consulta e esse Odù é um Odù Méjì. Assim, uma caída para determinar o Odù e as demais caídas para o sentido, ebós (ẹbọ), etc..


A interpretação fica restrita aos 16 Odù Méjì, os olodù, e também a 1 Odù.




Mas o processo é o mesmo e existem sempre as histórias. Existe a análise da orientação do odu, o uso do Ibo, etc..  tudo o que caracteriza o sistema de Ifá.


Os Cubanos se orgulham de ter um oráculo de owó-ẹyọ mẹ́rindílógún, o dillogun, mais completo do que o africano e muito mais próximo de Ifá. Eu concordo com eles.


No método deles, são feitas 2 caídas para se determinar um Odù composto. Formalmente eles evitam de chamar isso de omon Odù (ọmọ Odù), provavelmente devido a convivência com os Babaláwo (babaláwo), assim, eles chamam de Odù composto, ou outro eufemismo e também usam uma notação distinta.


Mas, uma análise bem detalhada mostra uma fusão muito nítida com Ifá.


O Dillogun cubano, além de usar 2 caídas para formar um Odù completo, o processo oracular é exatamente o mesmo de Ifá. Análise de orientação, intensidade, determinação de origem do ire/ibi e detalhamento do ébó (ẹbọ).


Os tipos de Ibi e de Ire são os mesmo e a forma de escolher o ebó também.


Veja, reforçando, exceto pelo uso dos búzios ao invés do opele (ọ̀pẹ̀lẹ̀), a estrutura de isso do oráculo a mesma entre o Dillogun e Ifá, ou pelo menos altamente equivalente.


A variação de fato é na determinação do Odù através de instrumentos diferentes e eventualmente de uma forma distinta de analisar esse Odù composto ou omon Odù (ọmọ Odù).


A forma de analisar é também muito similar. No que pese existir a fama do Ifá cubano ser interpretado, não é de fato assim. Existem sim interpretações para cada omon Odù (ọmọ Odù), mas existem também mitos associados a eles. Esses mitos são chamados de pataki e são próprios do lukumi.


Revisando, o Dillogun, emprega um Odù composto para ser interpretado (não usa Odù Odù Méjì), a interpretação é baseada em mitos (patakis) que devem ser contados e também em aspecto pré-interpretados próprios de cada Odù. 


A estrutura do oráculo é a mesma de Ifá, com determinação de orientação, origem, ebós através dos ìbò.


Dessa maneira eles tem bastante razão para dizer que tem um oráculo mais completo do que o africano (de acordo com Bascon) e ainda equivalente a Ifá. Isso é fato.


Encontrei, contudo, variações na forma de analisar o Odù composto. 


Em qualquer caso, eles tomam o primeiro Odù que cai como o mais importante da caída e o que deve merecer mais atenção.


Na forma mais próxima a Ifá existe um conjunto de interpretações para cada omon Odù (ọmọ Odù) de maneira que todas a combinações são analisadas em relação a significados, pataki e ébó (ẹbọ), ou seja, existe uma análise particularizada para os 256 Odù.


Em outra forma, o Odù composto é dividido em 2, sendo que o primeiro Odù, é tratado como um Odù Méjì e seu significado está relacionado com a Positividade, a sua positividade influencia o consulente. 


O segundo Odù, é o contrário, a sua negatividade influencia o consulente, assim, retira-se os aspectos positivos de um e os negativo de outro.


Adicionalmente se analisa essa intensidade usando a senioridade dos Odù de acordo com o processo já descrito anteriormente. Se um Odù maior sai na positividade e um menor na negatividade, isso significa que que os aspectos positivos são mais fortes que os negativos. 


O mesmo para o inverso. Se caem 2 maiores ou 2 menores então se analisa essa intensidade através da distância entre eles na escala de senioridade.


Em outra forma o Odù principal é o determinante, como já dito e o seguinte complementa esse Odù. Assim não se entra nesse método de negatividade e positividade mas em problema e detalhamento do problema.


Aqui no Brasil, o método é quase individual devido a superioridade da vidência mediúnica sobre qualquer processo de interpretação.


Para que tivéssemos de fato uma interpretação por Odù teríamos que ter mitos de conhecimento amplo e uma padronização na sua interpretação. 


Não temos nenhum dos 2. 


Temos base de conhecimento interpretada de analisar Odù que associa cada Odù a acontecimentos, causas e consequências bem diretas.


A ligação do jogo de búzios no Brasil com Ifá veio através do método de bangboxe. 


Esse método foi bem descrito pelo José Beniste em seu livro “O jogo de Búzios”. 


Dentro do universo de poucas obras que temos, é uma obra de referência no assunto. 


Minha obervação é que o método é muito pouco empregado. 


Eu de fato nunca vi ninguém usá-lo e digo que é pouco usado porque suponho que alguém deve usá-lo.


É nesse método que encontramos as famosas 4 caídas, onde aparecem 4 Odù e que todo mundo que diz jogar por Odù usa. 


Contudo, primeiro, eu lembro que as pessoas que usam esse método hoje não guardam na sua prática o alinhamento com o formato oficial, preservando as histórias associadas a cada Odù. 


Sim, existem histórias de origem africana, que hoje podem ser lidas em 2 fontes mas são todas originas da mesma pessoa, é o material da Iyalorixá Aninha.


