CASA PODEROSA DOS FILHOS DE YEMANJÁ

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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O lugar de Ossain

O lugar de Ossain


Por Alexandre de Oliveira Fernandes; Manoel Santos Mota; Rosângela Fonseca do Nascimento


Este artigo quer apresentar o “lugar” de Ossain, orixá das folhas, para o culto aos orixás, com o intuito de travar uma discussão entre a lógica ocidental capitalista (SANTOS, M. 2006, p.100) e a lógica dos rituais nagôs.

Entende-se que a primeira busca a utilização da natureza por meio de uma visão imediatista pautada pelo mercado e o consumo, enquanto a segunda, vê a natureza como permeada pelo axé dos Orixás e, assim, devendo ser preservada, uma vez que nela se deposita e se veicula o axé. Para tanto, utilizaremos os textos mitológicos referentes ao orixá Ossain, conforme apresentados pelo professor Reginaldo Prandi em seu Mitologia dos Orixás (2001)

A discussão dos textos mitológicos se justifica, vez que os terreiros reproduzem os mitos em seus rituais.

Nossa metodologia também procura ouvir outras vozes como Pierre Verger (2002, 1995), Ordep Serra (2006), Juana Elbein dos Santos (1986), a fim de que, parafraseando Geertz (1989), ao conversarem dialeticamente produzam um discurso simbólico que possa ser interpretado semioticamente desvelando os significados mais profundos do culto.


Palavras-chave: desenvolvimento sustentável, culto aos orixás, Ossain, rituais, plantas.


1. O lugar do culto aos orixás e o consumismo. Ou de como as coisas precisam estar claras: diferenciando as lógicas


Òsányìn!


Nkò da se,


Eléwé me dà se,


Baba aròni me dà se,


Wa fún mi.


Eléwé wá fun mi, l’àse o.


Òsányìn wá fun mi, l’àse o.


Mé dà se.


Òsányìn mé dà se.


Ossain,


não faço nada sozinho.


Ó senhor das folhas,


ó Pai Aròni, não faço nada sozinho.


Venha me dar,


ó senhor das folhas, venha me dar axé.


Ossain, venha me dar axé


Não faço nada sozinho.


Ossain, não faço nada sozinho.


(SÀLÁMÌ, 1991, p.58)


A epígrafe que propomos em nosso texto, por si só, é suficiente para expressar o sentimento dos interlocutores de Ossain, o “senhor das folhas”, e o nosso. A ele é solicitado o axé, e, muito humildemente, neste orín ou cantiga de orixá, seus adoradores se curvam, entendendo não ser possível nada se fazer sem ele, sem o poder das folhas e da natureza. Em outras palavras, que nos parecem muito apropriadas: Kosi ewé, kosi orixá / Sem folhas não há orixá. Ângela Lühning (2006, p.317)


Traçando um paralelo ilustrativo entre mitologia grega e culto aos orixás, o interlocutor de Ossain diferencia-se de Odisseu, o rei de Ítaca, uma vez que este teria desafiado os deuses e assim sofrido as conseqüências de sua atitude, enquanto aquele rende graças ao orixá, dizendo depender dele para tudo. Odisseu retorna à Ítaca apenas quando consegue harmonizar-se com os deuses, religando-se ao sagrado. Cremos que o proposto pela contemporaneidade é um desafio constante de “estar no mundo”. Há duas lógicas sobre as quais queremos nos debruçar: (i) a lógica atual, produzida pela dinâmica do capital e pelos governos financeiros globais, o Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial (SANTOS, M. 2006, p.100) que impele o homem ao desarmonizar-se, distanciando-o da natureza e do sagrado; (ii) a lógica da dinâmica do culto aos orixás nagôs, que prescreve a preservação da natureza, o ebó, as oferendas, o contato com o sagrado como forma de reestabelecer a harmonia entre os homens, os deuses e a natureza.


O professor Milton Santos já nos advertiu sobre as maldades do consumismo e da competitividade, inerentes à lógica capitalista. Não competir, não lucrar à qualquer custo é perder oportunidades de crescimento, no cenário estabelecido pela lógica atual, que "leva ao emagrecimento moral e intelectual da pessoa, à redução da personalidade e da visão do mundo, convidando, também, a esquecer a oposição fundamental entre a figura do consumidor e a figura do cidadão". (SANTOS, M. 2006, p.49)


Assim, vez que não há mais condições de se continuar com a “sanha” desenvolvimentista sem agredir ainda mais a natureza e colocar em xeque gerações futuras, um questionamento paradoxal tem se estabelecido: como colocar em prática uma lógica social de desenvolvimento pautada pelo desenvolvimento sustentável? Ora, como colocar em prática uma forma outra de lidar com a natureza se o homem contemporâneo está pautado por uma lógica na qual, os fins justificam os meios? "A necessidade real ou imaginada de buscar mais dinheiro, e, como este, em seu estado puro, é indispensável à existência das pessoas, das empresas e das nações, as formas pelas quais ele é obtido, sejam quais forem, já se encontram antecipadamente justificadas (SANTOS, M. 2006, p.56) Para responder a esta questão, nosso discurso que pretende propor a lógica do sagrado no culto aos orixás como premissa para o desenvolvimento sustentável, se coaduna com o de Mircea Elíade, parafraseado por Nicolescu, "O sagrado é, antes de mais nada, uma experiência que é transmitida por um sentimento -o sentimento ‘religioso’- do que liga seres e coisas e, consequentemente induz, no mais profundo do ser humano, a um absoluto respeito para com os outros aos quais ele está ligado por partilhar uma vida em comum na mesma Terra". (NICOLESCU, 2002, p.60).




Na verdade, o homem tem progressivamente se distanciado do contato com o sagrado, desumanizando-se. Em contrapartida, segundo Elíade (1992, p.88), “o comportamento religioso dos homens contribui para a santidade do mundo”. A fim de promover o contato do homem com o sagrado, e concomitantemente com a natureza em uma outra consciência ambiental , propomos a dialética do culto aos orixás, propomos a pedagogia do culto de Ossain, patrono das folhas para o candomblé.


2. Trocando em miúdos


Axé é uma dádiva dos deuses, mas é preciso conhecer as fórmulas rituais corretas, perfeitas, para se chegar a ele. “Ah, mas qual é a folha certa?” - pergunta-se o venerando Idérito de Oxalufã. (Prandi: 1991, p.103) O candomblé de denominação ketu, é religião iniciática e de possessão predominante na Bahia. É dedicado aos orixás e tem destinado rica contribuição à religiosidade de cunho afro-brasileiro.Orixá, termo derivado do iorubá òrìsà, indica divindade que se destaca entre os homens, no mundo da natureza, tendo seu domínio no mundo do transcendente (SERRA, 2006:290) No Brasil, comumente são encontrados dezesseis orixás, sendo cultuados nas casas de axé, dentre eles: Exu, Ogum, Ifá, Oxalá, Ossain, Xangô, Iansã, Oxum, Obá, Iemanjá, Oxosse, Logun-Edé, Oxumaré, Omolu, Ibeji, Obaluaê; interessando-nos mais propriamente o orixá Ossain, vez que nos diversos candomblés é concebido como o “portador do axé das folhas” (SÀLÁMÌ, 1991, p.56) O candomblé tem como referência as divindades africanas, os orixás e seu axé. Em seus rituais, há as chamadas cerimônias privadas, como os ebós, boris e orôs, e as cerimônias públicas, em que os não iniciados têm acesso. As chamadas “festas” de candomblé correspondem a este espaço aberto, momento em que se dá o “toque” aos orixás e toda a comunidade é convidada a viver com os orixás um outro tempo: o Tempo Primordial: tempo em que os orixás estavam sobre a terra e conviviam com os homens. Todo o ritual, seja ele privativo ou social, lega ao mundo um momento de re-ligação com o sagrado, a fim de que a harmonia entre o mundo do “real” e o mundo do “espiritual” seja efetivada.