O Verger publicou essas histórias, há muito tempo atrás, preservando inclusive o linguajar, mas Aninha não gostou de ele ter publicado e ele nunca mais republicou o livro. 


Depois disso o Beniste publicou essas histórias em uma forma interpretada no seu livro o Jogo de Búzios. 


Ele não publicou as histórias completas e sim uma interpretação do seu significado. 


Nesse livro, ele cita a fonte de sua pesquisa e a autoria do material original.


Quase simultaneamente o Prandi publicou as mesmas histórias tendo como fonte o Agenor, mas este, o Agenor, preservando o Hábito de dizer que eram deles as coisas dos outros, não citou a fonte, pelo contrário dizia que era dele. 


Mas tudo isso era o mesmo material da Aninha já publicado pelo Verger.


Ao todo são 72 histórias. Cada Odù até Ika tem histórias, 4 ou 5, sendo que ejionile tem 8. 


Essas histórias foram chamadas de os caminhos dos Odù, porque para um mesmo Odù elas davam opções diferentes, criando assim caminhos de interpretação para aquele Odù.


Foi dai que eu acredito que uns gênios do Candomblé, entenderam que Odù era caminho, mas, eu acho que eles confundiram as histórias que criavam os caminhos em cada Odù com Odù ser um caminho.


O livro do Prandi-Agenor se chama Caminhos de Odù. O conteúdo dele é apenas e unicamente as 72 histórias associadas a cada Odù. Então dai para entender que, Odù = caminho foi apenas um passo, de cego, é claro.


Mas, voltando ao método o que as pessoas de fato utilizam até hoje são as 4 caídas. Cada consulta é composta de 4 caídas e cada Odù é analisado em separado. 


Algumas pessoas usam dar um significado a cada caída, como por exemplo, a pessoa , o presente, o futuro, a solução. 


Outras consideram que as 3 primeiras explicam o problema, com a segunda detalhando a primeira, e as 2 seguintes estão ligadas a como resolver o problema.


Minha avaliação é que o método se perdeu, raríssimas pessoas devem usá-lo e as pessoas pegam apenas alguns aspectos do método, dizem que fazem por Odù, e fazem quase tudo por vidência e mediunidade.


O jogo de búzios feito no Brasil não guarda qualquer vinculação com Ifá, seja na forma de jogar seja na forma de interpretar. 


É um oraculo baseado em Orixá e em vidência do olhador.


Os Babalorixas não sabem o que é odu, não sabem fazer ebó de odu e não sabem nada de Ifá.  


Eles desenvolveram um oráculo particular no Candomblé. 


Essas pessoas que dizem que jogam por Odu apenas iludem quem os consultam no sentido de enganar essas pessoas que estão interpretando um Odu.


Eles não sabem rezar um Odu. 


Eles acham que Odu é um número. 


Pior são os ebós. essas pessoas desinformadas acham que fazer um ebó com elementos cozidos ou crus e contando 3,4, 5, etc..  vai invocar um Odù.  Não vai.


Isso também não prejudica ninguém, pelo contrário ajuda muito as pessoas que os procuram, mas é apenas a maravilhosa força dos Orixás, não é Odu e nem é Ifá.



Odù – A energia de olódùmarè





Odù – A energia de olódùmarè

O QUE É ODÙ?

Primeiro, a palavra não significa caminho, como as pessoas que não sabem o que significa falam. Odù também não é destino, que é explicado por outras palavras ligadas a outro conceito, bastante profundo e complexos, no qual o Orí esta inserido, mas, sendo apenas uma parte do conceito teológico de destino.

Assim, pode parecer estranho, mas, para entender o que é Odù a primeira coisa que se deva fazer é esquecer tudo que se diz por ai, principalmente no Candomblé.

O Candomblé é uma tradição religiosa incrível, muito cativante e fechada e talvez por isso mesmo, por ser fechada demais, permitiu que a ignorância se alastrasse nas coisas mais simples. Definitivamente Odù não é uma coisa que faz parte do Candomblé. Faz parte da religião Yorùbá, mas, não do Candomblé. 

O significado da palavra Yoruba é Odù é o de uma coisa grande para conter algo dentro, como um contêiner ou uma grande cabaça. Esta palavra, Odù, como outras palavras Yorùbá (como axé (aṣẹ́), por exemplo), pode ser usada com mais de um significado na prática. 

Odù é a base da comunicação de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) com as pessoas. São os sacerdotes de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) que aprendem durante toda a sua vida a entender Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) através dos Odù.

Para entender o que é Odù a gente tem que examinar 3 aspectos fundamentais que estão ligados a ele: a sua formação gráfica, as suas mensagens e a sua energia. Odù envolve esses 3 aspectos simultaneamente e se não entendermos os 3 ao mesmo tempo podemos nos perder no seu sentido. 

Odù e as marcas gráficas


Odù são representados no nosso mundo através de marcas gráficas que representam um símbolo. Nas religiões mais antigas, no hermetismo, nós encontramos a mesma ideia representado pelos selos, assinaturas, marcas de espíritos.

A ideia de ligar um poder ou uma energia a uma representação gráfica que o invoca junto com rezas sempre foi completamente presente no misticismo judaico e cristão, na magia cabalística e na alquimia. Centenas de livros são escritos até hoje sobre isso. Claro que a cultura ocidental há muito abandonou esses conceitos e práticas, mas esses elementos sempre foram muito explorados e por séculos representaram o topo do conhecimento supernatural e religioso.

O Odù nos remete a mesma ideia conceitual.

Em termos quantitativos são 256 Odù. Existe uma matemática muito simples nesses números. São 16 figuras diferentes, feitas com a combinação de traços duplos ou simples. Como cada Odù é formado pela combinação de 2 figuras, então teremos 16 x 16 = 256 Odù. Nessas 256 figuras diferentes, aquelas onde o mesmo símbolo aparece repetido, são chamados dos Odù Méjì, ou duplos, os principais e são 16 ao todo.

Assim temos 16 Odù Méjì e os demais 240, que são chamados de Omo (Ọmọ) Odù ou Odù filho. A razão disso é porque os demais são combinações nas quais um dos 16 símbolos se fixam na primeira posição e se combina com os demais 16, conforme veremos nos desenhos a seguir.

Cada desenho é composto de duas colunas formadas por uma combinação de traços duplos e simples, cada coluna, ou perna, tem 4 marcas.

Os exemplos a seguir mostram a relação das 16 configuração de marcas que formarão em dupla os 16 Odù Méjì:

                                                I                     II                    II                    I
                                                I                     II                     I                   II
                                                I                     II                     I                   II
                                                I                     II                    II                    I
                                            Ogbe           Oyeku            Iwori              Odi

                                                I                     II                     I                   II
                                               II                     II                     I                   II
                                               II                     II                    II                    I
                                               II                      I                    II                    I
                                           Obara           Okanran       Irosun            Owonrin


                                                I                     II                     I                      I
                                                I                      I                     I                     II
                                                I                      I                    II                      I
                                               II                      I                     I                      I
                                         Ogunda             Osa             Irete              Otuwa

                                               II                      II                    I                      II
                                               II                       I                   II                       I
                                                I                      II                    I                      II
                                               II                      II                   II                       I
                                          Oturupon           Ika               Ose               Ofun

Essas são as marcas originais. Um Odù é formado por um desenho com um total de 8 marcas em 2 sequência verticais ou pernas.

Observem que existe uma certa simetria nas formas, um certo equilíbrio. As quatro primeiras formas, são únicas, elas vão representar, em dupla, os 4 principais Odù Méjì. As demais, quando rodadas em torno do seu eixo vertical, formam o Odù do seu par.
Os Odù são considerados em pares. Assim os pares são:

                                                                    Ogbé & Ọ̀yẹ̀kú
                                                            I              II
                                                            I              II
                                                            I              II 
                                                            I              II

                                                                        ìwòrì & Òdí
                                                              II           I
                                                               I          II
                                                               I          II
                                                              II           I

                                                                      Ọ̀bàrà & Ọ̀kànràn
                                                              I            I
                                                             II            II
                                                             II            II
                                                             II            II

                                                                      ìròsùn & Ọ̀wọ́rín
                                                             I             II
                                                             I             II
                                                            II              I
                                                            II              I

                                                                     ògúndá & Ọ̀sá
                                                             I             II
                                                             I              I 
                                                             I              I
                                                            II              I

                                                                       Ìrẹ̀tẹ̀ & Otùwá
                                                            I              I
                                                            I             II
                                                           II              I
                                                            I              I

                                                                       Òtúrúpọ̀n & ìka
                                                              II               II
                                                              II                I
                                                               I               II
                                                              II               II

                                                                        Ọ̀ṣẹ́ & òfún
                                                              I           II
                                                              I           II
                                                              I           II
                                                              I           II

Observem que nas 2 primeiras duplas, os símbolos se complementam, assim, onde em um é 1 traço no outro são 2 traços. Para as demais duplas, um simbola é a rotação do outro no eixo vertical.

Ifá é baseado totalmente no conceito de equilíbrio. Trabalhamos com o equilíbrio do axé (aṣẹ́), marcamos 1 traço quando sobram 2 ikins e os símbolos dos odù também representam graficamente esse conceito de equilíbrio de complementariedade.

Voltando a formação dos Odù, eles são também formados por pares de traços. Assim cada Odù sempre será um par de traços. Os Odù Méjì serão 2 traços iguais e os Omo (Ọmọ) 2 traços diferentes

Os Odù são chamados de méjì porque méjì significa (2).O numero 2 é èjì, mas em Yoruba quando o numero é colocado depois do substantivo, ou seja quando ele é usado para contar alguma coisa adiciona-se o M na frente. Assim, èjì é o número 2 e ogbe mèjì é traduzido como 2 ogbe, ou 2 Odù ogbe:

I........I
I........I
I........I
I........I

Dessa maneira o Odù acima é o ogbè méjì, porque seria ogbè-ogbè mas não se fala assim, a gente fala ogbè méjì de maneira que ogbè-ogbè e ogbè méjì são a mesma coisa.

Os primeiros 16 Odù são os Odù meji, indo de ogbe meji até orangun meji. Depois disso é feita uma combinação entre cada Odù e os conseguintes, formando de ogbe-oyeku (ogbè-ọ̀yẹ̀kú) até ogbè-òfún e depois indo para oyeku-ogbe (ọ̀yẹ̀kú- ogbè) na mesma lógica.

A figura abaixo corresponde ao Odù ogbe-oyeku (ogbè-ọ̀yẹ̀kú) e esse é o décimo sétimo Odù. antes dele estão os Odù méjì.