Mircea Elíade nos propõe o Tempo sagrado como um Tempo mítico, Tempo Primordial, “não identificável no passado histórico, um Tempo original, no sentido de que brotou “de repente”, de que não foi precedido por um outro Tempo, pois nenhum Tempo podia existir antes da aparição da realidade narrada pelo mito. (ELÍADE: 1992, p.66) É o axé dos orixás que nos coloca em contato com este Tempo Primordial. O axé, como toda força, é manipulável, podendo aumentar ou diminuir a depender de como os rituais estão sendo produzidos. No culto aos orixás, tudo veicula axé. Os textos sagrados, mitológicos, as festas, os símbolos, os diversos rituais. Segundo Elbein dos Santos (1986, p.40), a força do axé é transmitida para os seres e os objetos a partir de determinados elementos materiais, de certas substâncias. Ali, o axé se mantém e se renova, de modo que, torna-se fundamental preservar esses “elementos materiais”, a fim de se preservar o axé; de modo que, é sine qua non ao culto aos orixás estar ligado à constante restituição e redistribuição do axé.


É desta lógica que pretendemos tratar em nosso texto. Uma lógica que vai de encontro com os ditames capitalistas e com a forma positivista de entender o mundo (COTRIM, 1991) O mundo capitalista propõe um mundo utilitário, consumista, imediatista, ao passo que a espiritualidade propõe uma outra postura diante do mundo. Estamos convencidos de que o culto aos orixás, prescinde a outra lógica que é a de se relacionar com a natureza, com as folhas, com o Ser no tempo e no espaço, discurso que se coaduna com a permanente e necessária construção do axé. É aqui que Ossain se faz presente.


3. Da presença de Ossain: os mitos e os rituais


Sem folha não tem vida
Sem folha não tem nada
Ewé, Ewé!
Vem salvar as folhas
Vem salvar a natureza
(Maria Bethânia)


Nada se faz no culto aos orixás sem a natureza, sem as folhas que, amparadas por Ossain, deus da vegetação, das folhas e de seus preparados, tem finalidade mágica e medicinal. Ossain está tão ligado às folhas, que é como se o vocábulo “folhas”, fosse-lhe um sinônimo, sua metonímia, seu símbolo. Sem Ossain não há folhas, sem folhas não há orixás. Não á toa é Ossain quem vai dar “uma folha para cada orixá”, permitindo-lhes o uso, mas guardando para si os segredos mais profundos. “Ossain não conta seus segredos para ninguém,/Ossain nem mesmo fala./Fala por ele seu criado Aroni./Os orixás ficaram gratos a Ossain/e sempre o reverenciam quando usam as folhas (PRANDI, 2001, p.153) Ossain é um orixá de trato extremamente delicado, uma vez que está intimamente ligado ao culto dos ancestrais femininos e masculinos, além de ter contato permanente com Orunmilá, o deus do destino. É ele um grande feiticeiro, que mora nas profundezas das matas e conhece os des-caminhos da alta magia. É senhor da vegetação e da floresta, seu defensor, profundo conhecedor das plantas. Seus mitos dão conta de que desde muito pequeno Ossain “andava metido mata adentro./Conhecia todas as folhas e seus segredos./De cada qual sabia o encantamento apropriado./Sabia empregá-las na cura de doenças e outros males. (PRANDI, 2001, p.155) É Ossain quem dirá a Orunmilá quais plantas podem ser cortadas e quais têm valor medicinal, miraculoso.Orunmilá acaba por interessar-se pelas folhas e pela sabedoria de Ossain, “e assim Ossain ajudava Orunmilá a receitar/e acabou sendo conhecido como o grande médico que é. (PRANDI, 2001, p.152) Seu emblema é uma barra central de ferro, rodeada de outras seis, com um pássaro de ferro sobreposto simbolizando uma árvore de sete ramos com um pássaro acima. Outro mito que nos faz lembrar a relação de Ossain com os pássaros e a alta magia daí proveniente, conta-nos que após subir em uma árvore de obi -sagrada para os cultuadores de orixá-, produz “um canto irresistível, de um passarinho das matas de Ossain./Mas o canto era de Ossain, imitando o pássaro/(...) Ossain desde então é identificado com o pássaro. (PRANDI, 2001, p.156)


Importa-nos, sobretudo, atentar para os seguintes pontos (i) a relação de Ossain com o pássaro, que simboliza seu alto poder de magia e de contato com as senhoras da procriação, as mães sagradas. No mito, é através de seu transformar-se no pássaro que ele consegue seu objetivo, casar-se com a filha do rei, signo de nobreza. Por outro lado, arriscamos, parafraseando Verger (1992, p.24), a compreender o alto poder construtivo/destrutivo de Ossain, graças às suas relações com as mães sagradas. Salta-nos o texto “Ossain vinga-se dos pais por o deixarem nu”, no qual Ossain manipula o ebó para agredir seus familiares, mata seu próprio filho com receio de que ele o ataque, queimando-o até obter um pó preto e, com esse pó, cura o rei de uma enfermidade. Com isso, Ossain recebe a proteção do rei, que com ele divide suas riquezas. (PRANDI, 2001, p.156-7); (ii) a relação de Ossain com o ferro, símbolo do “sangue” preto ligando-o a este axé; (iii) sua simbologia de procriado, que descende da relação folha-pena (SANTOS, 1986, p.92); (iv) o número seis formado pelas astes -símbolo do par, valor da ordem, do equilíbrio; (v) a aste central que, somada as seis outras astes, alude ao número sete, ímpar, signo do desequilíbrio, da passagem, da transformação, da transmutação, da alta magia (SERRA, 2006 , p.296); (vi) sua ligação com outros orixás caçadores e signos de alta magia, como Oxossi e Ogum; (vii) sua ligação com Exu, uma vez que ambos configuram-se como extremos manipuladores da magia e do axé. Há um texto mitológico que nos leva a apontar esta ligação: “Ossain vem dançar na festa dos homens”. Seus versos finais são esclarecedores: “Ele viera dançar com os homens/e quem sabe, levaria os seus pedidos aos outros orixás.” (PRANDI, 2001, p.158) Essa qualidade de “levar pedidos”, a princípio é de Exu, o orixá Elebó -carregador de ebó- que, sem Ossain, vê esta empreita dificultada.