II.......I
II.......I
II.......I
II.......I

A partir desse Odù as figuras são formadas fixando-se a figura da direita e variando somente a da esquerda. Serão formadas então 15 figuras, formando de ogbe-oyeku (ogbè-ọ̀yẹ̀kú), mostrado acima, até ogbè-òfún. Depois disso vamos para oyeku-ogbe (ọ̀yẹ̀kú- ogbè) e na mesma lógica, mas 15 figuras e dessa maneira até completar todos os 256 Odù.

Atenção, os signos são lidos da direita para a esquerda.

Vejam que podemos perceber a simplicidade e profundidade da estrutura dos Odù. A primeira coisa explicada é que os 4 primeiros Odù Méjì são os mais importantes e representam todos os demais. Eles são formados por símbolos únicos. Os Odù se agrupam em pares e cada par tem um símbolo que completa o outro.

Os símbolos duplos, formados por 2 figuras iguais são os Odù Méjì, e são 16 (4+12) e são os mais importantes. Os demais símbolos são os Omo (Ọmọ) e são formados pela combinação de cada um do 16 principais com os demais.

Por fim existe uma hierarquia entre os Odù. Os Odù formam uma sequência dos mais antigos para os mais novos e essa ordenação é usada para tomar decisões. Um Odù mais sênior tem mais valor do que um menos sênior quando temos que escolher entre um e outro.

Atenção os Odù são igualmente importantes, não existe Odù melhor do que outro, mas, em Ifá temos que tomar decisões, fazer escolhas e assim os Odù recebem uma hierarquia para que possamos fazer escolhas através dessa hierarquia.

Não existe somente uma hierarquia. Escolas diferentes de Ifá usam hierarquias levemente diferentes. O importante que todos devem observar é que a hierarquia não é o mais importante e pode mudar. A hierarquia é um instrumento para fazer uma escolha.

Para finalizar a questão gráfica eu coloco que a questão da representação gráfica é muito importante, junto com o nome. Os Babaláwo são muito cuidados em não riscar um Odù e muito menos falar o seu nome sem necessidade. Eles consideram que ao fazer uma dessas 2 coisas estariam invocando aquele Odù e não se invoca essa energia sem que ela seja a indicada ou necessária para a situação.
Similarmente é o mesmo tratamento que era dado no ocultismo. Um selo ou talismã jamais eram usados sem objetivo. A Umbanda tem um elemento similar que são os pontos riscados. Como os selos eles trazem para o ambiente uma determinada energia e existem pontos de trabalho para diversas situações.

No caso do nome os Yorùbá criam apelidos para os Odù. Assim eles se referenciam a um Odù sem que citar o seu nome, pelo memso motivo anterior, falar o nome de algo, o invoca.

Não sei se observaram que em nenhum momento eu citei a palavra número. Aliás eu não mostrei nenhum número.

Não existe nenhuma relação entre Odù e números.

Isso é uma invenção do sincretismo. 

O primeiro é que como extensivamente vimos, Odù representados por marcas gráficas. Um Odù somente é representado por uma marca gráfica e jamais por um número.

O relacionamento de Odù com números não tem nenhum fundamento. Isso é outra bobagem do Candomblé e de outras tradições que usam o jogo de búzios. Trata-se apenas de um fruto de sincretismo com a cultura árabe que foi exportada para a Europa, provavelmente. É um vinculo entre numerologia e Ifá e que não existe motivo ou fundamento.

A associação de Odù com números ocorre somente no uso dos búzios, porque, por uma característica da ferramenta, os búzios, é feita uma associação de quantidade de búzios abertos com Odù. Mas isso é uma particularidade do uso dos búzios. Em Ifá, com seus instrumentos oficiais, opele (ọ̀pẹ̀lẹ̀) e os ikins, não existe como fazer essa associação.

Além do mais a aritmética não existia nas terras Yorùbá. Não faziam contas, isso era coisa de árabes. Os Yorùbá não tinham nem língua escrita muito menos aritmética. Os números eram palavras substantivas. Em um ambiente como esse como poderia existir um processo de cálculo para apurar Odù como se faz largamente no Candomblé?

Além do que, mesmo no Candomblé a relação de Odù e número é recente. Ou alguém imagina há 50 anos atrás alguém de Candomblé, fazendo continha e cruzinha para determinar Odù?

Em Ifá, o culto de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà), que trabalha com Odù, tem 2 instrumentos para poder determinar um Odù. Os ikins, o principal, determina-se o odu fazendo uma manipulação para cada traço do Odù. Assim 8 manipulações determinam um Odù. Um processo bem lento mas que tem apenas a capacidade de determinar se é 1 traço ou 1 traços que serão desenhados.

O segundo instrumento é o opele (ọ̀pẹ̀lẹ̀). A cada caída do opele (ọ̀pẹ̀lẹ̀), em função do lado que caem as sementes definirmos se é 1 ou 2 traços. Ou seja, 8 semente determinam um Odù, dependendo do lado que caem, em um processo bem rápido.

Mas é só isto. Não existe outra forma em Ifá de se determinar um Odù e nenhuma delas usa qualquer número. O mais próximo que Ifá se aproxima de matemática é porque existe uma hierarquia e sinceramente eu não consigo considerar isso matemática.