Mais acima nos remetemos às celebrações públicas no culto. Poderíamos agora fazer um recorte sobre a poética de Ossain nestas festas. Em diversos terreiros podem ser vistas, quando se canta para este orixá, folhas devidamente preparadas sendo lançadas no barracão, e os cultuadores pegando-as antes que caiam no chão e passando-as no corpo, solicitando a proteção de Ossain, pedindo-lhe que permita que as folhas emanem seu axé e assim, restituindo-se o poder dos homens e dos orixás. Há, neste sentido, um profundo respeito pela natureza sendo construído. Verger (1992, p.85-90), ao apresentar texto do Odu Òsé óyèkú corrobora com nossa afirmativa:


Obarixá ama o efun (pó branco).


Obaluaê ama o osun (pó vermelho).


Ogum ama o carvão,


Odudua ama a lama.


Obarixá pega a cabaça de efum.


Desde aquele tempo, com sementes de kola brancas e sementes de kola vermelhas, eles adoram Odù. (grifos nossos).


Os orixás “necessitam” da natureza para reformular suas atividades, e dialeticamente, os cultuadores “necessitam” da natureza e de seus “elementos materiais” para invocar seus deuses. É no território dos reinos animal, vegetal e mineral que o axé re-nasce, pois são elementos portadores de axé. Segundo Elbein dos Santos, estes “elementos de fundamento” podem ser divididos em três categorias: “sangue vermelho”, “sangue branco”, “sangue preto”, sem os quais, o culto aos orixás simplesmente se desconstrói (1986, p.41) O candomblé, portanto, é uma religião ágil, mutante, dinâmica, sendo seus saberes transmitidos oralmente ao longo dos anos e da prática dos iniciados no culto (VERGER, 1995, p.20) É por meio da oralidade que se transmite o axé, o poder dos orixás e de suas plantas. Ou como quer Silveira (2004), educa-se pelo silêncio.


Elbein dos Santos (1986, p.91) nos conta que "As folhas nascidas das árvores, e as plantas constituem uma emanação direta do poder sobrenatural da terra fertilizada pela chuva e, como esse poder, a ação das folhas pode ser múltipla e utilizada para diversos fins. Cada folha possui virtudes que lhes são próprias e, misturadas a outras, formam preparações medicinais ou mágicas, de grande importância nos cultos, onde nada pode ser feito sem o uso das folhas".Vejamos como as lógicas são diferentes: para a medicina ocidental, o conhecimento dito válido é o do nome científico das plantas e suas características farmacológicas, enquanto que para o culto dos orixás o fundamental é o conhecimento dos ofó (as encantações) e as misturas. Amarrando esta idéia com o texto mitológico, “Ossain, contudo, deu algumas folhas para cada orixá,/deu algum ewé para cada um deles./Cada folha com seus axés e seus ofó,/que são as cantigas de encantamento,/sem as quais as folhas não funcionam. (PRANDI, 2001, p.154) O “sangue” das folhas, portanto, é sagrado, e como tal traz consigo o poder do que nasce, sendo um dos mais poderosos axé dos iorubás. Lühning (2006, p.304) uma das principais pesquisadores de Pierre Verger no Brasil, também se reporta a classificação das plantas dicotomizando o saber da botânica oficial, seu Systema Naturae e aquele produzido pelo “sistema nativo iorubá”. Os iorubás entendem as plantas pautadas em suas características: (i) de acordo com sua superfície (áspera, lisa, cheia de cabelos que queimam, seu cheiro, cor, se solta tinta); (ii) se a folha se fecha a noite; (iii) se a planta produz sementes que grudam; (iv) de acordo com seu sabor característico. Lühning (2006, p.313) inclusive acresce que há uma separação entre o saber oficial e o popular, sendo que o primeiro goza de privilégios sobre o segundo. Todavia, entende a pesquisadora, ser esta uma lógica questionável, “inadmissível”, principalmente em um país como o Brasil, em que as pessoas são excluídas do saber dito erudito. Importa à dinâmica dos orixás o saber empírico-popular, a relação com as forças da natureza e com os deuses, sobretudo, com Ossain (VERGER, 1995, p.23) Assim, a manipulação das energias presentes na natureza não se dá sem se conhecer o axé, sem a ele estar apto. Há também que se conhecer as encantações, percebendo as folhas como sendo representantes e representadas pelo procriado (SANTOS, 1986, p.91) Como nos ensina o babalaô: "Essas encantações-jogos de palavras têm uma grande importância nas civilizações de tradição oral. Sendo pronunciadas em orações solenes, podem ser consideradas como definições e com freqüência são as bases sobre as quais o raciocínio é construído.Servem também como conclusão e prova final nas histórias transmitidas de geração a geração de babalaôs, e expressam o ponto de vista da cultura iorubá e o senso comum de seu povo.(VERGER, 1995, p.24)


4. Pensando em concluir: por uma outra consciência ambiental.


Ewé n’jé


Oógún n’jé

Oógún tikò jé

ewé rè ní kò pè


As folhas funcionam


Os remédios funcionam


Remédio que não funciona


é que tem folhas faltando.


Estamos convencidos de que enquanto metafísica, o culto aos orixás está muito mais apto a responder às necessidades de proteção ambiental e de desenvolvimento sustentável do que a lógica capitalista ocidental. São os diversos orixás que respondem a esta necessidade: sem as folhas, sem o desenvolvimento sustentável do mundo, não há orixá, não há natureza, não há axé. Na medida mesma em que os orixás são a natureza, sendo dela elementos, tornam-se seus protetores, guardiões, fiscais. A força dos orixás reside em uma dialética: manipulação do axé da natureza, para restituir a natureza humana e seu próprio axé. É este axé revivificado através dos diversos rituais produzidos com as folhas, que conduz o homem em direção ao transcendente, propondo-lhe outra consciência diante do mundo, da natureza, da sociedade. A vida no culto aos orixás adquire sentido à medida que seus cultuadores se apropriam dos mecanismos materiais e simbólicos dos vegetais, respaldados em seus mitos e rituais, veículos de transmissão, manutenção e apropriação de saberes. São diversos os momentos em que isto ocorre nos terreiros. A conexão entre os adoradores dos orixás e seus deuses se dá pela trituração das folhas para compor banhos rituais -os amacis, omierô, abôs-, com os quais os filhos de santo e os objetos do culto são sacralizados. Os filhos de santo também são colocados para dormir durante suas obrigações em esteiras cobertas com folhas características de seu orixá e/ou do “fundamento” que está sendo manipulado. Os alimentos são envolvidos em folhas, é através delas que os compostos mágicos são potencializados (SILVA, 1995, p.208) Assim, por meio de um contato dinâmico de restituição do axé, os cultuadores dos orixás vão promovendo um novo diálogo com a natureza. É dela que se extrai e nelas e devolve elementos significativos para a manutenção do sistema ritualístico. É na natureza, na floresta, em suas plantas que se dá o encontro com Ossain, com Oxóssi e Ogum. É através deste mecanismo ritualístico que se processa o encontro do homem com o ser transcendental, caminhos para uma outra consciência ambiental.