Assim, repassando, Os Yorùbá não tinham algarismos arábicos como números, os números eram como com os Hebreu, eram palavras, substantivos. Eles não faziam aritimética e Ifá desde o seu início até hoje não usa número para nada.

Mas de tudo isso, o pior mesmo, o mais ridículo, é o conhecido processo de determinar odu de nascimento através da data de nascimento, fazendo uma cruz.... é uma bobagem. Isso não existe em Ifá. Não existe Odù determinado por soma de números ou mesmo considerar que essa idiotice seja um Odù de nascimento.

As mensagens dos Odù

As marcas gráficas dos Odù, suas assinaturas, representam um símbolo. A este símbolo estão associadas histórias na forma de versos que formam a famosa, mas pouco conhecida literatura de Ifá, poemas de Ifá, que eram transmitidos oralmente.

Assim, Odù também é o nome dados aos poemas de Ifá, ou corpo literário de Ifá. Os poemas estão agrupados em conjuntos por cada Odù e cada um dos 256 Odù pode ter, dizem, até 16 conjuntos de versos. No mundo real essa quantidade é variável, porque não se possui todos os versos e muito menos os versos são os mesmo sempre. 

Cada escola de Ifá pode ter seu conjunto próprio de versos. Existem versos conhecidos, mas que podem ser ditos de maneira diferente por cada escola. Escolas distintas podem ter mais versos do que outa. 

Considera-se que mesmo em uma mesma escola, em cada Odù existe um início que é padrão. O desenrolar da história pode veriar de acordo com o babaláwo, não existe a obrigatoriedade de ser exatamente igual.

A natureza da lingua Yorùbá e a estrutura dos versos dos Odù tornou o seu estudo um aspecto bastante conhecido por sua dificuldade. A lingua Yorùbá não é fácil. O povo é por demais simples para construir uma lingua bem estrutrada e assim existe uma grande complexa devido a forma como ela é implementada e regionalizada. 

Hoje já os encontramos escritos em muitas versões. Esse conjunto de versos que representa a sabedoria da religião, não é completo para os próprios Yoruba, muita coisa se perdeu em funcão das guerras e do processo de cristianização e Islamização que avassalaram com a cultura religiosa original.

Mas, seguindo, lembramos que toda a comunicação entre Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) e nós e feita através dos babaláwo usando Odù. Odù é a únicar forma de comunicação entre Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) a divindade que conhece o nosso destino e nós. 

Mas essa não é uma comunicação direta. Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) não incorpora em uma Babaláwo e fala o que queremos saber. Ele responde com o envio de um Odù que é materializado no Aiye através dos instrumentos do Babaláwo e das marcas gráficas que o representam.

A mensagem estará contida nas histórios que compões os versos do Odù que saiu. É através da interpretação dessas histórias que podem estar na forma de mitos ou de poemas é que vem o significado de um Odù. A mensagem que um Odù traz para nossa vida esta contida nas histórias que são associadas a ele.

O entendimento da mensagem será um processo interativo entre o Babaláwo e o consulente. O Babaláwo deve recitar os versos que sabe e o consulente deverá escolher a história ou histórias que entenda que dizem respeito ao seu problema. O próprio consulente deverá interpretar o significado da história e o babaláwo usar essa interpretação para entender o problema e interagir com o consulente.

Esse é o processo. Não existe consulta a Ifá sem histórias e sem interpretação.
Complementarmente a isso o Babaláwo pode conhecer significados desse Odù, situações que ele representa e isso auxilia a própria interação com o consulente. Mas uma consulta não pode se resumir a isso.

No Candomblé a consulta de búzios se resume a um conjunto muito pobre de interpretações pré-formatadas. As pessoas que dizem jogar por Odù se limitam a saber meia dúzia de significados associados a cada Odù, significados que em grande parte das vezes se repetem entre Odùs, transformando um processo rico e interativo em uma coisa pobre.

Não. Consultar Ifá através de búzios não tem nada haver com essa formula pobre que é adotada por pessoas que não sabem o que é Ifá e não tem a menor idéia do que é Odù.

Mas isso não ocorre apenas no Candomblé. Em Ifá mesmo existem babaláwos mal formados e preguiçosos que resumem uma consulta a falar os significados associados a um Odù. Eles não se dão o trabalho de contar as histórias e interagir através delas com o consulente.

Essas pessoas não representam a religião. São aproveitadores infiltrados.

É importante mencionar que os versos de Ifá, em geral, representam a ética religiosa e o conhecimento da religião. Se existe uma escritura sagrada na religião Yorùbá esta são os versos de Odù.

Dessa maneira uma consulta através de Ifá sempre traz a ética e a visão da religião Yorùbá para o assunto. Mesmo o consulente sendo uma pessoa que não faz parte da religião ele terá como resposta uma visão religiosa de sua situação ou seja uma interpretação religiosa.

Não poderia deixar de ser, um oráculo associado a uma religião tem que necessariamente trazer as mensagens da religião que esta associada. Este aspecto se torna inexorável quando a gente lembra ou informa que o conhecimento da religião esta contido nos versos ou nas histórias dos Odù.

Assim apesar de muitos quererem dar uma visão mundana ou comum a Ifá, como se fosse um instrumento de videntes, este nunca o será. Ifá é e sempre será um Oraculo com o qual falamos com Deus.

A energia divina

Mas Odù não são somente marcas ou histórias. Odù é principalmente a energia divina que vem de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) para nós, em resposta à consulta ao oráculo de Ifá.