Referências Bibliográficas


ANDRADE, Sueli Amália de. Bases filosóficas do pensamento ambiental. In: Educação Ambiental: curso básico à distância: questões ambientais: conceitos, história, problemas e alternativas. LEITE, Ana Lúcia Tostes de Aquino, MININI-MEDINA, Naná (orgs.), 2000, 4v.


COTRIM, G. Fundamentos da filosofia para uma geração consciente. São Paulo: Saraiva, 1991.


ELÍADE, Mircea. O sagrado e o profano. São Paulo: Martins Fontes, 1992.


GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989.


LÜHNING, Ângela. Ewé: As plantas brasileiras e seus parentes africanos. In: CAROSO, Carlos. BACELAR, Jéferson (orgs.). Faces da tradição afro-brasileira: religiosidade, sincretismo, anti-sincretismo, reafricanização, práticas terapêuticas, etnobotânica e comida. 2.ed. Rio de Janeiro: Pallas; Salvador, BA: CEAO, 2006.


MININI-MEDINA, Naná. Relaciones históricas entre sociedad, ambiente y educación. In: Apuntes de Educación Ambiental 4. Montevideo, 1989.


NICOLESCU, Basarab. Fundamentos Metodológicos para o Estudo Transcultural e Transreligioso. Conferência proferida no II Encontro Catalisador do CETRANS da Escola do Futuro da USP, realizado no Guarujá, São Paulo, de 8 a 11 de junho de 2000. In: Educação e transdisciplinaridade, II/coordenação executiva do CETRANS. -São Paulo: TRIOM, 2002.




PRANDI, Reginaldo. Os candomblés de São Paulo: a velha magia na metrópole nova. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, HUCITEC, 1991.


. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

SÀLÁMÌ, Síkírù. Cânticos dos orixás na África. São Paulo: Oduduwa, 1991.


SANTOS, Juana Elbein dos. Os Nagô e a morte: Pàdê, Àsèsè e o culto Égun na Bahia. Petrópolis: Vozes, 1986.

SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2006.


SERRA, Ordep. A etnobotânica do candomblé nagô na Bahia: Cosmologia e estrutura básica do arranjo taxonômico. O modelo da liturgia. In: CAROSO, Carlos e BACELAR, Jéferson (orgs.) Faces da tradição afro-brasileira: religiosidade, sincretismo, anti-sincretismo, reafricanização, práticas terapêuticas, etnobotânica e comida. 2.ed. Rio de Janeiro: Pallas; Salvador, BA: CEAO, 2006.


SILVA, Vagner Gonçalves da. Orixás da metrópole. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.


SILVEIRA, Marialda Jovita. A educação pelo silêncio: o feitiço da linguagem no candomblé. Ilhéus, BA: Editus, 2004.


VERGER, Pierre. Orixás: deuses iorubás na África e no novo mundo. Salvador: Corrupio, 2002.


. Artigos. Salvador: Corrupio, 1992.

. Ewé: o uso das plantas na sociedade iorubá. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Ossain


Aquele que vive nas árvores e que tem um rabo pontudo como estaca.


Aquele que tem o fígado trasparente como o da mosca.


Aquele que é tão forte quanto uma barra de ferro.


Ossain
Explicação: Oriki, Oriqui, Adura, Gbadura, Reza, Louvação, Louvar, Invocação, Saudação, Despertar, Acordar, etc..., normalmente utilizada no candomblé e no Culto Aos Orixás de nação (Keto, Alaketo, Engenho velho, Opojonjá, Nagô, Axé Oxumarê, Culto a Ifá, Santeria Cubana, (Los Orishas) etc... (santo, divindade, deuses, protetor, guardião, anjo da guarda, Pai de cabeça).

Praticado na hora em quer for pedir, oferecer, fazer, cultuar, agradar etc.. . Vários são os termos utilizados dependendo e variando de cada tipo de culto religioso, mas que não muda muito o sentido e sim muda o dialeto utilizado (a língua).


Para maiores Informações de Como utilizar ao certo o oriki, procure seu pai de santo (Babalorixá, Yalorixá, Mameto, Tateto, Babalawo, etc..), ou estude um pouco sobre a pronuncia do dialeto yoruba que não é difícil, particularmente aprendi lendo e ouvindo sozinho, dai você pode tirar um exemplo que força de vontade é um dos principais pontos para que na hora de louvar, reverenciar o Candomblé, orixás, santos, Deuses, vodun, etc..., você pode sim fazer, e dar o melhor de si, mesmo não tendo o yoruba como uma língua nata de nosso país.


Vamos Juntos no Candomblé!!!

Agbénigi, òròmodìe abìdi sónsó


Esinsin abedo kínníkínni;


Kòògo egbòrò irín


Aképè nigbà òràn kò sunwòn


Tíotio tin, ó gbà aso òkùnrùn ta gìègìè.


Elésè kan jù elésè méjì lo.


Ewé gbogbo kíki oògùn


Àgbénigi, èsìsì kosùn


Agogo nla se erpe agbára


Ó gbà wón là tán, wón dúpé téniténi


Aròni já si kòtò di oògùn máyà


Elésè kan ti ó lé elése méjì sáré


 tradução:


Aquele que vive nas árvores e que tem um rabo pontudo como estaca.


Aquele que tem o fígado trasparente como o da mosca.


Aquele que é tão forte quanto uma barra de ferro.


Aquele que é invocado quando as coisas não estão bem.


O esbelto que quando recebe a roupa da doença se move como se fosse cair.


O que tem uma só perna e é mais poderoso que os que têm duas.




Todas as folhas têm viscosidade que se tornam remédio.


Àgbénigi, o deus que usa palha.


O grande sino de ferro que soa poderosamente.


A quem as pessoas agradecem sem reservas depois que ele humilha as doenças.


Àròni que pula no poço com amuletos em seu peito.


O homem de uma perna que exita os de duas pernas para correr.

Adimu para Ossanym


Vejamos aqui como se prepara um agrado, adimu, comida ou até mesmo um presente para o Orixá Ossain (Osain, Osãe).



Comida está que é um Abacate para Ossaim.

Aqui os Ingredientes da comida de Ossain:


- 01 abacate


- 500g. de amendoim


- 250g. de açúcar


- fumo em corda


- 7 folhas de louro


Vejamos agora como é que se prepara um abacate para Ossain.


Modo de preparo: Corte o abacate no meio e tire a semente, coloque as duas parte numa travessa com a polpa virada para cima.


Numa panela misture o amendoim e o açúcar e mexa até derreter o açúcar, derrame essa mistura sobre o abacate.


Enfeite com pedaços de fumo em corda e as 7 folhas de louro.


Outubro o mês de Ossanym: Ossain - Osaín Escrito por Okanbi / Omo Aggayú

Ossain - Osaín


Escrito por Okanbi / Omo Aggayú


A palavra Osaín significa conhecedor, médico, começo da vida e eternidade.

Isto é assim, porque ele é o espírito que vive em tudo que tem vida na terra e porque é o médico desta religião.

Ele é o dono de todas as plantas, ervas, animais de este mundo.

Não há nada de Santo se não passa pelos banhos de ewes (ervas) de Osaín.


Osain tem uma só perna, um só braço e um só olho.

Este espírito não é visível para nada, só a traves das suas plantas e animais, e numa só palavra, a vida na terra.

Ele se comunica com os seus filhos da terra mediante um guizo bem confeccionado e elaborado.

O asseguro a quem o receba ele falará e comunicará com ele, pois esta é a virtude de Osaín.

A pessoa que prepara Osaín é considerado Osainista e tem que ter um conhecimento muito amplo das plantas, ervas e insectos da terra. Se diz que Osaín é um caminho de Changó, por isso os filhos de Changó tem o ache para dar a Osaín.


Dia da semana…………Quinta-feira
Cores……………………Verde e rosa, ou amarelo, marron
Animais…………………..Pássaros
Domínio…………………..O axé das ervas
O que faz……………….Dá força curativa às ervas medicinais.
Quem é………………….O curandeiro, o mago dono da força das plantas.
Onde recebe oferendas…………..Na floresta
Saudação……………………………Euê ô !
Presentes predilectos……….Frutas, velas, suas comidas e bebidas.


Lendas
Desde garoto, Osaín gostava mais de ficar sozinho vagando pela floresta do que na companhia da família. Muito cedo, ele saiu de casa e foi morar no meio da floresta, onde se dedicou a estudar os poderes mágicos e medicinais das plantas. Depois de algum tempo, ele sabia tudo sobre o assunto e, quando alguém precisava de um remédio ou feitiço, recorria a ele. Mas ele guardava as folhas numa cabaça e não mostrava para ninguém. Os outros Orichas ficaram aborrecidos por dependerem dele. Decidiram fazer alguma coisa, e Iansã se dispôs a resolver o problema. Foi ao encontro de Ossain e fez soprar uma ventania que derrubou a cabaça e espalhou as folhas. Então, cada Orixá correu e pegou um pouco para si. Ossain só conseguiu guardar as mais secretas, mas continuou dono do poder mágico, e por isso todos têm de lhe pedir licença para usar as folhas.


Lendas (2)
Houve um rei que tinha três filhas muito bonitas. Quando elas chegaram à idade de casar, o rei disse que a mais velha casaria com quem adivinhasse o nome das três. Muitos pretendentes apareceram mas todos fracassaram; até que um dia chegou à cidade um rapaz que todos chamavam de Aroni, o aleijado, porque tinha uma só perna. O aleijado se apaixonou pela filha do rei e se apresentou como pretendente. O rei lhe deu um prazo de três dias. Passeando perto do palácio, o aleijado descobriu um arvoredo onde as princesas passeavam. Subiu num pé de obi e, quando elas apareceram, fingiu ser o deus da árvore e deu a cada uma noz de cola em troca delas dizerem seus nomes. No dia marcado, foi à presença do rei, matou a charada e casou com a princesa. Só então revelou que era Ossain, o deus das folhas.


Lendas (3)
Quando Osaín nasceu, os pais o deixaram nu. Por isso, ele cresceu cheio de ressentimento contra eles. Vivia mais na floresta que em casa, e assim aprendeu os segredos das folhas. Um dia, jogou um feitiço sobre o pai, que não conseguia respirar, e só o curou quando o pai lhe deu uma roupa e um gorro; e assim Ossain não precisou mais se vestir de folhas. Depois, jogou um feitiço na mãe, que ficou com dor de barriga; e só a curou quando ela lhe deu um pano listado. Quando teve um filho, Ossain teve medo de que ele o tratasse como ele tratara o pai; então, matou-o e fez um pó de seu corpo. Mais tarde, usou esse pó para curar o rei, que em recompensa o cobriu de honrarias.




Lendas (4)
Quando Osaín trabalhou para Olorum, recebeu a função de ajudante do adivinho Orumilá. Mas como ele sabia muito sobre ervas medicinais, não quis ser inferior ao outro. Para testá-los, Olorum resolveu enterrar os filhos dos dois por 7 dias; o que respondesse primeiro quando fosse chamado, venceria. Orumilá consultou Ifá, que o aconselhou a fazer oferendas a Exú. Orumilá obedeceu e Eshú mandou um coelho levar comida para Sacrifício (o filho de Orumilá) e Remédio, o filho de Ossain, usou seu poder mágico para falar com Sacrifício, a quem pediu comida; este lhe deu, com a condição de que Remédio não respondesse quando o chamassem. Ele assim fez e Orumilá venceu a prova. Em agradecimento, compartilhou o poder de adivinhação com Exú.


O Senhor das Folhas e das Ervas
Ossain é Orichá masculino de origem nagô (Iorubá) que, como Oxossi habita a floresta. É bastante respeitado e adorado na Venezuela e Brasil, recebendo diversos nomes como Ossânin, Ossonhe, Ossãe Ossanha, uma das formas mais populares. Por causa do som feminino é frequentemente confundido como figura feminina. É um Orixá cujos filhos são raros, bem menos numerosos do que Oggún, Changó ou Ochún. É Oricha da cor verde, do contacto mais íntimo com a natureza. As áreas consagradas a Ossâim não são os jardins cultivados de maneira tradicional, mas sim os recantos, onde só os sacerdotes podem entrar, nos quais as plantas crescem de maneira selvagem, quase sem controle. Orixá de grande significação, pois todos os rituais importantes utilizam o “sangue-escuro” que vem dos vegetais, seja em forma de amassis, infusões ou para uso de bebida ritualística. É comum dentro da Santaria existir um certo preconceito com dois Orichas que muitas vezes são esquecidos, mais existem, e se faz necessário o culto: Osaín e Ochumare. O primeiro está presente em todos os rituais através das folhas e o segundo presente em quase todos os rituais por ser o Orixá das cores e dos aromas.

Dois Orichas de grande valia dentro do culto da Santeria. Segundo lendas, Ossâim era o dono de todas as folhas e era necessário que os Orixás dependessem dele para obter certas folhas e certos sumos. Como os Orichas raramente se submetem a qualquer tipo de autoridade, a rebelião se fez e Oyá Iansã com seus ventos espalhou as folhas de Osaín, fazendo com que cada Oricha pegasse a sua de acordo com sua esfera de atribuições. Mas muitas ervas e plantas ainda continuam sob o domínio de Osaín, e mesmo as que hoje estão sob domínio dos outros Orichas, ainda necessitam de certas rezas e preceitos que só Ossâim conhece. Nesse contexto o poder de Osaín foi dividido, mas permanece paradoxalmente com ele, realçando outra característica do Panteão Africano: a dependência dos Orixás. Apesar de cada Orixá reinar sobre uma área específica do conhecimento e da actividade humana, acaba influindo genericamente sobre os domínios dos outros Orichas. Por isso um filho de Iansã deve manter boas relações espirituais com Osaín para poder realizar os trabalhos e obrigações devidos à própria Iansã ou a Eshú, como também deve invocar Oxum quando tiver problemas sexuais ou relativos a paternidade ou maternidade. Se cada ser humano é individualizado pela soma das características e presenças energéticas de seus próprios Orixás – o primeiro (eledá) e o segundo (ajuntó) Orixá, também troca energias com as outras fontes de Axé que regularizam e ditam as normas de seu relacionamento com outras áreas do conhecimento.