Assim, além de ser um símbolo gráfico, além de conter através de suas histórias 
significados e orientações para nossa vida, um Odù também é a resposta à nossa aflição. Essa energia primária vem através do oráculo e será utilizada pelo Babaláwo, também através dos orixa (Òrìṣà), para nos ajudar.

Os Odù são como mandalas transcendentais que marcam as energias ativas e inativas que estão presente em uma determinada situação com um determinado indivíduo com grande precisão. Em termos metafísicos, Odù são os símbolos sagrados que contêm o axé (aṣẹ́) ( àṣẹ - força. força vital) de tudo na existência. Eles são em sua representação gráfica mapas que traduzem o movimento dinâmico de energia e se identificam com as forças primárias do mundo.

Se o Odù contêm o axé (aṣẹ́) ele então vem de Olódùmarè.

Odù é ao mesmo tempo o diagnóstico para os problemas que temos e a resposta para corrigí-los. A consulta a Ifá materializa nas marcas gráficas e através do Babaláwo, o mensageiro de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà), a chave para movimentar a energia do mundo, o Odù.

Alguns associam o Odù a causa dos seus problemas. Não é verdade, ele é o espelho que reflete a sua situação de desequilíbrio de axé (aṣẹ́). O Odù será de fato o remédio para a situação, ou seja, ele não é um símbolo que somente traduz uma situação, ele é também a energia que se manifestará na vida da pessoa equilibrando axé (aṣẹ́) para que a pessoa possa corrigir os seus problemas. Dessa maneira o reflexo ou tradução do mal é o que também vai curá-lo. 

Considerar que Odù seja o mal que o aflige é uma mostra da ignorância da pessoa que você consulta. O que vem de Olódùmarèjamais será o mal. O remédio resolve o seu mal e ao mesmo tempo indica o problema que você tem, isso é muito simples de entender.

Tudo o que existe ou existirá nasce através de um Odù, a energia primária de Olódùmarè, incluindo os orixá (òrìṣà) e seus axé (aṣẹ́). Odù é como uma cabaça de energia cósmica que é enviada por Olódùmarè e que será transformada através dos orixá (òrìṣà) no axé (aṣẹ́) que vai mudar nossa vida ou que vai repor o que perdemos. É através do Odù que os orixá (òrìṣà) e nossa ancestralidade, falam e se expressam. Ele é a linguagem e o poder original que o mundo espiritual se manifesta sobre nós e que vem em resposta a nossas questões de vida. 

Um Odù é a resposta de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) a sua situação e dependendo do seu objetivo de vida e com a ajuda dos orixá (òrìṣà) vai socorre-lo. Essa energia primária vai ser manipulada pelo Babaláwo através dos ebó (ẹbọ) de Ifá, que são diferentes dos de candomblé, e através do orixá (òrìṣà) que responderão naquele momento em seu auxilio, irão te ajudar.

Mas, MUITO mais do que ebó (ẹbọ) você tem que entender o que o Odù diz o que esta errado em sua vida. Por isso que existem histórias, mitos, patakis e ésé para mostrar isso. O Babaláwo acima de tudo tem que trabalhar esse aspecto em você, fazer você entender o que esta acontecendo e a origem dos problemas para que você se ajude. Nem tudo em Ifá é ebó (ẹbọ), a palavra é uma das coisas mais importantes na religião Yorùbá e o Babaláwo é a pessoa que traz para o consulente a sabedoria de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà).

A solução de tudo vai depender de ações suas no sentido de corrigir comportamentos, forma de vida, decisões que você tomou, pessoas que você afetou, lugares que você vai, pessoas que você convive, etc... É claro que energias negativas que estão com você, omo arayie (obsessores), feitiços (ajé, oxo..) , etc. vão ser neutralizados, mas você deve ficar longe da fonte disso senão vai ser uma coisa interminável.

Assim, essa negatividade ou positividade que pode se traduzida pelo Odù, não ficam flutuando ai e te pegam por acaso. Esta é uma questão que as pessoas perguntam sempre, como aquele Odù pegou elas, ou quem andou aquele Odù para elas. Não é assim. 

Os seus atos e omissões, suas ações e forma de viver vão te trazer uma situação. Esta situação que você ou a vida criou para você, será re-equilibrada por um Odù naquele binômio causa-solução que eu expliquei. O Odù é a linguagem de Órunmilá(Ọ̀rúnmìlà) para falar com a gente.

Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) se manifesta através do Odù, ele é o meio de comunicação e ao ser obtido por um Babaláwo ele já esta disponível e atuando sobre a vida de quem o consulta. Cabe ao Babaláwo através dos ẹbọ e sacrifícios direcionar e controlar essa energia para que ela se manifesta da forma positiva que é sempre enviada. o Odù é sempre uma força básica, primária e sempre necessita ser direcionado através do Babaláwo e dos orixá (òrìṣà) que nos assistem.

Ao se sentar em oráculo e consultar Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) se recebe um Odù e a influência na nossa vida já é imediata. Este é o motivo que os Babaláwo dizem para se ter muito cuidado ao se lidar com Odù. Não se deve invocar essa energia sem saber como manipulá-la, não se deve grafá-la sem o devido conhecimento, não se deve cantá-la sem saber o que se faz depois.