É a convivência dos diferentes, mas complementares, que viabiliza a mitologia dos Orichas e a existência do ser humano em sociedade. Não é Orixá das lutas, do fogo, dos grandes amores e das guerras incontroláveis. É Orixá da técnica, do uso das folhas que são empregadas quando necessárias, usadas de forma condutora da busca do equilíbrio energético, do contacto do homem com a sua divindade, que nada mais é do que a sua essência. Não faz parte das lendas de Osaín um número de relações familiares e sexuais de destaque, pois geralmente é apresentado como um ser solitário, vagando nebulosamente pela floresta e não habitando lar específico. Em algumas histórias é apresentado como uma figura de uma perna só. Em outras é chamado de Aroni, um anãozinho que como o saci pererê da mitologia, traz sempre na boca um cachimbo. Para alguns pesquisadores, a diferença existente entre Osaín e Omolu-Obaluaiê, seria de que um traz a doença e o outro traria a cura. Mas tal definição não é adequada já que Omulu-Obaluaiê também traz a cura. Classificar Ossâim como Orixá da medicina seria uma visão parcial de sua real potencialidade mítica. Ossâim seria aquele a quem se pede a ajuda para libertação de diferentes problemas, seja a doença, sejam os encantamentos. Asowuano (ou Omulu-Obaluaiê) é a quem se pede a cura, depois que ele mesmo muitas vezes envia a doença.


Outra diferença seria que Ossâim é mais invocado nas doenças e problemas individuais enquanto Asowuano é o que castiga socialmente, dizimando colheitas ou populações inteiras. Osaín seria também o curandeiro do ponto de vista da magia e dos encantamentos, enquanto Asowuano seria o curandeiro do ponto de vista das rezas e da manifestação de espíritos curadores que trabalhariam a seu mando. Como tantos outros magos, vive sozinho, em estreita e diária ligação com as plantas, com os pássaros com quem parece se comunicar, é misterioso e solitário ermitão.


O Arquétipo dos seus filhos


O arquétipo dos filhos de determinado Oricha, é um estudo profundo e que muitas das vezes não condiz com o que o Orixá apresenta. Vale lembrar que os Arquétipos são dados a essa ou aquela pessoa por características que são predominantes nos seus Orixás (eledá e ajuntó). Para facilitar o entendimento, geralmente o tipo físico é dado a partir do físico do Orixá (Ochún, Yemanjá – Predominância por gorduras localizadas e alguma tendência a engordar – Oggún, Ochosi – Pessoas esguias e ágeis que tem no pisar o silêncio dos guerreiros que se faz necessário para não afastar a vítima ou a presa). Do ponto de vista emocional e psicológico, Ochún e Yemanjá seriam pessoas mais controladas e menos dadas a rompantes e combates, como seria Oggún, Ochosi e Oyá Iansã. Changó seria a figura do homem velho que nem sempre resolve tudo a ferro e fogo. Mas essas características são contra balanceadas pelos ajuntós. Geralmente o Eledá ou Eleri (cabeça) traz alguma característica que muitas das vezes são acentuadas, desacentuadas ou mudadas pelas características do ajuntó. Portanto pode se ver uma filha de Yemanjá magra, visto que o ajuntó é Ochosi e vice-versa.


Os filhos de Osaín são aqueles que não permitem que suas simpatias e antipatias subjectivas e individuais intervenham em suas decisões ou influenciem as suas opiniões sobre pessoas e acontecimentos. Ossâim é reservado, pouco intervindo em questões que não lhe digam respeito. Não é introvertido, mas não se faz notar pela actividade social. Os filhos de Osaín são individualistas no sentido de não se preocuparem com o que acontece fora da sua esfera. São pessoas muito ligadas a religiosidade e pelos aspectos ritualistas. A ordem, os costumes, as tradições e os gestos marcados e repetitivos o fascinam. São pessoas meticulosas, nunca se deixando levar pela pressa ou pela ansiedade, pois é caprichoso. Por isso as profissões dos filhos de Osaín são aquelas que não requeiram pressa. São pessoas que não gostam de trabalhar em conjunto, há não ser quando somente o conjunto pode gerar o resultado esperado. Pela necessidade de isolamento e independência, os filhos de Osaín podem abraçar profissões artesanais, que exijam o trabalho lento e meticuloso, como um ritual que quando não feito de maneira correcta e meticulosa podem deitar tudo a perder.


Em termos físicos, são pessoas elegantes e esguias, mesmo quando tem como ajuntó Yemanjá ou Oxum. Não aparentam grande força física, mas detém uma grande energia reservada para uso quando necessário. Uma particularidade física muito comum são os cabelos lisos e compridos. São capazes de amar, mas não o tempo todo. O silêncio, porém, não pode ser entendido como sinónimo de falta de carinho: é apenas seu gosto pela ausência de sons, pois, quando há algum problema, ele dificilmente esconde seu ponto de vista.


O Culto ao Oricha
Assim como os Orixás das florestas, Osaín é adorado nas quintas-feiras, se bem que alguns santeiros apresentem seus dias de culto de maneira diferente. Como é um Oricha voltado ao culto em si e à religião como forma organizada de comunicação entre os homens e o sobrenatural, todos os seus ritos exigem muitos detalhes e inúmeros cuidados para não se quebrar as regras de como se colhe uma folha de uma árvore ou se arrumam os ingredientes para uma obrigação de Ossâim.


Em algumas áreas do Brasil, Ossâim é sintetizado em São Benedito, alguns zeladores e zeladoras dão a este Orixá o sincretismo de Santo Expedito, visto que o mesmo segura um ramo de folha em uma das mãos. Mas em geral é sintetizado na figura do Saci Pererê, figura mitológica que traduziria a função de encantado da mata, aquele que existe e ao mesmo tempo não. Sua filiação é Yemanjá e Obatalá (alguns historiadores dão Nanã e Obatalá), sua actuação seria na cura e na liturgia, suas cores variam de vermelho e azul, verde e branco e preto e amarelo (mais comum).


Okanbi
Com a bênção de Meu Pai Aggayú e Yemanjá


O DESAFIO DE OSAIN





Aquilo que te cura é o que te escraviza.

Veneno e remédio são irmãos e moram no axé da mesma folha.

É desta forma que Ifá nos esclarece sobre a natureza do orixá Osain, o senhor das plantas medicinais e litúrgicas das matas cerradas e densas florestas.


Meditar sobre Osain coloca o homem diante de perguntas das mais pertinentes sobre a nossa condição e relação com o mundo: determinada coisa é a minha cura ou a minha condenação?

Me liberta ou escraviza?

Quem é o verdadeiro escravo, o cativo ou o seu dono?