Para isso a pessoa que trabalha através de Odù deve ter acumulado o axé (aṣẹ́) para isso. Mas se estamos tratando de uma mesma religião de um mesmo Olódùmarè e de uma mesmo Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà), qualquer sacerdote pode receber um Odù porque esta é a forma de trabalho de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) .

Como ele influencia a nossa vida?

Primeiro, a figura teológica de nos colocarmos diante de Olódùmarè para escolhermos nosso destino, ou objetivo de vida, como se queira chamar, sendo que podemos ser atendidos ou não e recebermos dele outros objetivos, tendo Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) como testemunha, é menos controversa e mais aceita.

Assim como também é pouco controverso o processo de escolhermos nós mesmos o nosso Ori na casa de ajala e essa escolha depender não da sorte mas sim do cuidado dos nossos ancestrais conosco. Mas, 2 pontos podem apresentar distintos entendimentos que é o caso do Odù & orixá (òrìṣà), vamos então voltar nisso.

Em relação ao orixá (òrìṣà) existem algumas visões sobre como se define que orixá (òrìṣà) você terá na sua vida. Eu acredito que seja um ponto não discordante o conceito de que o orixá (òrìṣà) faz parte do nosso Ori e temos apenas um.

Essa coisa de que a data de nascimento, tipo o dia da semana definir o nosso orixá (òrìṣà), é uma bobagem muito conhecida, assim como nós possuirmos um pai e uma mãe orixá (òrìṣà) ser outra bobagem. Esses 2 conceitos são enganos que são repetidos por muitas pessoas e tradições religiosas e muita gente os tem como verdade. Atenção, não são verdades. Outro mito que também vamos desconsiderar a visão de que seja por acaso, isto é, o orixá (òrìṣà) nos escolhe aleatoriamente, ou por simpatia ao nascermos. 

Minha opinião é que podemos orbitar entre 2 visões. A primeira é que o orixá (òrìṣà) seria nos designado em função do objetivo que que escolhemos para nossa vida e que Olódùmarè aceitou. O orixá (òrìṣà) seria assim um elemento facilitador na nossa vida e as características do orixá (òrìṣà) virão a nos ajudar em nosso objetivo.

Outra visão é o orixá (òrìṣà) ser um reflexo de ancestralidade, ser uma herança hereditária. Assim se somos filhos de um Orí de um orixá (òrìṣà) com um Orí de outro orixá (òrìṣà) nossos filhos seriam também ligados a um ou outro orixá (òrìṣà). Essa cadeia de vinculo poderia se estender um pouco mais distante na ancestralidade mas o orixá (òrìṣà) dos descendentes seriam o reflexo dos seus predecessores. Como uma herança genética. Esta visão não cria uma repetição contínua do mesmo orixá (Òrìṣà), pelo contrário em função da sua ancestralidade pode haver uma variação significativa nos orixá (Òrìṣà) de cada novo Orí.

Eu não tenho ainda uma opinião mais firme sobre isso, prefiro a segunda apenas pelo aspecto de poder preservar a característica de o orixá (Òrìṣà) ser um facilitador na nossa vida mas também reforçar a família e a linhagem familiar, mas, nenhuma dessas visões implica em nenhum problema ou atrapalha qualquer coisa.

Tanto podemos ter um orixá (òrìṣà) que nos ajude como qualquer orixá (òrìṣà) de família iria nos ser tão útil em qualquer missão de vida quanto outro, porque, essa coisa de especialização de orixá (òrìṣà) em funções, não é bem assim na prática e que também podemos sempre a recorrer a qualquer orixá (òrìṣà) independente de qual seja o nosso orixá (òrìṣà) original.

Temos que lembrar que o orixá (òrìṣà) mais importante é o nosso ORI, é ele que esta antes de qualquer orixá (òrìṣà) e para nós é mais importante do que qualquer orixá (òrìṣà) inclusive o nosso próprio, aquele que faz parte do nosso Orí.

Um outro ponto novo é a inclusão do Odù nesse processo. Isso pode ser menos concensual. Como existe um Odù de nascimento, que raramente conhecemos porque ele só será verificado no nascimento, nós temos que reconhecer que temos uma influência de um Odù em nossa vida, um Odù nato.

Se vamos nos iniciar religiosamente nós receberemos outros Odù. Assim na iniciação do Iyawo se determina qual o Odù daquele iyawo. Dessa forma como a iniciação é um novo nascimento, ganha-se um novo Odù de nascimento. Será sempre um Odù meji porque é assim que o Candomblé o faz. Essa informação acaba sendo pouco usada mas é uma informação relevante e somente irá aparecer no processo da feitura do iyawo.

Para o Babaláwo é a mesma coisa. Ele irá ter um Odù como Awo e o mesmo ou outro como um Babaláwo. Ai pode surgir a questão, mas para que tanto Odù? Afinal qual é o Odù?

A resposta é muito simples: Estamos em todos esses casos lidando com a mesma coisa e com a mesma finalidade. No caso do Babaláwo o Odù é o signo divino que marcará a sua vida como awo, como sacerdote, ressaltando as suas qualidades e defeitos, as coisas que fará melhor e também as coisas que não deverá fazer, ou seja, as coisas que vão trazer axé (aṣẹ́) para ele ou vão tirar axé (aṣẹ́) dele. 