Dizem que Osain - que vivia pelas matas ao lado de seu escravo Aroni - recebeu o poder de Olodumare para conhecer o mistério das folhas.

Guardou as folhas todas numa cabaça pendurada no galho de uma árvore.

Um dia Iansã, muito curiosa, enfeitiçou os ventos para que eles derrubassem o galho da árvore e espalhassem as folhas sagradas pela floresta.

Os demais orixás, então, recolheram determinadas folhas e passaram a considerá-las como suas.


Esse conto de Ifá, o corpo literário e filosófico dos iorubás que está em pé de igualdade com os mais belos sistemas de pensamento que a humanidade concebeu, é uma poderosa alegoria sobre a difusão do saber pelo mundo.

A curiosidade espalhou o conhecimento e difundiu o segredo.


Havia, porém, um problema.

A folha, para se transformar em remédio, tem que ser potencializada pela palavra e o canto.

Só o encantamento pelo verbo é capaz de dotar a folha de seus atributos de cura.

A ausência da palavra não potencializa a folha.

A utilização da palavra errada transforma em veneno o que era para ser o bálsamo.


Os orixás, então, mesmo tendo recolhido as folhas que o vento de Iansã distribuiu, precisavam ainda de Osain, porque só a ele Olodumare dera o conhecimento das palavras e dos cantos capazes de dotar as folhas do axé.

E é essa a função de Osain desde então, potencializar a folha pela palavra e dotar a planta da capacidade de vida e morte.


Osain é, portanto, dos orixás mais perigosos, sedutores e desafiadores.

É o senhor da expressão certa que nos cura e o conhecedor da palavra que, mal colocada, pode nos matar.

Veneno e remédio, afinal, são irmãos.


Osain mostra o poder da palavra que vira poema, canto, evocação do mistério, libertação e vitalidade.


Osain alerta para o poder da palavra que desarmoniza, é declaração de guerra, dureza de pedra, escravidão e perda do axé - a morte.


Osain ri e zomba dos homens que não sabem o que fazer com o verbo.

São estes, curiosamente, os que mais falam.

Encanta a folha com a tua palavra, mas não faz do teu verbo a serpente que envenena o mundo.

Eis o desafio poderoso que Osain nos lança todos os dias e está expresso em um dos seus mais famosos orikis.


É por isso, segundo a filosofia nagô, que os Babalosain [sacerdotes de Osain e conhecedores dos atributos do encantamento das plantas] são os mais calados dentre os sábios.

Eles sabem exatamente que o homem que diz sou, não é.

Por conhecer o teor de veneno e remédio que cada palavra guarda, os que reverenciam o senhor das folhas, se não podem encantar o mundo, preferem silenciar.

Outubro o mês de Ossanym: “OMÍERÓ”= (Omí = água; eró = segredo; água do segredo).

“OMÍERÓ”=
 (Omí = água; eró = segredo; água do segredo).

Tem muitos chamam de “Mieró”= (Mi= neste sentido é mexer de leve; eró= segredo; mexer de leve o segredo).

Deixo que vocês escolham e vejam qual é o mais correto!

Existem várias maneiras de se realizar o “omíeró” e sua utilização.



Sendo o seu ritual inicial igual ao do amáãsi.

No preparo, existe as diferenças de um para o outro.




“Omíeró”é o cozimento de folhas, após ter fervido a água é colocado as folhas e abafado na panela até esfriar, serve para banhos ou lavar a cabeça em casos especiais, bem como, lavar as residências ou estabelecimentos comerciais.

A lavagem da cabeça com “omíeró”, não importa em compromissos de iniciação e pode e é, muitas vezes, aplicadas aos profanos por motivos de doenças ou outras causas.

Omíeró, não é feito sempre de igual modo, dependendo do fim e da divindade invocada aquém se pede ou se oferece o cerimonial.





Passo à vocês, aqui um dos mais completos:

Compõe-se de :

Manjericão, levante, oriri ( folhas), colônia, alfazema, incenso, rosinhas brancas de jardim, poejo, hortelã, alecrim, malva branca, noz moscada, pixulim, salvia, trevo de 4 folhas. 


Depois de realizado a operação deve ser despachado em lugar determinado pelo Feitor (a).



Uma prática muito utilizada é na lavagem de cabeça como limpeza da mesma, para tirar a mão de um Feitor (a) ou de mão de egungun, etc…



Por isso, que chamamos d’água do segredo, já nestes casos as folhas à ser utilizadas são outras !



Esse tipo de ritual assemelha-se muito com o “amáãsi”, devido sua grande versatilidade de utilização mas, tem muita gente que confundem um com outro, cuidado!



























Outubro o mês de Ossanym: “OMÍÀSE” ou OMÍESÉ

“OMÍÀSE”
ou que muitos dizem OMÍESÉ =

Omíàse quer dizer “água da força divina dos Òrìsàs.

Muitos dizem: “Omíàse eró Bàbá Ilé”.


É um certo tipo de “omíeró”, após de feito é adicionado as águas das quartinhas dos Òrìsàs ou pode ser de um só Òrìsà, conforme for o caso; também para banhos ou lavagens e purificação de okutás e utensílios de Òrìsàs.


É tão empregado quanto o sabão da Costa, cuja sua composição é conservada secreta, tal como a do Ori epô (manteiga de Òòsààlà) os verdadeiros , até hoje, são importados da África. Os que existem por aí! São na sua maioria falsificados, inclusive na Bahia.


Assim o “Omíàse, também é algo de muito secreto do Feitor (a), porque vária muito na sua composição de Òrìsà para Òrìsà; mesmo após o sacrifício de animais de quatro pés, na limpeza de seus Otás ou Etás e, após dar o ossé, epô para quem é do epô, mel para quem é do mel ou dar à determinados Òrìsàs que são do epô e mel.

Porque, muitos Feitores não deixam o seu filho ver a levantação, porque, aí mora um dos segredos, mesmo, você levando-os para sua casa, você não saberá conduzí-los e tratá-los.

Você não viu na primeira Obrigação (corte e levantação) como foi realizado, com certeza, você irá dar com a cabeça nas pedras!

Por que aí está o grande eró do Feitor (a), neste momento é criado o feitiço para o próprio filho, caso ele não tenha percebido, por isso eu digo: A curiosidade é uma virtude e não um defeito!?

O Feitor (a) dá se quer o segredo (eró) de sua feitura, por isso, muita gente come pela mãos dos Feitores e patina na vida religiosa.


Esse direito, o Feitor (a) tem, de fazer diferente à cada filho de Òrìsà, e assim é, em cada fase da Obrigação, porque, nem uma é igual a outra.

Há! Você não viu, não observou, paciência, então solicite ao seu Feitor (a) o seu segredo!  

OS BANHOS DE DESCARGAS OU QUEBRA

Em qualquer “Ritual” na “Religião de origem Africana”, não é realizado nada sem primeiro fazer o banho de descarrego ou de quebra, seja qual for a necessidade, é o primeiro passo para conseguirmos nossos objetivos, quer seja em trabalhos ou na feitura de uma pessoa na Religião Africana.

Antigamente, era normal se realizar em primeiro lugar os banhos de descarrego ou de quebra à uma pessoa; hoje, nem todos fazem esse “Rito”, dizem que é perca de tempo, passam uns pacotes e deu !

A princípio, irei dar um exemplo da importância dos banhos de descarrego ou de quebra: Você é convidado para ir uma festa, primeiro você toma um banho normal de rotina, para depois vestir a roupa nova, certo! Você não coloca a roupa nova em corpo sujo, correto! Está aí ! Porque, na Religião Africana, em primeiro lugar se realiza os banhos de descarrego, primeiro se limpa, para depois se realizar qualquer trabalho ou feitura.

O banho de descarga mais usado é feito com ervas positivas, variando de acordo com os fluídos negativos que a pessoa está carregando e de acordo com o Òrìsà que a pessoa traz no seu “Ori”( cabeça), ou seja, o seu “Olóri.

O banho de descarga com ervas deve ser tomado após o banho de rotina e antes de dormir e, de preferência utilizar sabão da Costa antes, para a limpeza do corpo, após isso, então toma-se o banho de ervas, isto na vida normal e para qualquer realização ritualística.

O banho não deve ser jogado brutalmente no corpo, devemos utilizar uma esponja nova e ir massageando de cima dos ombros para baixo. De modo geral, o banho é feito do pescoço para baixo até os pés, sem tocar na cabeça. A finalidade dos banhos descarrego é: “O banho de ervas é a renovação do “corpo” e da “alma”, pois quando o corpo se sente bem e se acha refeito do cansaço,etc…, a alma fica também mais apta a vibrar harmoniosamente”.

Exemplo: Moisés, o grande legislador hebreu, impôs o uso do banho de ervas aos seus seguidores. Na Índia, há o banho sagrado no “Ganges”.

Em Roma Augusta o banho de ervas era um exercício alegre e dedicado aos deuses, principalmente à “Dionisus e Baco”.

Na África, a água é tida de grande poder, força e de magia. Vemos até hoje as águas de Òòsààlà, no ritual.

As águas das quartinhas e tigelas nos Pejís, além de outras magias com água.

 BANHO DE ÀGBO

 “Abô”

CONCEITO: Água das quartinhas dos Òrìsàs ou de um determinado Òrìsà, contendo ervas sagradas maceradas (Ariorò = líquido; Mace = resíduos das folhas) e de sangue de aves. Serve para banhos purificatórios tanto para “ààbò” (proteção) => (infusão de mistura de folhas para fins medicinais) e também como de descarrego.


Apesar, de ser rito um de alto custo, mas com grande utilidade ritualística, às quais iremos citar algumas no decorrer deste.

O resultado obtido na aplicação do “Àgbo”, são excelentes, até substituindo muitas vezes uma troca, etc…

Outubro mês de Ossanym: “Amáãsi – Omíeró – Omíesé”

“Amáãsi – Omíeró – Omíesé”


E COMO UTILIZAR
AMÁÃSI = (“amáã”= hábito, costume; “si”= pôr para dentro) = Líquido (ariorò) preparado com folhas sagradas, maceradas no pilão ou com as mão, depois adicionando a água da quartinha do qual, Òrìsà estamos preparando o amáãsi, deixando repousar e clareando com velas brancas junto com o “mace”= (bagaço) durante sete dias o “Peji”.


Após, ter passado o tempo de cura é coado e dividido em três partes:


1a) É destinado a banhar a cabeça do iniciado = amáãsi ni ori = ni= em, sobre; ori= cabeça.


2a) Para banhar o Otá e utensílios.

3a) Para banhar as patas e chifres dos animais a serem sacrificados, bem como, as patas das aves.

O grande segredo “Eró” está na composição do “amáãsi”.


As folhas são as do “ Òrìsà, Oló Ilé ”(Òrìsà, dono da casa) + as do Òrìsà da pessoa iniciada + as de Òsónyìn (o deus das folhas).


Este é o banho que chamamos de purificatório na cabeça do iniciante na “Religião Afro-Brasileira.


Quero ressaltar que antes de realizar o amáãsi, o iniciado deverá fazer todos os banhos de limpeza corporal, como o banho de descarrego ou de àgbo, bem como, a limpeza com ave ou carne.


Uma observação muito importante, “nunca devemos cozinhar as ervas do amáãsi”.

As ervas (folhas) deverão ser colhidas ao clarear do dia, pedindo sempre licença ( agò) ao Òrìsà Òsónyìn; logo após, escolhidas e lavadas uma por uma, ao qual o Òrìsà serão empregadas; não existe amáãsi coletivo.


A pessoa ou Feitor (a) que irá realizar este ritual, deverá antes fazer seu banho normal e colocar roupa branca, para depois serem maceradas as ervas no “Peji”.


As mãos de quem faz o amáãsi devem ser bem lavadas e desinfetadas, digo limpas.

Atenção : O ritual de preparar o amáãsi para outrem é pôr já a mão na cabeça de outro.
E para pôr a mão na cabeça de alguém é só o Feitor (a) e é preciso ter Àse e Fundamento, e muita licença.


Porque, em caso de erro, irá repercutir no andamento da “Obrigação” e na vida religiosa da pessoa (iniciante).


Cuidado e cautela, porque, o menor erro no amáãsi poderá produzir distúrbios mentais perigosíssimos, etc…


Não errem para que depois não venham outras pessoas, mesmo de religião, dizer que você errou, ou outros, dizer que o africanismo é uma fábrica de loucos e de pessoas frustradas.


Tem que se ter muita cautela e humildade, pois trata-se do primeiro ritual que a pessoa irá fazer na Religião, e a mesma, deposita muita fé e confiança no Feitor (a), pois o mesmo, deve respeitar o próximo, ou seja, a pessoa cura, etc…

A cerimônia do ritual do amáãsi é colocado com uma jarra ou quartinha (exclusivamente para este afim) lentamente na cabeça do iniciante, e com a mão do Feitor (a) vai aplicando o amáãsi e solicitando tudo bom para o novo filho do Ilé e também chamando pelo Olóri Òrìsà da pessoa; a baixo da cabeça do iniciante, fica uma bacia, para que o preparado não caia no chão.


Depois enrola-se um pano branco na cabeça do iniciante ( uns chamam de “ojá”outros de “tussú” conforme a Linhagem), a partir deste momento, o iniciante, já pode ser considerado um filho de Òrìsà.

O iniciante fica recolhido ao Ilé no prazo determinado pelo Feitor (a); depois o iniciado deve evitar por três dias ter relações sexuais, raios solares, sereno e chuva na cabeça.

Após ter realizado este ritual, o primeiro passo a seguir é realizar o rito do “Oribibó”, está Obrigação, é solicitando à permissão ao Bàbá Òòsààlà e que, o mesmo, entregue a cabeça ao verdadeiro Olóri dão iniciante; este ritual tem que ter os ìgbins (chamado de boi de Òòsààlà) e pombos brancos.


E logo a seguir o ritual do “Óbori”, e assim por diante.