Um sacerdote de ogbe-ogunda estará alinhado com o seu Odù, ou seja, atraindo axé (aṣẹ́) quando estiver ajudando o ori de outras pessoas a encontrarem o seu rumo de vida, ou quando estiver ajudando essas pessoas a a afastar ou a controlar a influencia das ajé que forem invocadas contra ela, etc..

Fazendo isso ele vai estar realizando aquilo para o qual o seu Odù foi destinado. Se procurar fazer outras coisas ela vai estar trabalhando em áreas ou atividades menos afins à energia do seu Odù e talvez assim perca mais axé (aṣẹ́) do que ganhe.

Os Odù se incorporam na vida das pessoas para então ajudar na condução dos seus objetivos de vida. Dessa maneira um Awo de Ifa recebe um Odù porque essa energia, essa marca lhe será util na condução de sua vida religiosa, vai ajudá-lo. 

Observe que foi o mesmo motivo que levou o Odù a ser designado para o nosso Orí antes de virmos ao mundo. É devido a esse paralelo que eu acho que sim, recebemos um Odù antes de nascermos e esse Odù é para ajudar a realizarmos os nosso objetivos de vida.

O que faz uma explicação factível é ela ser coerente. Assim os processo são similares, o Odù que recebemos antes de nascermos é como o Odù que o sacerdote recebe. Enquanto o sacerdote recebe um Odù para ser sia marca espiritual ajudando-o e orientando-o nesse caminho, o Odù que recebemos ao nascermos é a mesma coisa para a nossa vida. Temos um objetivo a realizar e o Odù nos dará a mesma coisa.
A mesma coisa vale para o orixá (òrìṣà). O orixá (òrìṣà) que temos é muito importante na vida religiosa que vamos levar. Mas veja, uma coisa é o orixá (òrìṣà) para uma pessoa comum, laica, outra para um sacerdote, uma pessoa que se iniciou para levar a diante uma missão diferente da vida comum.

Todo mundo que esta no meio sabe que o sacerdote de cada orixá (òrìṣà)) é diferente, a casa de cada tipo de orixá (òrìṣà) é distinta e ao mesmo tempo semelhante entre si e o tipo de pessoas e problemas que um sacerdote de um determinado orixá (òrìṣà) atrai para si esta muito ligado ao próprio orixá (òrìṣà), ao axé (aṣẹ́) desse orixá (òrìṣà).
Assim, Odù é uma energia que recebemos para nos ajudar em algo.

No caso de uma consulta a Ifa é a mesma coisa. Ao consultarmos Ifá recebemos um Odù, aquele Odù ira temporariamente ajudar aquele consulente nos problemas que ele tem, não necessariamente aqueles que ele veio resolver, mas o que Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) entende que ele tenha.

Dessa maneira eu considero que o ciclo fecha e os fatos tem coerência com o conceito. Isso pode voltar a uma questão que me pareceu presente na sua postagem, o que é um Odù. Veja, de novo, Odù é uma energia primária, elementar que Órunmilá, ou Olódùmarè que é quem tem poder para gerar uma energia desse tipo nos envia através de Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà).

Odù não é uma divindade adicional. Odù não é como Oxun, Xango, Oxala, Ogun que são elementos ativos que manipulam axé (aṣẹ́). 

Reforçando o que já escrevi: Odù é uma energia primária que vem para o aiye através de uma consulta a Ifa. Ela será conduzida e canalizada para o benefício do consulente através dos orixá (òrìṣà) e através dos procedimentos que o babalawo (babaláwo) irá realizar. Essa energia para nos beneficiar de forma precisa, benéfica e rápida (no seu tempo) precisa de um operador qualificado.

Os orixá (òrìṣà) se utilizam dessa energia do Odù para atuarem sobre nós de forma que o Odù vai ser então convertido nesse axé (aṣẹ́) deles.

Por essa razão eu não vejo como útil essa procura de que orixá (òrìṣà) corresponde a que Odù. Muitos orixá (òrìṣà) trabalham com muitos Odù. Em relação aos Odù meji, que são apenas 16 então fica muito difícil dizer quem não pode trabalhar com que Odù.

Okanran é um Odù de Exu? E se eu disser que é através de Okanran meji que nós chamamos Xango? Que Odù é o de Xango, ou diferente que Odù Xango não se apresenta? A mesma coisa para Oxalá ou Oxun.... E Órunmilá (Ọ̀rúnmìlà) esta em todos.

Assim o meu entendimento é esse Odù não é uma divindade uma agente ativo de Olódùmarè. Os orixá (òrìṣà) e irunmoles o são. Eles atuam sobre nossas vidas, seja nativamente ou seja porque precisamos. Os orixá (òrìṣà) são os elementos que vão trabalhar e canalizar a energia dos Odù para nós.

Eu sou sempre muito cuidadoso em comparações, mas, não posso deixar de informar que um conceito muito similar existe no ocultismo e na Kabalah. Existem energias vindas de Deus, energias primárias que são invocadas através de rezas e signos e que são trazidas para o nosso benefício ou em nosso socorro, assim, não estamos lidando com algo completamente sem referência. Esse é um conceito que é facilmente aceito por outros estudiosos de ciências ocultas ou místicas. Por isso que eu acho que tem sido tão popular mundialmente. 

Mas o pior deserviço tem sido feito por Babalorixás e curiosos que sem saber do que estão falando, simplesmente porque não procurarm saber o mínimo, transformam Odù em problemas ou mesmo em divindades.